segunda-feira, 4 de junho de 2007

A desconstrução dos adágios.

Não há precisão no sentido cognitivo de muitos adágios. Criações interessantes da mentalidade coletiva, eles ornamentam a beleza da cultura popular, vigorando-a; entretanto, basta um exame um pouco mais acurado sobre alguns deles, para que se entenda que são como moedas: têm duas faces. Senão vejamos. Não se é razoável crer que "a voz do povo" seja, em absoluto, "a voz de Deus": a "vox dei" não saudaria Hitler como o fazia o coro hipnotizado da "vox populi" nos comícios nazistas da primeira metade do século XX. Também não se pode dizer que "dormindo a dor passa": a dor estrangula o repouso. É inegável que é uma exortação à esperança, que é uma virtude, crer que "quem espera sempre alcança"; mas, do outro lado da moeda está uma inegável apologia à inércia. Também não se pode deixar de entrever o culto à virtude da persistência no adágio "devagar se vai longe". Todavia, na sociedade hodierna da informação, do conhecimento e da acirrada competição capitalista, esse dito tende a ser retificado: "devagar é que não se vai longe". Não há absolutividade em muitos dos mais populares ditados. Eles são dicotômicos e carregam consigo sentidos opostos.

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