domingo, 25 de novembro de 2007

Desenho animado

Tudo é relativo nesse universo onde só Deus é Absoluto. O que é trivial para alguns, é essencial para outros. Mas raríssimas pessoas atentam positivamente para essa verdade, vendados que estão os olhos da alma pela pior das chagas morais: o egoísmo, raiz de todas as demais mazelas do espírito. Há pessoas que para compreender as privações do próximo precisam apenas de um exercício de abstração; outras, carecem conferir "in loco" a situação para poderem se sentir tocadas; e há ainda aqueles que nem de um jeito nem de outro se sensibilizam para a causa alheia. A felicidade de alguém, muitas vezes, está em algo de que você dispõe com tanto costume que nem se dá conta do imenso significado que aquilo possa ter para alguém. Poucas coisas comovem tanto quanto testemunhar as privações de uma criança resignada. Seja pela inocência, seja pela tenra idade que não a permite ainda lutar para ter aquilo que quer, ver uma criança carecer de algo, na maior parte das vezes, desejo simples de ser satisfeito, dói verdadeiramente dentro de nós. Como outro dia, assisti na TV uma criança cujo sonho é ver desenho animado numa televisão. Ah, criança, quanta verdade há nesse teu desejo, quanta pureza há nessa tua tua singela vontade! Teus olhos brincariam junto das personagens e tu serias arrebatada ao próprio enredo do desenho, num lance onírico, para a tua lembrança inolvidável! Mas o que te assoma, criança, é uma realidade sem a cor dos desenhos animados, uma vida que passa em preto-e-branco...mas tu, ser sem mácula num mundo tisnado de injustiças, tu não maldas que há pessoas queimando as retinas diante de TVS de plasma, programando a mente com informações tolas, nem que há gente que liga a TV que tem em casa e põe diante de si um jornal escrito ou simplesmente vai dormir. Pudera elas sonharem contigo criança... mas ainda assim não seriam capazes de dimensionar o infinito que está na essência do teu desejo. Mas um dia, criança, um desenho animado vai te subtrair um pouco ao semblante o sofrimento a que um histórico sistema social injusto te condena: será o dia da consumação do teu sonho singelo, em que a tua vida irá ganhar um pouco de colorido.

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