quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Down em mim

"O banheiro é a igreja de todos os bêbados"

Agenor Miranda de Araújo Neto
"Cazuza"

sábado, 13 de outubro de 2007

Mais ensaio de poesia

Inércia

A tarde se fechou sob um ângulo estéril
Sem brisa e sem crepúsculo
A Terra não moveu qualquer músculo
No império da inquietude na quietude
Em meio às sombras intangíveis.

Nenhuma cólera relampejou
E os pássaros de canto hirtos ficaram
Na revoada que o céu retalha
Sem norte certo, acelerada
E tímida e desconcertada.

Onde as ondas do mar?
Onde os faróis que não pestanejam?
Onde a alegria dos que festejam?
Onde a dor concentrada dos hospitais?
Ninguém sabe onde.

Olhos sôfregos do mundo
O tempo repousa quieto
Nas folhas que o inverno esqueceu
Quem tinha medo não tremeu
Diante das bússolas mortas.

A noite tarda, na tarde infinda
Tarde um dia tão linda...
A luz aureolada dos anjos não vingou
Intumescendo os olhos vagos que vão
Nos vagões da vida que se entregou.

Liras, arpas, violões calados
As canções se perderam
No escuro esquecimento
Das mentes soberbas
Agrilhoadas ao espanto do presente.

Ninguém vê, ninguém oscula, ninguém sente
Pernas caminham, perambulam dementes
Em todo agora vão caminho
Salpicado de diamantes sem luzir
Na ambição agora morta dos homens.

Mas é na rouquidão do pretérito
Que o sonho se acha escondido
Ruminando o desejo da vida
Numa lide indefinida
Que opõe o caos e o sentido.

Ensaiando poesia

Entranhas


A dor reflete no espelho carrancudo
A soma dos milagres que o tempo não fez
Entregues a explosiva mudez
Os símbolos jazem surdos
No véu senil das aranhas.

O tempo fechou-se aos colóquios
E um rosário de medo assoma
Os espíritos inadvertidos
Na louca culpa dos inocentes
Na triste senda dos pervertidos.

Não há qualquer luz ou qualquer sombra
A ruir a morbidez estentórica
Das esquinas ermas do tempo:
Um grito poluído de tormento
È quem dita, ríspido, o destino.

Não vingaram auroras nem crepúsculos
Na trilha vaga, imantada de enigma...
Não há Éden nem Abismo
Nesse caminho perdido
De espaço maleável e tempo fugidio.

Agruras tisnam a corrente do rio
Sob o céu de espelhos invisíveis
Sim! As intempéries intestinas
Não vacilam, só oscilam, de chofre
As erupções loquazes e frêmitas dos homens.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Reflexão sobre o Brasil - Parte II

De quem é a culpa das mazelas existentes no Brasil? Das circunstâncias históricas que forjaram a nossa composição como nação? Em parte sim, não há como desprezar essa variável; mas há bastante tempo que a responsabilidade pelos problemas tupiniquins deixou de ser devida centralmente a isso. A resposta mais adequada aos tempos atuais é a de que a culpa é coletiva. Isso mesmo: todos nós devemos partilhar essa culpa, essa responsabilidade, não importa a posição que tenhamos dentro do tecido social. E ao considerarmos a justeza dessa colocação, nos deparamos com um paradoxo de assombrar: quando a culpa é de todos, parece que é de ninguém. Isso se reflete na indiferença nossa de cada dia às feridas que cotidianamente são abertas no corpo da nossa nação. Nos portamos confortavelmente à frente da TV e, ao nos depararmos com casos escabrosos, ficamos até indignados, bradamos impropérios, xingamos os políticos... mas é só: tudo é de momento. Basta um simples toque no botão off do controle remoto e olvidamos tudo, como num passe de mágica. É como se desligar a TV sepultasse os fatos ignominiosos nos recônditos mais obscuros da nossa memória. O comodismo, infelizmente, é uma das chagas do povo brasileiro, sobretudo no que diz respeito àqueles que possuem mais ilustração e preferem se conservar sentados em suas poltronas aveludadas à envidarem ações práticas contra o que consideram absurdos nacionais. Multiplicam-se tanto aos nossos olhos e ouvidos os fatos repugnantes, que a nação hoje é assolada pelo fenômeno da banalização pela TV. Banalização dos escândalos políticos de corrupção, banalização da violência, banalização da fome, da pobreza, da injustiça, das pessoas morrendo no trânsito ou por falta de atendimento nos hospitais da rede pública. Para grande parte do povo brasileiro, o absurdo e inadmissível se tornou singelamente "comum". Aqui cabe uma reflexão um pouco mais profunda do caso. O que acontece é que aquilo que não é comigo é o que se torna comum. Há verdade nisso. Tanto que quando o fato absurdo recai em desfavor de nós próprios ou de nossos familiares ou amigos mais íntimos, é frequente o uso da expressão: "a gente pensa que isso nunca vai acontecer com a gente".

Ela sabe bater...mas não sabe apanhar.

Reflexão sobre o Brasil - Parte I

Um país colossal, de dimensões continentais. Aqui a maioria das terras é fértil, o clima, a todo modo, é agradável. Há abundância de água doce em rios, lagos e lagoas encantadores. Florestas soçobram, exuberantes, tais como a fauna diversificada que nelas habitam. Conservamos, enfim, o potencial magnífico de nossa natureza, já reconhecido desde a época do aporte lusitano em nossa terra e expressado por Caminha. Aqui também vive um povo, em sua maioria, simples e bom, que reúne em torno de si qualidades admiráveis como a humildade, a esperança, a alegria, a disposição para o trabalho, o sentimento religioso, a honestidade, a caridade, dentre outros predicados mais, o que cada um de nós pode facilmente constatar, bastando, para tal, mirar no círculo de nossos relacionamentos sociais. Neste torrão, há plantado o embrião do sistema democrático, elemento indispensável às nações que almejam um futuro promissor de desenvolvimento sócio-político-econômico, tal qual pode ser verificado nos mais adiantados países da esfera terrestre. Rápida reflexão histórica nos remete à consideração de que "nascemos", como unidade territorial e social, sob a égide da exploração européia, notadamente portuguesa e inglesa, no contexto da expansão marítimo-comercial dos países do Velho Continente e de expansão do sistema capitalista. O Brasil, portanto, na figura de seu povo, enfrentaria, no transcurso de sua história, dificuldades de grande monta para reparar toda a sorte de prejuízos gerada pela presença européia aqui, presença essa que tinha como pano de fundo a missão "civilizatória", justificada sobremaneira pela Igreja Católica. Ao longo do tempo, as sucessivas gerações do povo brasileiro são vítimas de sistemas sociais injustos, operadores da exclusão e do preconceito sociais, características profundamente marcantes da sociedade brasileira. Para os dias hodiernos, a realidade, em essência, é a mesma. As formas de exploração dos sistemas sociais injustos há muito implantados no campo da sociedade brasileira, e que fazem germinar o mais graves problemas que assolam a nossa nação, apenas se modificaram com o passar das décadas, moldando-se de acordo com o quadro da época. Com a a maior parte do povo historicamente alijada do processo educacional, com um sistema que inclue leis as mais das vezes antiquadas e um aparelho jurídico e policial inepto, a sociedade brasileira ainda agoniza sob as fortes dores causadas por suas chagas sociais. O esquema de poder tripartite ainda não conseguiu, através de seus entes institucionais, impor eficazmente a sua presença em favor decidido do povo do Brasil. Basta ligarmos a tv e assitirmos a alguns minutos dos telejornais, para logo entabularmos contato com as mais variadas naturezas de corrupção, seja no Executivo, no Legislativo, ou no Judiciário. E esses casos se dão em praticamente todos os escalões desses poderes, envolvendo uma grande soma de autoridades constituídas. Todavia, esses episódios, tal uma praga que avança voraz sobre uma lavoura, só tem se repetido, pois com o decurso do tempo, o aparelho tripartite criou uma redoma de blindagem para proteger, em tese, as funções públicas, mas que, na prática, protege àqueles que exercem essas funções. Um exemplo: a figura jurídica do foro privilegiado. Nesse diapasão, a impunidade grassa em nosso país, tisnando as instituições democráticas e tornando-as debilitadas e desacreditadas e, ainda mais, animando a multiplicação de casos de corrupção, pois cá nessas nestas tropicais não resta assegurada a expectativa e a certeza da punição para aqueles que cometem crimes.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Paulo de Tarso

Saulo: era assim que se chamava um dos maiores perseguidores da causa cristã que, às portas da cidade de Damasco, conforme a tradição bíblica, avistou-se com Jesus e, a partir desse encontro, que transformou para sempre o seu íntimo, o orgulhoso judeu, membro do Sinédrio de Jerusalém, entrou na cidade, foi batizado com o nome de Paulo e tornou-se o maior propagador da fé cristã no período, levando-a aos povos gentios, idólatras. Graças as missões apostólicas desse homem de inteligência notável e personalidade forte, o cristanismo espargiu-se em outras direções, ganhando muitos sectários. Admira-me a personalidade deste 13º apóstolo, como tão bem cunhou Humberto Rodhen. Entabulei contato com ela por meio da magnífica obra "Paulo e Estevão", psicografada por Chico Xavier, a qual humildemente recomendo. É impossível não se emocinar com a obra, que traz ricos relatos históricos acerca do cristianismo primitivo. Gravei inúmeras passagens, inolvidáveis, no campo da memória. Uma delas foi: "Cada um aceita a verdade como pode; pensa, pois, e a entende como puderes". A mudança de "Saulo" para "Paulo", é uma expressão exemplar e referencial para todos os que almejam burilar o seu lado espiritual.