domingo, 30 de dezembro de 2007

Públio Lentulus

"Alma gêmea da minhalma
Flor de luz da minha vida
Sublime estrela caída
Das belezas da amplidão!...
Quando eu errava no mundo
Triste e só, no meu caminho,
Chegaste, devagarinho,
E encheste-me o coração.

Vinhas nas bênçãos dos deuses
Na divina claridade
Tecer-me a felicidade
Em sorrisos de esplendor!...
És meu tesouro infinito,
Juro-te eterna aliança,
Porque sou tua esperança,
Como és todo o meu amor!

Alma gêmea da minhalma,
Se eu te perder, algum dia,
Serei a escura agonia
Da saudade nos seus véus...
Se um dia me abandonares,
Luz terna dos meus amores,
Hei de esperar-te, entre as flores
Da claridade dos céus"

Saudade

O véu do espaço e do tempo eclipsa a visão do pretérito querido. O passado vive no presente, mas não se vislumbram, desnudados, os seus doces contornos... Tudo que se alcança são sensasões leves, mas substanciais, como se viessem propriamente do manancial de felicidade da vida. Os astros celestes se interpõe entre a luz e o degredo. Uma saudade indefinita, sem objetos precisos, comprime as fibras etéreas da alma, que desfia, na sucessão de sóis e luas, um rosário de nostalgia, indefinições e melancolia. Os espelhos, por vezes, afiguram-se estranhos no seu reflexo e me deixam detido e genuflexo. Então me ocorre que a essência da verdade não está na face fria, imediata e polida dos espelhos. A verdade só se alcança com um exercício profundo de abstração, que requer séculos de lágrimas, dores, testemunhos, sacrifícios, renúncias, enfim, provas e espiações que compõe o aprendizado da alma eterna em evolução. E na esteira desse caminho, é preciso mirar, do mundo transitório, o mundo maior, bem como a sua causa primeira, seguindo, com alta fé, na redentora travessia das portas estreitas da existência. Depois do crepúsculo da vida, anseio encontrar com a fonte que me inspira essa saudade misteriosa.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Piedade

Outro dia minha filhinha de cinco anos viu vários bodes amarrados no chão, colocados juntos um do outro. Eles berravam sem parar, passando às almas mais sensíveis a impressão de que faziam um apelo diante daquela situação humilhante em que se encontravam. Tanta foi a comoção da minha pequena rebenta com aquela situação - que se afigurava penosa aos seus ingênuos olhos - que ela disparou a chorar, piedosa e convulsivamente. Eis aí um gesto puro de amor à criação divina: vindo de uma criança e relativamente a um ser diferente de sua espécie. Devassando os escaninhos de minha memória, acode-me à lembrança a minha postura diante dos animais que eram sacrificados em casa de meus pais, nos venturosos dias de minha infância, para o deleite dos paladares domésticos. Não raras vezes escondia facas, esperneava, protestava, para que não navalhassem o pescoço depenado das galinhas. E como último apelo, chorava, em vão. Não lembro de ter demovido uma única vez minha mãe de tais intentos, mais eu atrapalhava a morte desses animais, dando-lhes uma pequena sobrevida. Eu e minha filha, por óbvio, somos pessoas diferentes. Todavia, há inúmeros pontos de intersecção entre nossos caracteres afins. Um deles é o sentimento que temos pelos animais. Talvez o que ela sinta hoje, diante de qualquer ameaça a um animalzinho, seja parecido com o que eu sentia outrora: piedade profunda. Quem sabe ela será admiradora do Poverello de Assis, assim como eu, e talvez oculte objetos cortantes e vá até mais longe, sendo vegetariana, uma vez que os filhos, em tese, devem ser melhores que os pais, assim como "o bom discípulo é aquele que supera seu mestre".

Arte do diálogo.


É uma arte essa a do diálogo. Face a face. Olhos no olhos. Assim os interlocutores se postam. Uns perdem tempo com futilidades, daí as fofocas. Outros se sentam para tratar assuntos de alta relevância, como o destino de nações, de vidas ou da economia. Tudo é diálogo. Há até o diálogo consigo mesmo: um monólogo silencioso, a alma diante do espelho implacável da consciência. Alguns usam as palavras como as roupas: deixam-nas ganhar o ar e os ouvidos próximos livremente, como deixam cair suas vestes sobre o corpo. Manda a prudência que assim seja apenas entre amigos. As outras ocasiões requerem a formalidade cordial e polida. Em todo caso, quando se abre o diálogo, nossa discrição fica imediatamente posta à prova. Os que conseguem conter os ímpetos da língua, dormem mais tranquilos do que aqueles que, de senhores, passam a escravos das palavras que não conseguiram represar, atendendo ao extravasamento inconsequente de sentimentos ignóbeis. Não se reconhece outra melhor e mais eficaz maneira de se solucionar lides que não seja essa a do diálogo. Ainda quando um dos contendores não mostra disposição, continua sendo a melhor saída, exigindo-se mais, em tais casos, da parte do que se vê disposto, que maior empenho deve empregar na arte do diálogo. Dialogasse-se mais, desde o núcleo familiar até os encontros diplomáticos mundiais e teríamos um mundo melhor, pois o diálogo, inegavelmente, assenta as bases de entendimento, fortalecendo a lucidez e permitndo que se veja claramente a solução das querelas, antes obscurecidas pelo véu da dúvida e das incertezas. É preciso saber triunfar com a sabedoria das palavras: eis a arte do diálogo.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

"Aos quinze anos, tudo é infinito" - Machado de Assis

Eis uma afirmação tão verdadeira quanto contundente, que até merece ser laureada com o título de aforismo. Os hormônios exercem um imperativo profundo sobre o psiquismo dos indivíduos, sobretudo na adolescência. Mais amainado e um pouco mais lúcido, hoje percebo claramente a influência que esses tiranos tiveram em alguns desatinos de minha juventude. Nos casos mais graves, que as vezes testemunho, não posso aduzir outra coisa senão que muitos adolescentes são "hormônios com pernas".

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Diferença


Em que uma pessoa açodada difere de um espelho?

Simples.

Um espelho reflete sem falar.

Uma pessoa açodada fala sem refletir.

Vencedor

Não que o triunfo jamais prescinda da sorte: não raras vezes, esta é um componente fundamental para a concretização daquele. Todavia, é muito frequente que o triunfo seja laureado pela força de vontade,por sacrifícios, pela perseverança e pela capacidade de se levantar depois das quedas e recomeçar. Uma das tomadas da Sétima Arte que bem ilustram esse entendimento, é a que se encontra logo abaixo: inesquecível e sempre motivadora!

Lágrima


Uma lágrima solitária, desliza tão pequena no latifúndio de um rosto. Parece que ela leva um cristal rutilante (seria a esperança?), no seu volume que se esvai cada vez mais enquanto rola, deixando a sua substância num rastro que navalha o seio da face. Rebenta do sentimento, triste flor do imo da alma, quão profunda e rasa é a lágrima, que condensa, na sua frágil estrutura e fugaz existência, as impressões mais sentidas do ser. Dor e tristeza, gozo e alegria, a lágrima comporta as antíteses da vida, como expressão sublimada do extremos. A lágrima é pura, mesmo quando filha do amálgama dos sentimentos e é uma das formas mais intensas de comunicação, quando o silêncio se faz um imperativo às vozes do coração.

Comentário

As horas passam, cada instante é único...Entretanto, os minutos sempre são outros, se renovam e abrem a possibilidade de encetarmos aquilo que era para ser e que ainda não foi porque, muitas vezes, somos inermes quanto às ações, não damos braços e pernas aos nossos pensamentos, isto é,não damos azo as conjeturas montadas na órbita de nossa mente.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Pessoas (de um jeito ou de outro) emblemáticas.

Uma das personalidades mais polêmicas do ano que ora se finda, a meu ver, foi o Padre Pinto. Com suas contundentes perfomances artíscas de dança, singulares expressões de sincretismo religioso no altar da Igreja soteropolitana da Lapinha, ele conquistou a simpatia de alguns sectários do catolicismo e a oposição ferrenha de outros. Uma personalidade controvertida, que virou notícia nacional. Alguém sabe por onde anda?


domingo, 16 de dezembro de 2007

Índia, Brasil e Religião.

Certa feita entabulava conversa com um amigo economista, a qual versava sobre a violência no Brasil. Ele me disse algo interessante. Índia e Brasil são países que tem alguns aspectos em comum: ambos são economicamente emergentes e despontam como economias promissoras. Todavia, ainda enfrentam graves problemas sociais, como a pobreza/miséria de grande parcela de suas populações. Mas na Índia os índices de violência são menores do que no Brasil. E ele me informou que sociólogos creditam essa diferença positiva em favor da nação oriental à influência direta e marcante da religião na vida das pessoas. Nesse aspecto, as tradições religiosas do Brasil e da Índia são completamente diversas. Isso me abriu o campo das reflexões sobre o papel social da religião lá e cá na tarefa de construção de uma sociedade melhor, leia-se, mais pacífica. No país das castas sociais, goza a religião de um papel central na vida dos indivíduos sendo, pois, um componente basilar. A cá, um componente secundário, ou terciário ou, assim sucessivamente, como queira o leitor arguto ajuizar. Uma sensação me ficou: a de que a Índia está ganhando do Brasil.

Chiquinha

Não raras vezes adoço o meu dia com as risadas provocadas por lances hilários do Programa do Chaves. Minha esposa detesta o Chaves. A cada vez que ligo a TV para assistí-lo na companhia de nossa pequerrucha, só ouço os rumores de seus resmungos que são proferidos do cômodo da casa aonde ela se encontre: "Começou a tortura!", "Vixe!" e outras expressões sempre acompanhadas de interjeições são comuns de sua parte. Ela também não suporta o Hugo Chávez(s), o Presidente (ou ditador-ainda-não-consumado) da Venezuela. Indagada sobre o porquê dessa ojeriza aos "Chaves", ela retorquiu dizendo que este é um falastrão, um perseguidor...sobre o outro, o do programa de humor, ela disse que não vai com a cara dele porque ficou sabendo que o ator que faz o Chaves, na vida real, não é boa pessoa. Minha esposa confunde o menino Chaves com o Roberto Bolaños, mistura ficção com realidade. Entendo que seja uma forma de protesto contra a personalidade do executivo da Televisa. Ela não sabe - ou não quer - separar o Chaves do Bolaños. Por minha vez, eu já consigo fazer isso. Já ouvi denúncias sobre a ganância do Bolaños, mas isso não interferiu na audi~encia que vez por outra consagro ao programa. Quando assisto ao Chaves, vejo o Chaves e não o Bolaños. Chaves é Chaves. Bolaños é Bolaños. Dito isto, passo ao assunto mote do título, agradecendo a já costumeira paciência do leitor. Aula do professor-fumante Girafales. Tema: primeiros socorros. O mestre inquire da Chiquinha porque devemos, ao identificar uma pessoa infartando, colocá-la deitada. A levada filha do Madruga dispara:
- Para que vá logo se acostumando ao caixão, professor.

O culto da calma

A calma é um dos atributos da alma humana do qual aqueles que semeiam a paz não podem prescindir. No torvelinho das agitações mundanas, em que estamos sujeitos à recepção de problemas de vária ordem, a calma representa um componente fundamental na estruturação do equilíbrio emocional adequado que a pessoa deve ostentar para estabelecer um roteiro seguro de resolução das lides que se apresentam. Quando recebemos o problema com calma desde o seu início, sem nos perturbarmos com o que quer que seja, recrudesce a possibilidade de o solucionarmos exitosamente. A calma desarma os desajustados, é a luz que guia os passos num caminho acidentado, é o alicerce do equilíbrio moral que devemos ter diante das ignomínias. Quantos não se arrependem por não terem empregado os recursos dessa jóia do comportamento humano em lances onde o seu brilho se faz necessário? Quantas palavras destruidoras poderiam não ter sido ditas se a calma houvesse sido empregada? E nesse particular, importar reconhecer que nós somos, a cada tempo, senhores e escravos delas: senhores, antes de pronunciá-las; escravos, depois que as silabamos. Todavia, o cultivo da calma no jardim do nosso coração requer muito a concentração e o emprego da nossa vontade. O campo das experiências humanas frequentemente nos oferta as possibilidades de emprego desse bem espiritual afim que possamos trabalhá-lo em nossa alma, aperfeiçoando-a e, assim, embelezando o nosso caráter. Com a calma, nos tornamos o referencial de apoio para os que nos rodeiam, colaborando para os serviços da paz no mundo. Portanto, que tu recebas a tudo com calma e não esqueças de suportar a tudo com a devida paciência.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Luz na linha

Não saberia explicar, até mesmo porque nunca vi e, se a visse, ainda assim grande seria a possibilidade de não explicar. Apesar de que um dia, ainda criança, afoitado, debandei, no crepúsculo, a linha do trem, que navalhava, de uma ponta à outra, as terras do meu avô materno. Fiquei até um pouco depois do anoitecer e regressei à casa de vovô cabisbaixo de medo, com os olhos enfiados no chão e nos pés. Ainda era deveras cedo. Num horário como aquele, a luz ainda não houvera partido para percorrer, misteriosa, o mesmo leito do trem. As pessoas do lugar é que propalavam essa informação: a de que todas as noites, a partir de um determinado horário, uma estranha luz, supensa no ar, em forma de bola, acompanhava lentamente a linha férrea. Eu queria ter visto a luz da linha, mas não sabia que, criança, não tinha coragem pra isso. Teria a graça de uma borboleta bailando no ar? Qual seria sua verdadeira dimensão? Como era afinal de contas essa tal "luz" que eu perseguia com a imaginação, mas que se afastava de mim a cada nova interrogação sobre a sua natureza? Até hoje o mistério está posto, palpitando em mim. Do terreiro frontal de suas casas - casas antigas da RFFSA, hoje inexistentes - a gente do lugar suspendia as conversas regadas à café para assistir à passagem dela, uma passagem que me disseram lenta e impertubável, até que se perdia das vistas no horizonte. Vez certa disseram que quando alguém demandava a sua mesma direção, só que em sentido contrário, quando perpassavam a luz, nada viam, simplesmente a atravessavam e, quando voltavam o olhar para trás, lá ia ela, flutuando graciosamente no ar, seguindo seu destino tão ignorado quanto sua origem. Noticiou-se que à epoca da construção da ferrovia, muitos operários perdereram a vida na obra, o que me levou a cogitar se a luz não seria a sobrevivência revelada de alguém que se foi desta vida e que ora percorre o lugar com um lampião, para fiscalizar a obra. O que não cogito é que hoje a linha do trem jaz inútil, com seus milhares de metros de trilhos de ferro, seus dormentes roídos de cupins e seus pregos eternos. Talvez um dia ainda vá eu ao lugar, para registrar o fato, se puder testemunhá-lo, se ainda hoje percorrer a linha do trem a luz misteriosa da noite, impregnada da natureza fantástica das lendas e do fascínio singular do que é incomum neste mundo.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Bandido: o injustiçado social...

Ou muito me engano ou, em nosso país tropical, salpicado de belas paisagens cortadas por balas perdidas, com terras manchadas do rubro sangue dos inocentes, adornadas por fontes jorrantes de lágrimas de dor, eles, os bandidos, ou marginais, ou desviados sociais, ou foras-da-lei ou meliantes, ou como queira a vossa sapiência a melhor designação, são vistos, por certas autoridades da "esquerda" brasileira, ora no poder, como "injustiçados sociais". Observai quanto perigo há condensado nessa consideração que move silenciosamente, em fenômeno que mais se assemelha a uma hipnose, as ações envidadas por alguns agentes publicos das três esferas de poder, relativas à medidas de repressão à violência nas terras "descobertas" por Cabral. A lógica cartesiana explica o caso, dentro das proposições doravante elencadas. O bandido é um injustiçado social. A injustiça social é culpa do Estado. Logo, o Estado é quem "força" o bandido à criminalidade e, como tem autoconsciência de suas falhas, quer abrandar o seu erro não punindo os criminosos à moda ianque, que só não é exemplar na pena de morte. E as vítimas das condutas penalmente tipificadas: caluniadas, furtadas, espoliadas, roubadas, sequestradas, estupradas, mortas etc...? O Estado-Humano, parido pela Ditadura Militar - que morreu no parto - não faz o reconhecimento positivo delas. Ai de todas, que um dia pode ser o nosso ai. Muitos que fazem a Justiça cega, também a fazem muda e surda e lenta: a sensação que temos é que as vezes se faz justa, mas raras vezes. Leis penais e processuais penais que já pedem aposento, de tão senis e incompatíveis que estão com a realidade desses novos tempos: ah, os criminosos galhofam da Polícia, da Justiça e do Ministério Público, se escondendo num labirinto de recursos e outras regalias legais, que os fazem "intocáveis", "invioláveis", "inocentes" até que a setença os separe da vida reta e proba. E as polícias estaduais, ostensivas e judiciárias: seus agentes/soldados, na grande maioria das unidades federadas, não têm aparelhamento adequado para operacionalizar o combate ao crime e não recebem treinamento qualificatório nem um salário digno para oferecerem, cotidiariamente, sua cara à tapa da morte. Por essas e outras e muitas outras, é que muita coisa precisa mudar nessa terra tupiniquim, para garantir índices toleráveis de violência, já que essa mesma, é própria da espécie humana e só chegará a termo se ela entrar em extinção. Ouvimos promessas, cantilenas e nada muda, o pesadelo é o mesmo, todos os dias, basta ligar a TV. Até quando?

domingo, 25 de novembro de 2007

Desenho animado

Tudo é relativo nesse universo onde só Deus é Absoluto. O que é trivial para alguns, é essencial para outros. Mas raríssimas pessoas atentam positivamente para essa verdade, vendados que estão os olhos da alma pela pior das chagas morais: o egoísmo, raiz de todas as demais mazelas do espírito. Há pessoas que para compreender as privações do próximo precisam apenas de um exercício de abstração; outras, carecem conferir "in loco" a situação para poderem se sentir tocadas; e há ainda aqueles que nem de um jeito nem de outro se sensibilizam para a causa alheia. A felicidade de alguém, muitas vezes, está em algo de que você dispõe com tanto costume que nem se dá conta do imenso significado que aquilo possa ter para alguém. Poucas coisas comovem tanto quanto testemunhar as privações de uma criança resignada. Seja pela inocência, seja pela tenra idade que não a permite ainda lutar para ter aquilo que quer, ver uma criança carecer de algo, na maior parte das vezes, desejo simples de ser satisfeito, dói verdadeiramente dentro de nós. Como outro dia, assisti na TV uma criança cujo sonho é ver desenho animado numa televisão. Ah, criança, quanta verdade há nesse teu desejo, quanta pureza há nessa tua tua singela vontade! Teus olhos brincariam junto das personagens e tu serias arrebatada ao próprio enredo do desenho, num lance onírico, para a tua lembrança inolvidável! Mas o que te assoma, criança, é uma realidade sem a cor dos desenhos animados, uma vida que passa em preto-e-branco...mas tu, ser sem mácula num mundo tisnado de injustiças, tu não maldas que há pessoas queimando as retinas diante de TVS de plasma, programando a mente com informações tolas, nem que há gente que liga a TV que tem em casa e põe diante de si um jornal escrito ou simplesmente vai dormir. Pudera elas sonharem contigo criança... mas ainda assim não seriam capazes de dimensionar o infinito que está na essência do teu desejo. Mas um dia, criança, um desenho animado vai te subtrair um pouco ao semblante o sofrimento a que um histórico sistema social injusto te condena: será o dia da consumação do teu sonho singelo, em que a tua vida irá ganhar um pouco de colorido.

Brasil, zil, zil...

Mulheres, menores inclusive, obrigadas a dividir cela de delegacia com homens no Estado da Carepa: isso é tão absurdo quanto foi a carnificina dos cabanos! Brasil, zil, zil...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Violência no Brasil

Está claro para todos: a violência só recrudesce no Brasil. Enquanto somos reféns dessa chaga social tão amarga, enquanto tantas pessoas choram a perda de entes queridos, enquanto as notícias de crimes absurdos se sucedem nos jornais a cada dia, enquanto a violência migra dos grandes centros para o interior, antes pacato, não se vislumbra, por parte do Presidente da República, nenhuma providência mais enérgica. É preciso que o Chefe do Executivo chame para si essa responsabilidade. Urge que ele capitaneie uma verdadeira cruzada contra a violência no país. Programas mais eficientes de inclusão social pelo emprego, investimentos em educação básica potencializados e mais outras medidas de largo alcance social, tudo isso consorciado à modificações nos Códigos Penal e de Processo Penal, modernização do aparelho policial dos Estados e investimentos no Poder Judiciário, são medidas imprescindíveis. Espero estar vivo pra ver se vai surgir alguém que tome para si uma resposabilidade tão grande.

Fenômenos Estranhos - II

Acontecimentos fora da nossa órbita de compreensão sempre exerceram um certo magnetsimo sobre minha atenção. Fosse pelos meios de comunicação ou pelo que corria à boca miúda entre os conhecidos, costumava ligar importância a fatos dessa natureza. No íntimo, guardava certa impressão de que talvez não chegaria a testemunhar, in loco, algum evento assim. Pois essa impressão íntima foi contrariada. Os pilares que lhe davam sustentabilidade foram minados por força de uma ocorrência intrigante que envolveu a mim e a um querido amigo de infância. Vamos nos encontrar na segunda metade dos idos do ano 2000. Preparavamo-nos, eu e este amigo, para enfrentar a terceira e última das etapas de um concurso público do qual estávamos participando. Estavamos em Teresina, bem na véspera dos exames que iriam aferir as nossas condições físicas para o emprego que pleiteávamos com ansiedade. Gentilmente nos foi oferecida hospedagem no apartamento de um conhecido nossso, e também dileto amigo dos tempos áureos de infância. Foi ali que ficamos concentrados, à espera do dia decisivo. Com serena confiança a embalar-me as esperanças, foi que suportei o assédio implacável da expectativa. E quando a noite deitou o seu manto ponteado de estrelas fulgurantes sobre a Chapada do Corisco, demandamos, eu e meu amigo, o aposento que havíamos de dividir naquela oportunidade. Aquela, para a minha sorte, não foi uma noite longa, vez que dormi bem. Houvera acordado muito cedo, com as primeiras claridades matutinas. Longe de estar modorrento, achava-me lúcido, senhor de meus pensamentos e de minhas impressões à cerca da realidade exterior. Alimentando certa expectativa em torno do que iria acontecer dentro das próximas horas, desfiei um rosário de cogitações no meu campo mental. Enquanto isso, jazia meu amigo em seu leito, entregue ainda ao sono. Em dado instante, pensei:
- Vai dar tudo certo, meu Deus!
Para a minha surpresa, assim que silenciei em pensamento, meu amigo disparou, em voz alta, dormindo:
- Não se preocupe não, "Herquinho", vai dar tudo certo!
Depois, tornou a dormir sono silencioso.
Fiquei intrigado, reputando o fato por fantástico.
Quando meu amigo despertou, minudenciei-lhe o ocorrido; ele asseverou que não se lembrava de nada.
Como podia ele ter-me feito aquela afirmação de incentivo, se não disse verbalmente a ele, naquele momento, da minha expectativa?
Ao encetar uma afirmação verbal e de bom som, relacionada exatamente àquilo que eu estava pensando e imediatamente após eu ter pensado, é porque ele, de algum modo, teve acesso ao meu conteúdo mental. Por que processos isso ocorreu, eu ignoro.
Deu tudo certo naquele dia, em que a alegria da aprovação garantida amalgamou-se um pouco às impressões de surpresa do primeiro fenômeno intrigante que aconteceu comigo.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Fenômenos estranhos I

Sem exceção, todos nós já ouvimos histórias a respeito de fenômenos estranhos, fatos inrigantes que contrariam a ordem natural das coisas e que, por essa razão mesmo, são denominados "sobrenaturais". Há registros de tais fatos em todas as épocas da história humana, abrangendo todos os povos. Quando passam ao domínio popular, as notícias de acontecimentos "sobrenaturais" frequentemente se transformam em mito ou em lenda e é exatamente nessa circunstância que elas recrudescem em fôlego, tomando força para varar o tempo e atravessar as sucessivas gerações. Dos oráculos da Antiguidade Clássica às lendas urbanas hodiernas, importa observar que acontecimentos assim tem significativa força de atuação sobre o imaginário coletivo. Ao passarmos para a esfera de consideração da mentalidade individual, notamos que esses eventos tem o poder de influenciar sobremaneira aqueles que, tal qual os homens medievos, aceitavam apenas a fé como recurso para a explicação e entendimento dos fênomenos. Refletindo acuradamente sobre a propriedade e justeza do termo "sobrenatural", obtempero que ele não seja aquele que se preste de modo mais adequado para designar tais acontecimentos estranhos à nossa compreensão. Se algo, mesmo que inesperado, por mais estranho ou fantástico que seja, se consuma, é porque o seu desdobramento é potencialmente possível dentro do campo fenomenológico. Destarte, sob esse prisma, o "sobrenatural" seria nada mais do que o "natural" - ou o perfeitamente possível - ocorrendo por meio de processos cuja compreensão a nossa inteligência, simplesmente, ainda não é capaz de abarcar. A ciência, no curso de evolução do pensamento racional tem jogado luzes na compreensão dos fenômenos naturais. Dessa forma, muitos mitos e lendas têm sido desconstruídos, sobretudo a partir do Renascimento e do Iluminismo, quando as vozes lúcidas da razão se insurgiram contra o misticismo religioso produtor de conhecimento equivocado que se fazia cristalizar na figura de inúmeros dogmas antológicos, como é o caso do Geocentrismo. Nesse diapasão, grandes cérebros da ciência, como Galileu Galilei foram amordaçados à força pelo Tribunal do "Santo" Ofício. Outros tiveram seus corpos incinerados, simplesmente porque não abjuraram de suas crenças, como é o caso de Giordano Bruno (que morreu na fogueira com tábua e pregos na língua, para parar de "blasfemar"), outra vítima dos extremos praticados pela nefanda censura eclesiástica envidada pela Igreja Católica. Feita esse breve, simplória e despretenciosa análise do tema em tela, narro em seguida um fato estranho ocorrido comigo, há sete anos e para o qual, até hoje, não encontrei explicação.

Godines

Outro dia assistia ao velho e bom "Chaves". O professor Girafales ministrava uma aula de anatomia aos seus alunos e perguntou ao Godines em quantas partes se dividia o crânio humano.

- Depende da marretada professor!

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Tempestade

Minha saudosa avó comentava que tinha muito medo de chuva com raios e trovões. Eu via certo exagero naquele pavor todo que ela dizia sentir e me gabava dizendo que eu mesmo não tinha medo disso não. Todavia, com a minha mudança para Teresina, esse meu parecer mudou da água para o vinho, ou seria melhor dizer: da segurança para medo...No natal de 2003 tive a minha primeira experiência de medo provocado por uma tempestade com descargas elétricas e trovões. O rimbombar desses era escandaloso e a sucessão rápida daqueles na atmosfera, fazia o céu piscar. Nunca mais esquecerei as impressões daquela noite em que passei a concordar com a minha avó. Entretanto, quando eu pensei que havia presenciado a pior das tempestades, eis que na primeira quinzena de novembro de 2007, Teresina se confirma mais uma vez a meus olhos como a "Chapada do Corisco". Era próximo da meia-noite quando acordei com um barulho estrondoso. Atordoado ainda, notei que se apagara a luz do quarto e, segundos depois, outro estrondo poderoso varou a noite. Até então não percebera que estava chovendo e a primeira coisa que me veio à cabeça para explicar o que estava acontecendo foi que se tratava de um acidente com a rede elétrica local. A essa altura, minha esposa já havia se refugiado nos meus braços, à procura de proteção. Pedi que ela se acalmasse, mas ela não conseguia conter o pavor que lhe tomava conta. Instantes depois, quis sair do quarto, para saber o que estava sucedendo, de fato. Pedi que ela ficasse, mas ela teimou em me acompanhar. Àquela altura, sua cabeça estava atordoada pelas mais temíveis explicações para aquelas duas explosões. Uma delas, escatológica, apontava para a consumação em andamento do Armagedom: "Deus está nos punindo", advertiu ela, entre o receio e o pavor. "Foi um avião que caiu", disparou em seguida, como que tentando adivinhar a ocorrência. Enquanto nos encaminhávamos para a sacada do apartamento, ela dizia que um meteoro havia caído. Eu reconhecia a estranheza da situação e o medo que ela inspirava em minha esposa, todavia estava tomado de serenidade, passado o susto primeiro, e continuava a alimentar a tese de fogo na rede elétrica. Então conseguimos, antes de chegar à sacada do apartamento, divisar o barulho singular da chuva. De olhos acesos como faróis, deitamos a vista atentamente sobre as redondezas da nossa habitação. Não distinguimos claridades de fogo, nem fumaça. Não se tratava de um punitivo divino em retaliação aos desvarios da humanidade, em consonância com as Escrituras Sagradas, como chegou a crer minha esposa. Nada de avião quedado, nem meteoros desvairados que abandonam suas órbitas seduzidos pela irressistível gravidade terrestre. Aquilo tudo foi pavoroso para ela e de princípio atordoante para mim, precisamente porque era apenas uma tempestade e nós não havíamos chegado a acreditar, até aquele momento, que um fenômeo atmosférico pudesse gerar tanto barulho como foi aquele produzido naquela noite por duas estridentes trovoadas. Tudo esclarecido, a chuva continuou a cair, sem mais trovoadas dignas de menção, na noite que piscava, deixando entrever, à vista rápida, sua bela face.

"A poesia é a voz dos sentimentos humanos mais profundos" - Neruda

Ouro

Ouro que embriaga
Alma desprevenida
Quanto vício, quanta chaga
Quanta vida mal vivida

Metal do puro engano
Da real ilusão
Rendem-te querer profano
Envenenando o coração

E quando vem a morte
De todos a certa sorte
Ai do cobiçoso e egoísta

Mal seu olhar se cerra
Nem bem lhe cobre a terra
Nenhum bem lhe apraz a vista.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Down em mim

"O banheiro é a igreja de todos os bêbados"

Agenor Miranda de Araújo Neto
"Cazuza"

sábado, 13 de outubro de 2007

Mais ensaio de poesia

Inércia

A tarde se fechou sob um ângulo estéril
Sem brisa e sem crepúsculo
A Terra não moveu qualquer músculo
No império da inquietude na quietude
Em meio às sombras intangíveis.

Nenhuma cólera relampejou
E os pássaros de canto hirtos ficaram
Na revoada que o céu retalha
Sem norte certo, acelerada
E tímida e desconcertada.

Onde as ondas do mar?
Onde os faróis que não pestanejam?
Onde a alegria dos que festejam?
Onde a dor concentrada dos hospitais?
Ninguém sabe onde.

Olhos sôfregos do mundo
O tempo repousa quieto
Nas folhas que o inverno esqueceu
Quem tinha medo não tremeu
Diante das bússolas mortas.

A noite tarda, na tarde infinda
Tarde um dia tão linda...
A luz aureolada dos anjos não vingou
Intumescendo os olhos vagos que vão
Nos vagões da vida que se entregou.

Liras, arpas, violões calados
As canções se perderam
No escuro esquecimento
Das mentes soberbas
Agrilhoadas ao espanto do presente.

Ninguém vê, ninguém oscula, ninguém sente
Pernas caminham, perambulam dementes
Em todo agora vão caminho
Salpicado de diamantes sem luzir
Na ambição agora morta dos homens.

Mas é na rouquidão do pretérito
Que o sonho se acha escondido
Ruminando o desejo da vida
Numa lide indefinida
Que opõe o caos e o sentido.

Ensaiando poesia

Entranhas


A dor reflete no espelho carrancudo
A soma dos milagres que o tempo não fez
Entregues a explosiva mudez
Os símbolos jazem surdos
No véu senil das aranhas.

O tempo fechou-se aos colóquios
E um rosário de medo assoma
Os espíritos inadvertidos
Na louca culpa dos inocentes
Na triste senda dos pervertidos.

Não há qualquer luz ou qualquer sombra
A ruir a morbidez estentórica
Das esquinas ermas do tempo:
Um grito poluído de tormento
È quem dita, ríspido, o destino.

Não vingaram auroras nem crepúsculos
Na trilha vaga, imantada de enigma...
Não há Éden nem Abismo
Nesse caminho perdido
De espaço maleável e tempo fugidio.

Agruras tisnam a corrente do rio
Sob o céu de espelhos invisíveis
Sim! As intempéries intestinas
Não vacilam, só oscilam, de chofre
As erupções loquazes e frêmitas dos homens.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Reflexão sobre o Brasil - Parte II

De quem é a culpa das mazelas existentes no Brasil? Das circunstâncias históricas que forjaram a nossa composição como nação? Em parte sim, não há como desprezar essa variável; mas há bastante tempo que a responsabilidade pelos problemas tupiniquins deixou de ser devida centralmente a isso. A resposta mais adequada aos tempos atuais é a de que a culpa é coletiva. Isso mesmo: todos nós devemos partilhar essa culpa, essa responsabilidade, não importa a posição que tenhamos dentro do tecido social. E ao considerarmos a justeza dessa colocação, nos deparamos com um paradoxo de assombrar: quando a culpa é de todos, parece que é de ninguém. Isso se reflete na indiferença nossa de cada dia às feridas que cotidianamente são abertas no corpo da nossa nação. Nos portamos confortavelmente à frente da TV e, ao nos depararmos com casos escabrosos, ficamos até indignados, bradamos impropérios, xingamos os políticos... mas é só: tudo é de momento. Basta um simples toque no botão off do controle remoto e olvidamos tudo, como num passe de mágica. É como se desligar a TV sepultasse os fatos ignominiosos nos recônditos mais obscuros da nossa memória. O comodismo, infelizmente, é uma das chagas do povo brasileiro, sobretudo no que diz respeito àqueles que possuem mais ilustração e preferem se conservar sentados em suas poltronas aveludadas à envidarem ações práticas contra o que consideram absurdos nacionais. Multiplicam-se tanto aos nossos olhos e ouvidos os fatos repugnantes, que a nação hoje é assolada pelo fenômeno da banalização pela TV. Banalização dos escândalos políticos de corrupção, banalização da violência, banalização da fome, da pobreza, da injustiça, das pessoas morrendo no trânsito ou por falta de atendimento nos hospitais da rede pública. Para grande parte do povo brasileiro, o absurdo e inadmissível se tornou singelamente "comum". Aqui cabe uma reflexão um pouco mais profunda do caso. O que acontece é que aquilo que não é comigo é o que se torna comum. Há verdade nisso. Tanto que quando o fato absurdo recai em desfavor de nós próprios ou de nossos familiares ou amigos mais íntimos, é frequente o uso da expressão: "a gente pensa que isso nunca vai acontecer com a gente".

Ela sabe bater...mas não sabe apanhar.

Reflexão sobre o Brasil - Parte I

Um país colossal, de dimensões continentais. Aqui a maioria das terras é fértil, o clima, a todo modo, é agradável. Há abundância de água doce em rios, lagos e lagoas encantadores. Florestas soçobram, exuberantes, tais como a fauna diversificada que nelas habitam. Conservamos, enfim, o potencial magnífico de nossa natureza, já reconhecido desde a época do aporte lusitano em nossa terra e expressado por Caminha. Aqui também vive um povo, em sua maioria, simples e bom, que reúne em torno de si qualidades admiráveis como a humildade, a esperança, a alegria, a disposição para o trabalho, o sentimento religioso, a honestidade, a caridade, dentre outros predicados mais, o que cada um de nós pode facilmente constatar, bastando, para tal, mirar no círculo de nossos relacionamentos sociais. Neste torrão, há plantado o embrião do sistema democrático, elemento indispensável às nações que almejam um futuro promissor de desenvolvimento sócio-político-econômico, tal qual pode ser verificado nos mais adiantados países da esfera terrestre. Rápida reflexão histórica nos remete à consideração de que "nascemos", como unidade territorial e social, sob a égide da exploração européia, notadamente portuguesa e inglesa, no contexto da expansão marítimo-comercial dos países do Velho Continente e de expansão do sistema capitalista. O Brasil, portanto, na figura de seu povo, enfrentaria, no transcurso de sua história, dificuldades de grande monta para reparar toda a sorte de prejuízos gerada pela presença européia aqui, presença essa que tinha como pano de fundo a missão "civilizatória", justificada sobremaneira pela Igreja Católica. Ao longo do tempo, as sucessivas gerações do povo brasileiro são vítimas de sistemas sociais injustos, operadores da exclusão e do preconceito sociais, características profundamente marcantes da sociedade brasileira. Para os dias hodiernos, a realidade, em essência, é a mesma. As formas de exploração dos sistemas sociais injustos há muito implantados no campo da sociedade brasileira, e que fazem germinar o mais graves problemas que assolam a nossa nação, apenas se modificaram com o passar das décadas, moldando-se de acordo com o quadro da época. Com a a maior parte do povo historicamente alijada do processo educacional, com um sistema que inclue leis as mais das vezes antiquadas e um aparelho jurídico e policial inepto, a sociedade brasileira ainda agoniza sob as fortes dores causadas por suas chagas sociais. O esquema de poder tripartite ainda não conseguiu, através de seus entes institucionais, impor eficazmente a sua presença em favor decidido do povo do Brasil. Basta ligarmos a tv e assitirmos a alguns minutos dos telejornais, para logo entabularmos contato com as mais variadas naturezas de corrupção, seja no Executivo, no Legislativo, ou no Judiciário. E esses casos se dão em praticamente todos os escalões desses poderes, envolvendo uma grande soma de autoridades constituídas. Todavia, esses episódios, tal uma praga que avança voraz sobre uma lavoura, só tem se repetido, pois com o decurso do tempo, o aparelho tripartite criou uma redoma de blindagem para proteger, em tese, as funções públicas, mas que, na prática, protege àqueles que exercem essas funções. Um exemplo: a figura jurídica do foro privilegiado. Nesse diapasão, a impunidade grassa em nosso país, tisnando as instituições democráticas e tornando-as debilitadas e desacreditadas e, ainda mais, animando a multiplicação de casos de corrupção, pois cá nessas nestas tropicais não resta assegurada a expectativa e a certeza da punição para aqueles que cometem crimes.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Paulo de Tarso

Saulo: era assim que se chamava um dos maiores perseguidores da causa cristã que, às portas da cidade de Damasco, conforme a tradição bíblica, avistou-se com Jesus e, a partir desse encontro, que transformou para sempre o seu íntimo, o orgulhoso judeu, membro do Sinédrio de Jerusalém, entrou na cidade, foi batizado com o nome de Paulo e tornou-se o maior propagador da fé cristã no período, levando-a aos povos gentios, idólatras. Graças as missões apostólicas desse homem de inteligência notável e personalidade forte, o cristanismo espargiu-se em outras direções, ganhando muitos sectários. Admira-me a personalidade deste 13º apóstolo, como tão bem cunhou Humberto Rodhen. Entabulei contato com ela por meio da magnífica obra "Paulo e Estevão", psicografada por Chico Xavier, a qual humildemente recomendo. É impossível não se emocinar com a obra, que traz ricos relatos históricos acerca do cristianismo primitivo. Gravei inúmeras passagens, inolvidáveis, no campo da memória. Uma delas foi: "Cada um aceita a verdade como pode; pensa, pois, e a entende como puderes". A mudança de "Saulo" para "Paulo", é uma expressão exemplar e referencial para todos os que almejam burilar o seu lado espiritual.

domingo, 30 de setembro de 2007

Cantando a minha terra

Campos de sonho

Que transborda de mim?
A própria alma inundada em sonhos
Adejando o plano jardim
Desses campos risonhos.

Sob o manto celeste d’alvuras ponteado
A planagem em verde extendida
É sonho em paisagem edificado
No real mundo da vida.

Ao fundo a paisagem azulada
Faz-se com a terra escarpada
Em quadro de prima de beleza

E ao longe ecoa o grito do vaqueiro
Na terra do Santo Casamenteiro
Dádiva sublime da Natureza!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Controle externo do Ministério Público


O Colegiado de Procuradores, órgão especial do Ministério Público Estadual de São Paulo, no dia 29 de agosto último, decidiu manter no cargo o promotor de justiça Thales Ferri Shoedl, acusado de matar um rapaz e ferir outro na Baixada Santista, em 2004. Schoedl foi agraciado com a vitaliciedade para o cargo de ilustre representante do Ministério Público, em votação apertada, cujo placar foi 16 votos contra 15. Na época em que cometeu o homicídio, faltavam dois meses para que o promotor atingisse o tempo legalmente exigido para que o cargo se investisse automaticamente de vitaliciedade. Schoedl voltaria a trabalhar e não imagine que fosse em outra cidade, bem distante: tornaria a exercer suas funções na cidade aonde moram os pais de sua vítima. Mas o leitor, atento, certamente prestou atenção no verbo "voltaria" da oração anterior e, para alimentar a esperança das pessoas que querem ver Schoedl na cadeia, pagando pelo delito de que é acusado, no dia 3 de setembro último, o Conselho Nacional do Ministério Público suspendeu o vitaliciamento concedido na semana passada pelo Órgão Especial do Colégio de Procuradores do Ministério Público de São Paulo ao promotor. Essa decisão, entretanto, é temporária. O embate judicial continuará. Toda essa questão, que ganhou larga repercussão no país, dá vazão a algumas considerações. Apenas as pessoas que estavam no local no dia em que o promotor assassinou um rapaz e feriu outro, à bala, disparando 12 tiros de pistola - e que, em tese, teriam visto o caso em sua intimidade - além do próprio Schoedl, é que têm ciência da existência da circunstância de legítima defesa ou não. Esse aspecto é que a justiça comum, através do júri popular, ou o Tribunal de Justiça - um dos dois órgãos é que julgará o promotor - irá dizer. O fato inequívoco é que, enquanto a verdade a respeito do caso não foi consignada pela justiça, patente foi a graciosa decisão dos 16 procuradores que beneficiaram Schoedl. Isso passa uma imagem ruim do Ministério Público que costuma, e deve ser, de ofício, rigoroso em suas investigações e acusações em desfavor das pessoas "comuns" suspeitas de cometerem crimes. Todavia, a decisão de conferência de vitaliciedade a Schoedl mostra que, quando as suspeitas de cometimento de condutas penalmente tipificadas recaem sobre os membros do próprio Ministério Público, a questão é vista de maneira diferente. Paira agora sobre esse órgão o cheiro, não agradável, do corporativismo: é tão difícil cortar na própria carne em benemérito da justiça que devem defender? Por tudo isso, é que se mostra clara a necessidade de controle externo do Ministério Público, instituição indispensável ao país mas que, infelizmente, tem poderes e atribuições legais de fiscalizar a todos não sendo, todavia, fiscalizada por ninguém, o que tem lhe conferido o apelido de "quarto poder". Eu ousaria denominar "quinto poder": o quarto é a imprensa, quando se aproveita da "democratite" vigente no país. E antes que o atento leitor me pense um não-democrata, eu assevero: não, eu não sou refratário à democracia pois sou democrata de berço e de ações, do lar à vida pública. Entretanto, cumpre-me não ser conivente com os abusos de liberdade que degeneram a democracia, tais os cometidos pelo lado negro da imprensa nacional. Simpatizo com o controle externo do Ministério Público, exatamente porque sou democrata, mesmo não ignorando o risco de ações políticas serem possivelmente envidadas por órgão de tal natureza. Ainda assim, defendo o controle externo. Quando sabemos que somos "intocáveis" por nossos atos, que nossas atitudes não sofrerão (estando corretas ou não) juízo de valor, somos mais passíveis ao cometimento de abusos, que são resultados típicos das más inclinações de que todos nós, uns em maior, outros em menor grau, somos portadores, pelos instintos primitivos que carregamos nos nossos genes.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Agosto se despede

Muitas pessoas - leia-se supersticiosos - aguardam apenas o derradeiro segundo do mês de agosto para poderem respirar aliviadas. É um alívio sobremaneira esperado por elas, para uma tensão que principiou antes mesmo do mês começar e que dura, todos os anos, 31 longos dias. Setembro é recebido com flores, é o mês do alívio, do ceú do tempo aberto depois da tempestade. A vida segue agora o seu curso normal pois as perspectivas de que aconteça algo ruim descem a níveis muito baixos, na cabeça daqueles que inclinam-se a crer em agosto como mês amaldiçoado, como mês do azar. Estigmatizaram agosto, mês de tragédias e mortes ilustres; mês do desgosto, do "cachorro louco", fértil campo para o plantio, pelo destino, das desgraças pessoais dos indivíduos. Getúlio, Presley e Cleópatra são personalidades ilustres que findaram seus dias em agosto, nome que os romanos deram ao oitavo mês do ano, numa homenagem ao Imperador Augusto, o primeiro da fase imperial. Eu não temo o mês de agosto e não é que o esteja desafiando. Até que a supertição que impregna o ar nessa época do ano tenta contaminar a minha razão, mas não recuo um milímetro que seja. Por que condenar agosto? Agosto não fez acontecer mortes nem tragédias: mortes e tragédias se fizeram acontecer em agosto, como nos outros meses. Eles também não serviram de palco do tempo para mortes e tragédias? O perfume medieval ainda inebria alguns homens, aprofundando o espírito da superstição em suas almas profundamente religiosas e notadamente místicas. Essa é a conclusão a que chego. Agosto não é culpado de nada. É um mês como todos os outros. Que o tribunal da consciência de cada um o absolva.

Que patinada...



Um evento esportivo. A torcida lotando o ginásio. Nacionalismo à flor da pele. Um esquecimento constrangedor. Uma queda espetacular. São os componentes deste vídeo pra lá de engraçado. Vale a pena conferir!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Expressões machadianas

"Dormir é um modo interino de morrer"

Isso é seu, aquilo é meu...

Hoje em dia, por mais absurda que as situações possam parecer, quando elas vêm à tona, um número cada vez menor de pessoas deixar de crer em sua inveracidade. O absurdo é aceito com mais tolerância porque quando as pessoas pensam que já viram de tudo em suas vidas, eis que aponta algo que causa mais surpresa ainda do que outros fatos que ela testemunhou ou simplesmente tomou nota. Nesse diapasão, separação de casal é coisa traumática, sobremaneira para os filhos, herdeiros infortunados do sofrimento que todo evento como esse costuma causar em seus espíritos ainda carentes de blindagem emocional. Conheci um casal - um jovem casal: ela, mais velha e ele um pouco mais novo - que assitiu a noite chegar durante seis meses. Ao fim disso, dissenções agudas redundaram em separação. Ela não queria. Ele mostrava-se resoluto. Numa das discussões, ou melhor, numa das sessões em que ela apelava às coisas de significativo valor emocional para o casal, com o escopo de tentar salvar a relação fatalmente envenenada, a jovem senhora disse, entre a amargura e a esperança:
- E a nossa filha? E a nossa cachorra?
O companheiro, sem qualquer trava sentimental, bradou, duro e seco:
- Qual é o problema? Você fica com a menina e eu fico com a cachorra.
...

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Burros de carroça.

Seu trabalho é tão silencioso quanto pesado. É o bicho mais conformado que Noé salvou do Dilúvio: não obstante as severas vergastadas que recebe - muitas das quais gratuitamente, apenas por costume do condutor - ele vai em frente, ao sabor do que lhe ordenam as cochas. Não galopa, nem trota: isso é apenas para quadrúpedes libertos, de luxo. O burro não: a maior parte de sua vida jaz servindo ao homem, algemado em uma carroça, preso pelo dorso, transportando tudo o que ela pode comportar. Geralmente não pensam no burro quando vão abarrotar uma delas com entulho: é como se ele fosse sempre forte demais para suportar todo e tanto peso nas costas. Carroças em si já são pesadas, imagine quando carregadas com areia...O burro trabalha o dia todo. Sua recompensa: desvencilhar-se da carroça no final da tarde, beber água e comer capim seco em alguma esquina durante a noite fria. Sobra pouco tempo pra descanso. Mal ráia o sol e ele já veste de novo sua pesada roupa: nesse intante, a carroça é a extensão de seu corpo: o burro e ela são um só. Com carga nas costas, sob o sol, entre o frêmito das buzinas na rua, da esquerda para a direita, de um bairro a outro, ladeira abaixo e acima, vai o burro maltratado, vilipendiado, mas sempre servindo o homem em busca de sustento. Ao contrário do que se pode pensar, são poucos desses animais que empacam e não há injustiça nisso, que irrita o cocheiro urbano e os monstros de metal. Há muito tempo os quadrúpedes servem ao homem, nas regiões e condições mais inóspitas. Desde Jericó aos dias de hoje, levando pequeninos, mulheres, homens, velhinhos e tonéis d'água em seu lombo dolorido. O burro merece reverência, assim como seus parentes mais próximos, como o jumento, a mula, o cavalo, todos também usados em carroças e igualmente submetidos à tortura animal. Quanto a isso, se os diplomas legais fossem seguidos à risca e não riscados como são em nossa nação, muita gente estaria respondendo a processo judicial e condenada.

Gripe

Não é uma doença: é uma patente adquirida.

sábado, 28 de julho de 2007

O amor

Cantado em prosa e verso, do limiar dos tempos até agora; musicado, rimado com dor, humor, eis o amor, a substância da vida. Não confundir com paixão, o estopim de um poderoso coquetel químico que, uma vez circulante por nossos vasos - e isso é muito comum principalmente na adolescência - libera substâncias vaso-constrictoras, que dão aquela sensação de aperto no coração, como quando acontece quando se vê o desejado parceiro ou parceira. Amor e paixão distoam, são notas muito diferentes na composição sublime da existência humana. Ponho em relevo as sábias palavras do Apóstolo do Gentios, quando sentenciou que "o amor é santo, mas a paixão é venenosa". Parece que esse axioma distancia esses dois sentimentos, ao revelar a natureza de cada um deles. Não se mata por amor, mas se mata por paixão, paixão violenta. Nesses casos se vê de modo cristalino como a paixão degenera e facilmente cede campo para sentimentos inferiores, tais como o ciúme. A paixão arrebata a criatura humana a sensações incomuns que muitas vezes furtam ao apaixonado a consciência plena de sua realidade circundante, alçando-o a momentos oníricos, em que tal criatura não raro envida ações que fogem totalmente à sua conduta habitual, levando-o a lances de vida que outras pessoas jamais pensariam que o apaixonado fosse capaz de experimentar. As aventuras fora do casamento são um exemplo clássico das consequências de uma paixão indomável. Importa notar que as paixões não são perenes. Não existem reações químicas intermináveis. É por isso que se costuma dizer que os apaixonados acordam de seus sonhos e dão de cara com a realidade: é aí que param para pensar no que foram capazes de fazer e não raro estranham seus comportamentos se perguntando: como pude fazer isso ou aquilo? A maioria das pessoas que diz estar amando está, em verdade, apaixonada. Bastam dois ou três dias de namoro (ou seria "ficação) para que um diga ao outro: "Ah, como eu te amo..." sem realamente avaliar a verdadeira dimensão do significado do amor. São expressões do gênero: "Você é minha alma gêmea..." que uma convivência de mais alguns dias diluirá pela ação das evidentes diferenças entre um e outro. Ai será a vez de entrar outras expressões: "Foi bom enquanto durou...", "Não está rolando mais aquela química entre nós...", "Você não é mais o(a) mesmo(a)..." Observando a vida depois de 28 invernos, seis deles sob matrimônio, arriscaria asseverar que o amor - falo aqui do amor entre homem e mulher - comumente, na maioria dos casos, é o rebento dos dias de convivência...é algo que se atinge, que se conquista com o passar dos dias... é um estado de consciência reflexo do amadurecimento emocional de dois seres que caminham juntos na mesma estrada cotidiana. Galhos diferentes, mas com a mesma raiz, são os amores de pai, de mãe, de irmãos, de amigos. Sentimento perene o amor, tão sublimemente cantado por Camões nos Lusíadas, tão simplesmente definido por Miramez como a "reunião de todo o bem".

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O homem é o lobo do planeta

51º na Califórnia...

O homem é o lobo do homem

A violência não é fenômeno atual. Sabemos que é tão velha quanto a própria espécie humana. Para os que crêem no que está escrito no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, o Éden teria testemunhado o primeiro crime, a primeira violência, logo um fatricídio. Mas, hodiernamente, atravessamos momentos muito difíceis com relação a esse aspecto que cada vez mais, como uma bola de neve, vem recrudescendo e assombrando a nossa nação. O homem é o lobo do homem. Todos os outros animais, quando atacam outros, tal predadores que são, é porque isso está programado em sua bagagem genética. É algo inato, que lhes faculta a própria natureza de seres dotados de inteligência irracional. Eles não são capazes de julgar, obedecem a instintos. Estão acima do bem e do mal, pois não sabem distingui-los. Tudo se encerra na problemática vital da sobrevivência no seu habitat. O homem não. Como criatura ímpar no reino animal, único a possuir inteligência racional, pode distinguir o bem do mal. É sozinho na "selva" quanto a capacidade de formação e aplicação de valores morais. É o único animal que pode decidir sobre a conveniência de se atacar outro, inclusive um da sua própria espécie. E é também o único a agir com requintes de crueldade. Pela inteligência o homem, em tese, deveria ser capaz de dominar os seus instintos, de agir com base na razão. Infelizmente, isso não acontece com todos aqueles que praticam a violência, seja ela qual for. Percebo, com um amálgama de tristeza, desolação e indignação, que o Brasil enfrenta a pior crise de violência de toda a sua história de pouco mais de cinco séculos. Vejo um aparelho estatal incapaz de apresentar respostas eficientes à insegurança reinante no país. O pior: é patente que segurança pública não é prioridade para o atual governo. Duvidas? Pesquise os investimentos aplicados em segurança pública no último quinqüênio. Vide as polícias da maioria das unidades federadas: desaparelhadas, destreinadas e com agentes de segurança muito mal pagos para lidar com tarefa tão perigosa. Aonde pensam que estamos vivendo? O que pensam que está acontecendo todos os dias nas ruas? Estão alheios... Falta iniciativa política. Dessa forma estamos todos reféns. Reféns do homem, esse animal perigoso que rouba, estupra, sequestra, mata. Deus nos guarde a todos.

domingo, 1 de julho de 2007

Pobre cão

Dentre as verborragias silabadas pelas pessoas, quando preferem recorrer à violência dos gritos ao invés de triunfar com a sabedoria das palavras, está uma que fere a dignidade do canis lupus:
- Seu cachorro!
Tal expressão deveria ser utilizada para se elogiar alguém. Dentre todos os cães que conheci em minha vida, todos eram dotados de predicados que, resguardadas as diferenças relativas à espécie nessa comparação, muitos seres humanos não têm. Talvez seja por isso que ele foi premiado com a mais justa das antonomásias aplicadas aos seres inteligentes irracionais: "melhor amigo do homem". Nunca soube de um cão que não fosse fiel e leal ao seu dono... Dessa forma, porque carregar o nome desse animal tão especial com essa carga pejorativa injusta?

sábado, 30 de junho de 2007

Contrariando os ditos populares

Certa feita, observei um colega de faculdade, que exerce o ofício de Hipócrates, asseverar que:

- Saúde não tem preço...mas a medicina tem!

E esse preço não é doce.

segunda-feira, 4 de junho de 2007

A desconstrução dos adágios.

Não há precisão no sentido cognitivo de muitos adágios. Criações interessantes da mentalidade coletiva, eles ornamentam a beleza da cultura popular, vigorando-a; entretanto, basta um exame um pouco mais acurado sobre alguns deles, para que se entenda que são como moedas: têm duas faces. Senão vejamos. Não se é razoável crer que "a voz do povo" seja, em absoluto, "a voz de Deus": a "vox dei" não saudaria Hitler como o fazia o coro hipnotizado da "vox populi" nos comícios nazistas da primeira metade do século XX. Também não se pode dizer que "dormindo a dor passa": a dor estrangula o repouso. É inegável que é uma exortação à esperança, que é uma virtude, crer que "quem espera sempre alcança"; mas, do outro lado da moeda está uma inegável apologia à inércia. Também não se pode deixar de entrever o culto à virtude da persistência no adágio "devagar se vai longe". Todavia, na sociedade hodierna da informação, do conhecimento e da acirrada competição capitalista, esse dito tende a ser retificado: "devagar é que não se vai longe". Não há absolutividade em muitos dos mais populares ditados. Eles são dicotômicos e carregam consigo sentidos opostos.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Uma visão lúcida sobre a polícia brasileira.

Santos na Polícia

19/4/2006 - João Ubaldo Ribeiro
A respeito da polícia, costumamos agir da mesma forma que em relação a outros grupos ou categorias. Quando falamos mal dos políticos - e não é que não tenhamos razão, é outro aspecto do problema -, costumamos descrevê-los como se eles não se originassem de nós mesmos, o povo brasileiro. Como já disse aqui algumas vezes, não são marcianos, são gente como nós, a maior parte dos quais com biografias semelhantes às nossas. Aprendemos uma espécie de defesa automática, para exorcizar o grau de responsabilidade que cada um de nós tem, quer queira ou quer não, e usamos logo a terceira pessoa: os políticos brasileiros fazem isso ou aquilo, os funcionários públicos idem idem, e assim por diante, nada conosco.
Essa síndrome da terceira pessoa talvez fosse fenômeno merecedor de um estudo sociológico, com perdão da má palavra. Nunca somos nós, sempre são eles. E isso acontece das formas mais surpreendentes. Já saí andando com um amigo ou outro, para pegar o carro dele e nos queixando o tempo todo do comportamento dos motoristas que se julgam, por exemplo, no direito de atropelar quem quer que atravesse a rua com o sinal fechado ou cometa o que ele considere uma imprudência. O amigo diz o diabo dos motoristas até entrar no carro, ocasião em que, instantaneamente, os pedestres deixam de ser nós para serem eles. E, ao volante, faz tudo o que acabava de condenar com tanta veemência. Da mesma forma se comporta quem, quando é cliente, é tratada aos pontapés, e quando é servidor, também trata o cliente aos pontapés.
Com a polícia, o comportamento não é diverso. A polícia são "eles", nunca nós. Não são homens e mulheres nascidos e criados da mesma maneira que outros brasileiros, são "eles". Claro que nunca defendi (e, aliás, não estou defendendo nada, são somente uns pontos de vista que quero expor) a brutalidade, a ineficiência ou a corrupção na polícia, nem tampouco encaro os marginais como gente fina que esta vida cruel levou ao crime, enquanto ignoro as mortes, o sacrifício e o heroísmo de muitos policiais - prática, infelizmente comum, na imprensa e em certos grupos de opinião.
Nos últimos dias, tem havido uma cobertura intensiva do crescente número de policiais mortos simplesmente porque carregam uma carteira funcional, ou vestem um uniforme. Foi polícia, tiro nele. E, porque são "eles", encaramos suas mortes como algo alheio a nós e já ouvi até gente discursando para que se aja assim, porque afinal "essa polícia merece mesmo isso", é o troco que está recebendo por não servir bem ou maltratar o cidadão.
Fico imaginando a vida de um policial honesto e, com toda a certeza, independentemente de alguma vocação, não a quereria para mim ou para ninguém em cujo destino pudesse influenciar. Agora policiais, mal pagos, mal preparados e vergonhosamente equipados convivem, ainda por cima, com a condenação à morte a que estão sujeitos, simplesmente por exercerem a profissão. E não só a condenação deles mesmos, mas também de suas famílias, da mulher aos filhos de colo. Vários deles, num ato impensável em qualquer país civilizado, mandam tirar carteiras de alguma outra profissão, para carregá-las nos bolsos quando estão de folga e assim escapar da "vingança" dos marginais. Outros escondem dos vizinhos e dos próprios filhos sua condição de policial.
E, ao que tudo indica, estamos achando isso tudo normal. Policial é policial, não só "ganha pra isso" como não é gente como nós, não tem medo, não tem fraquezas, não é sujeito a inveja, ressentimento, frustração, neurose ou até estresse. Executivo de multinacional tem estresse, dona-de-casa tem estresse, jornalista tem estresse, mas policial não, é moleza subir morro enfrentando armas de última geração e a hostilidade dos que sofrem com isso. Naturalmente, nada justifica atrocidades, brutalidade, venalidade, cumplicidade com criminosos - o que muitos policiais praticam e continuam praticando. Mas, se está muito longe de justificar, está muitíssimo perto de explicar.
Que queremos na polícia? Santos? No País em que vivemos, somente santos com vocação ao martírio seriam os policiais que desejamos. Temos o direito de querer contar com uma polícia eficiente, atuante e respeitada pela comunidade, assim como temos o direito de exigir (apesar de nunca obtermos) mais ou menos as mesmas coisas de todas as autoridades. Hoje em dia, um policial manda um carro encostar a fim de que alguma suspeita seja verificada e é logo recebido à bala. No entanto, se se aproximasse de nosso carro um policial já de arma na mão, abriríamos um berreiro no jornal, pois cidadão não é criminoso presumido, para ser abordado por um policial de arma em punho.
Verdade, mas que faríamos, no lugar desse policial? Pimenta no dos outros é sempre refresco e conheço gente que responderia - e o que é pior, sinceramente - que, se fosse policial, se comportaria como os americanos dos seriados de tevê. (Descubra o que acontece a um "cop killer", matador de policiais, em Nova Iorque e sua opinião seria um pouco abalada).
Ouso discordar. A maioria de nós que fosse levada à condição de policial agiria até bem pior do que aqueles que critica. Bastariam uns meses, ou nem tanto, convivendo com a corrupção, que vem de cima e de todos os lados, a iniqüidade, a desonestidade de parceiros, a grana curta, a execração da imprensa e do público (e quem é o primeiro a oferecer uma cervejinha ao guarda de trânsito, para ele esquecer a infração, não somos nós? quem chegou primeiro, o ovo ou a galinha?), o medo de morrer ou encontrar a família morta e tanta nojeira e pavor em que o policial é obrigado a chafurdar.
Mas não, nós queremos santos, iguais a nós, povo pacífico, cordato, incorruptível e respeitador da lei. Não temos um plano de segurança pública merecedor desse nome, negligenciamos a polícia, de que só lembramos para criticar, queremos que ela se lixe e também queremos que, em troca disso, seja exemplar. Quer dizer, queremos santidade. Não me considero exceção pessoal. Também tenho medo da polícia e também me horrorizo com muito do que ela faz. Acho que temos uma polícia que pode ser qualificada de ruim ou péssima. Mas também não acho que melhor qualificativo pode ser dado a nós como um todo, com a possível exceção de alguns padres, frades, freiras, pastores ou rabinos.
Chato lembrar, mas a nossa polícia também somos nós, não foi o Diabo que a criou; fomos e continuamos sendo nós.

Ufa!

No último dia 27 de maio fez 146 dias que o ano de 2007 começou. O(a) brasileiro(a) trabalha, em média, 146 dias apenas para pagar impostos. Quanto a estes, estamos desonerados. Agora o Estado não nos é mais credor. Um dos problemas crônicos da nossa nação é a má administração dos impostos que pagamos. A receita deles é muito mal versada, prejudicando, sobremaneira, os mais pobres. E como boa parte dessa dinheirama escorre pelo ralo da corrupção e também por carregarmos sob os nossos ombros o peso de uma das mais elevadas cargas tributárias do mundo, não sejamos invigilantes. É dever de cidadania encontrar meios para efetivamente cobrar a justa aplicação do dinheiro que a Fazenda arrecada para o erário, bem como para fiscalizar tal aplicação. O Estado é nosso credor por 146 dias. Nós somos credores do Estado 365.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Fórmula para vencer as "trevas"

Com o tempo exíguo de sempre e sem sua característica barba, que perdeu devido a leucemia que o vitimou recentemente, o saudoso Dr. Éneas evoca a concepção tântrica para propor uma solução contra as "trevas" que tisnam nosso país.



quinta-feira, 24 de maio de 2007

Hoje é dia...


...do café. Essa bebida é muito presente na vida do brasileiro. Durante muito tempo, esse foi o principal gênero de exportação do país. Os recursos oriundos de sua produção geraram capitais para que a nação começasse a se industrializar. O cafeeiro é originário da Península Arábica. Daquela região desértica, ele veio povoar as nossas mesas. Virou sinônimo de refeição matinal e também eufemismo para propina ("aqui pra você tomar um cafezinho"). O café é o cartão de boas-vindas das choupanas sertanejas, o calor do compadrio em rodas enluaradas de prosas noturnas. É passatempo nas filas dos bancos e nas cadeiras das salas de estar dos consultórios médicos. Alimenta o charme nas glamourosas rodas de conversa da elite. O café é uma bebida democrática, é bebida de pobres e ricos. É a luz da sentinela forçada dos estudantes. Junto ao chá, enche os copinhos de plástico no ambiente lúgubre dos velórios. É o antecessor das tragadas malignas da fumaça do tabaco. Misturado à coca-cola, é o sobressalente do rupinol nas estradas. Estimulante das atividades cerebrais? Não bebo mais café por causa da gastrite. Agora sou refratário ao café, assim como Rui Barbosa. Mas o café teve seus fãs famosos. Voltaire foi um deles. Certa feita, advertiram-no de que o café era "um veneno que matava aos poucos", ao que o expressivo pensador iluminista teria respondido: "Não vejo problemas. Não tenho pressa alguma em morrer." Vai um cafezinho aí?

Da série: "Adesivos em carros".

"Devo tanto a tanta gente, que se chamar alguém de 'meu bem' o banco toma".

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Velhos e bons tempos.

Diretamente da minha sessão "Nostalgia", no Youtube, um vídeo hilário dos trapalhões fazendo uma encenação cômica da música "Teresinha", de Chico Buarque.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Polícia Federal


Pelas sucessivas operações que tem realizado, dando mostras cabais de sua qualidade funcional, pautada em ações planejadas e muito inteligentemente organizadas, essa corporação vem consolidando cada vez mais a sua credibilidade institucional junto a nação. Parabéns para a Polícia Federal. Que ela siga firme, dando sua cota de contribuição para a diminuição, em nosso país, da corrupção, que prejudica, sobretudo, os mais pobres. Ela faz como deveriam fazer as Polícias Civis no Brasil: investigar para prender e não prender para investigar.

Hoje é dia...

...dentre tantas, "da última flor do lácio, inculta e bela". Alguns a maltratam tanto, que imagino Camões a sacodir-se no além-túmulo. Outros a usam de forma tão erudita, que a tornam hermética e árida. A língua tem extremos, quando a sabedoria está no justo equilíbrio entre eles, qual seja, o meio. Nessa seara, importa mesmo é se fazer compreender, sem achaques grosseiros mas também sem os exageros do rebuscamento. Ainda podemos aproveitar esse campo, para invocar a sabedoria romana, que nos assevera que as palavras nos exortam ao cuidado: depois de enunciá-las, somos delas escravos.

sábado, 19 de maio de 2007

Um pouco de poesia


Flor de Ipê

Macia flor do ipê
Sereno de paixão
Em coração abandonado
Que te sentindo, palpita,
Intenso e ancioso
Esperançoso em ser amado.
1997

sábado, 5 de maio de 2007

O impulsivo Nélson Piquet

O que o grande Piquet tinha de gênio, tinha também de impulsivo. Que o diga o chileno Eliseo Salazar!


Sabedoria nossa de cada dia


sexta-feira, 4 de maio de 2007

Polícia de galinhas

E quando a gente pensa que já viu de tudo nessa vida, eis que elas entram em cena para por ordem no recinto. Vale a pena conferir no link abaixo:

http://z003.ig.com.br/ig/36/03/104707/blig/sitesqueamamos/2007_04.html#post_18827853

Poesia

A voz dos sentimentos humanos mais profundos é a poesia, já dizia um dos maiores poetas que o mundo conheceu, o chileno Pablo Neruda. E já que toquei no nome dele, aqui uma sugestão para quem gosta de gatos: leiam o poema "Ode ao gato", de sua autoria. É fantástico. Voltando agora a poesia (, mas nem havia saído desse tema?!)...Encorajo-me a dizer que todos nós temos poesia dentro de si. Alguns jamais irão manifestá-la. Levarão-na consigo às estâncias da morte. Outros a manifestam de modo sazonal (penso que talvez me encaixe aqui) e outros têm a poesia à flor da pele e conseguem transformar tudo para linguagem poética. Ainda há aqueles que conseguem fazer de suas vidas, uma poesia. Esses são os poetas práticos, como os mártires e os líderes carismáticos. Nesse aspecto, não podemos admitir a poesia ligada ao mal, caso contrário, Hitler teria sido o "poeta do sangue e da loucura sem limites". A poesia está ligada ao bem. A poesia não admite o maniqueísmo. Mas algemada ao bem, ela é capaz de expressar a dor e a tristeza, a angústia e a nostalgia, a paixão e o horror. Poesia é a arte latente que anima a alma humana a transformar o sentimento em palavra. E quanto mais precisamente se consegue a expressão do sentimento na forma verbal, melhor será o poema, a poesia condensada em letra e papel. Ainda bem que existe a poesia. Através dela, percebemos o mundo ainda mais belo.

Sabedoria nossa de cada dia


"Quem pode faz. Quem não pode ensina"

George Bernard Shaw


Escritor irlandês

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Sabedoria nossa de cada dia



"Geralmente as pessoas que sabem pouco falam muito e as que sabem muito falam pouco"

Rousseau

Duas luas


Em maio de 2007, o lobisomem aparecerá duas vezes. Não entendeu? Explico: é porque neste mês haverá duas luas cheias. Trata-se de fenômeno raro. A última vez em que isso aconteceu foi em 2004.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Em caso de dúvida...

Quem nunca se viu às voltas com uma dúvida? As vezes elas são cruéis conosco, porque nos colocam diante de escolhas as quais ainda não estamos preparados para fazer por pairar, sobre o futuro, a sombra da incerteza que envolve as consequências das nossas opções. A poucos é dado o dom de vaticinar com precisão. O restante sofre, ajoelhado diante das dúvidas. A existência de cada um de nós toma a direção de nossas escolhas de vida e suas consequências inevitáveis. Portanto, a perícia ao lidar com as dúvidas é quesito fundamental no aprimoramento que devemos fazer na arte da escolha. O que fazer em caso de dúvida? Algumas pessoas usam exclusivamente a razão. Outras, somente o coração, guiadas misteriosamente pela intuição. Não seria melhor equilibrar esses aspectos na balança da consciência, para que ela aponte a solução da dúvida? Irrefutável a relevância do uso da razão quando desafiamos a dúvida, mas parece sensato crer que sua utilização não excluí necessariamente o uso do coração. Nesse particular, cumpre-nos lembrar Baltasar Gracián, pensador de Espanha, que no século XVII aduziu, muito acertadamente, que o coração "é o oráculo caseiro".

Sabedoria nossa de cada dia

"Um amigo é uma alma em dois corações"
Aristóteles

terça-feira, 1 de maio de 2007

Saudades


Por vezes sem conta, o domingo de milhões de compatriotas foi feliz por sua causa. Não, não estou falando no Faustão nem muito menos no Gugu. Refiro-me a um brasileiro que não brincava em serviço: AYRTON SENNA DA SILVA. Há treze anos, a curva Tamborello nos arrancou dolorasamente o tricampeão. Entretanto, sua lembrança é inolvidável e a alegria que nos fez sentir, ainda palpita em nossas almas, gerando um misto de alegria, dor e saudade. Recordo que no dia do rompimento da infamante barra de direção e logo após o lúgubre anúncio da partida de SENNA para alhures, fomos ao campo, numa chácara que papai tinha na zona rural de Campo Maior: ele nos privava, profundamente chateado com o acontecido, das próximas cenas desse capítulo tão infeliz da história esportiva da nação. Nunca mais o Hino da Vitória iria soar da mesma forma... Perplexos, nós e a nação, golpeados por esse lance fatal e impiedoso do destino, também tombamos juntos com o nosso inesquecível AYRTON. Saudades!

Sabedoria nossa de cada dia

"É mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito"

Albert Eisntein

A última palavra


Certa feita conversava com um amigo, integrante do oficialato da Polícia Militar do Piauí e ele me disse, com semblante fechado, que em seu lar a última palavra era sempre dele:


- Sim senhora!

Perpetuação da espécie


O inolvidável Francisco de Assis, santo da Igreja Católica que viveu na Europa medieval e que era conhecido como Poverello (pobrezinho) - por ter vivido e exemplificado a pobreza - asseverava que são dois os instintos mais enraizados no ser humano: o da sobrevivência e o da perpetuação da espécie. Na esteira do respeitável pensamento do nosso honorável personagem, o primeiro dos instintos nos conduz a reflexão sobre o medo que temos da morte, uma das poucas certezas da existência. Nesse aspecto, a vida me tem mostrado que a melhor conduta diante da certeza dessa ocorrência inevitável é a de assumir o significado da morte. Assim sendo, cada um deverá fazê-lo segundo a idéia (religiosa ou não) que explique o seu significado. Sem quaisquer intenções proselitistas e jamais desmerecendo outras correntes religiosas, mas apenas para expor a minha modesta opinião, afirmo que, dentre as doutrinas religiosas com as quais mantive contato, a espírita kardecista é a que me parece ter maior fundamentação racional na explicação desse fenômeno, ao propor a existência e imortalidade do espírito e a necessidade de seu aperfeiçoamento através da reencarnação. O segundo instinto em questão, o da perpetuação da espécie, nos leva a considerar o meio que a provém: o sexo. Nessa seara, no nosso entendimento, há uma diferença quase substancial no modo como os sexos opostos (ou melhor é considerar "sexos complementares"?) dão vazão a esse instinto. A observação de casos da realidade tem me mostrado que o homem não possuí o nível de controle desse instinto que as mulheres possuem. Trocando em miúdos: o homem enfrenta maiores dificuldades para "segurar as rédeas" do seu instinto sexual do que as mulheres. Estudos biológicos acerca da evolução das espécies apontam que o sexo masculino teria "programado" em seu arcabouço genético a "missão" de procurar o maior número possível de fêmeas para copular e, assim, promover uma maior propalação da sua espécie. Essa "responsabilidade" teria ficado a cargo desse sexo porque não é ele quem gera e, após a geração, tem a função de cuidar da prole, o que demanda tempo e dedicação quase exclusivos. Isento dessa tarefa, ele seria livre para espalhar, o máximo possível, a sua descendência. O homem teria herdado essa "programação" e talvez isso explique a sua tendência em trair mais que a mulher, muito embora pareça que este quadro está se alterando nos dias de hoje. Longe de intecionar propor qualquer justificação para uma pretensa "naturalidade" da traição masculina, aqui está exposta apenas uma idéia no vasto campo da relatividade sobre essa temática. Eu já dei a minha contribuição para a perpetuação da espécie (foto acima). Viverei gerações à frente através da minha prole. De certa forma, fui mesmo feito "à imagem e semelhança de Deus", no quesito eternidade.