segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Falou e disse - I

“Destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha; não é uma coisa que se espera, mas que se busca.”

François Rabelais

Mensagem

Aproveite o tempo agora. Não deixe seus projetos sempre pra amanhã, pois o dia vindouro pode não oferecer as mesmas possibilidades de êxito do dia de hoje. Afirme-se diante das situações que precisa superar: o seu poder pessoal deve prevalecer sobre o poder da situação, por mais forte que ele possa ser. Não diga que não pode ou não consegue de pronto. Há geralmente múltiplas maneiras de se resolver um "problema". Aliás, é melhor que você veja seus "problemas" como elementos de estímulo ao progresso da sua inteligência e da sua maturidade. Se não der certo logo de cara, não desista, pois geralmente a vitória é de quem acredita nela por mais tempo. E se você acha que dizer tudo isso é fácil e que o difícil é sair do torvelinho de dificuldades que estão desafiando você, faça o difícil, aproveitando os ensinamentos fáceis e lembrando que difícil nunca foi sinônimo de impossível. Faça sua parte. Se o que você quer for para o seu bem, tenha por certo que a Providência Divina fará o resto, nem que esse resto tenha que ser um milagre. Sim: milagres acontecem...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Ainda mais menino

Frequentemente me vejo fazendo coisas de menino. Brincando como um menino. Correndo pelo apartamento como menino. Jogando vídeo-game como menino. Revendo antigos desenhos animados e seriados como menino. Trago em mim ainda o encantamento de um menino. Cai chuva e quero me molhar. Vejo o campo verdinho e quero correr. Uma piscina e quero pular. Um pé de caju de galhos carregados e quero subí-lo. Um riacho corrente e quero adentrá-lo. Eu menino. Sempre menino. Adulto menino. O menino corre no sangue que percorre as veias e artérias minhas. Sou menino na carne. Sou menino na alma. E ainda agora, pai de mais uma criança. Um menino pro menino. Um menino no regaço de outro. Dois meninos. Um menino e um pai-menino ainda mais menino.

A quem interessar possa...ouvir de novo.

Gostou? Então clica aqui e escuta mais!



domingo, 17 de fevereiro de 2008

Exploração comercial da violência

Há dois aspectos importantes relativos a superexposição da violência na TV. Em nosso estado, há pelo menos dois programas locais, de duas redes de TV distintas, especializados em promover a exploração desse tema. Geralmente, pessoas de baixo poder aquisitivo, gente pobre ou miserável, é que tem sua imagem exposta nesses veículos de comunicação, a maior parte por cometer crimes tidos pela lei como de menor potencial ofensivo ou simplesmente por estar envolvida em disenssões com vizinhos, parentes ou amantes. Esses periódicos televisivos expõem essas pessoas como se estivessem a exibir uma comédia sob uma trilha sonora temperada de impropérios e músicas que se prestam a ironizar a situação delas. Pronto: o espetáculo está montado. E quando vemos quadros assim, costumamos assistir aos que vem em seguida e, assim, estamos dando audiência a programas que efetuam a exploração comercial da violência na TV. Esse é o primeiro dos aspectos que o texto se propõe a abordar, sumariamente. Não que esses programas sejam nocivos na sua integralidade, não: eles também dão informes relevantes, prestando, pois, serviço social importante. Todavia, não se pode ignorar que a superexposição de lances de violência cotidianamente tem um efeito ruim, que constitui o segundo aspecto analisado aqui: a de que perdemos o senso de indignação com a banalização da violência na TV. Após refletir sobre esses dois aspectos, deixei de ver - eu que já não gostava - programas assim.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Execução Relativa

Quem só vê defeitos ou só vê virtudes num governo, está fazendo um juízo equivocado da realidade. Trata-se de uma postura apaixonada diante de um tema dos mais relevates dentro do ordenamento social, que é a política. Quando a tendência majoritária for a da racionalidade na administração pública - e não a da paixão, como ora ocorre - ou, como queria Platão, quando os filósofos estiverem no poder, certamente haverá o predomínio das virtudes no governo. Todo governo acerta e erra. E isso não é diferente no Estado do Piauí. Notórias são algumas virtudes do atual governo, como evidentes também são algumas incongruências. Uma delas é a relativa ao modo como o governo encara o cumprimento de decisões emanadas do Poder Judiciário. Há pelo menos duas formas de ação do Executivo quando se trata de dar efetividade aos mandos da Justiça, as quais ostentam como critério basilar o favorecimento dos servidores públicos estaduais. Mas atenção: o que aqui será mencionado doravante não nasce do desejo de criticar apaixonadamente o governo, que tem vícios, mas cujas virtudes reconheço; nasce, antes, da observação imparcial e percuciente da realidade política local, com os fatos que a movimentam. Recententemente, servidores da Secretaria da Saúde, que ingressaram no serviço público sem concurso, os chamados "serviços prestados", acamparam na Secretaria de Administração, como forma de chamar a atenção do Executivo estadual para o seu drama: são pessoas, com bastante tempo de serviço - gente com até 20 anos de trabalho - que, agora, se vêem fora da folha de pagamento do Estado: isso é um eufemismo, para dizer que elas foram demitidas. O que é que essa gente humilde, com minoradas chances de ainda ingressar num mercado de trabalho altamente especializado, vai fazer agora? Vão sobreviver de quê mesmo? A maioria é de arrimos de família e há até pessoas doentes, que precisam do seu parco, mas indispensável salário, para comprar medicação de uso controlado. Dói no imo d'alma quando a gente se depara com casos assim. Mas, em meio ao torvelinho de situações provocadas por esse drama comovente, qual o discurso do governo? "Estamos apenas cumprindo uma ordem judicial". Montesquieu exulta. É o triunfo absoluto da Teoria do Poder Tripartite no estado do Piauí. Dura lex, sede lex. A lei é também fria, um instituto insensível: o bem maior é o triunfo do sagrado estado democrático de direito. Ora, não se pode olvidar que o que é socialmente justo deve preponderar sobre a lei que, algumas vezes, tem de ser obedecida sobre o imperativo de ordens injustas, imorais e desumanas, como é o caso da ordem legal expedida em desfavor dos servidores sem concurso da Secretaria de Saúde do Piauí. No outro lado da moeda estão os mandados judiciais favoráveis aos servidores do Estado, como é o caso daquele expedido pelo Desembargador Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho, que manda o governo do Piauí, mais particularmente a Secretária de Administração, Dona Regina Sousa, corrigir o valor das gratificações de adicional noturno e vantagem extra pagas aos policiais civis e agentes penitenciários. É de domínio público a confusão que aconteceu por conta dessa ordem judicial que, por não ser cumprida, obrigou a titular da pasta da Administração no governo do Sr. Wellington Dias, a ocultar a sua localização por algumas horas para poder escapar dos efeitos de um mandado de prisão, enquanto um dos procuradores do estado, às pressas, embarcava num avião rumo à capital federal, em busca de um habeas corpus no STJ. O discurso do governo dessa vez foi: não vamos cumprir a decisão, pois isso coloca em cheque as finanças do nosso estado, inclusive com o comprometimento do pagamento da folha do serviço público estadual. O próprio chefe do Executivo, em algumas entrevistas, chegou a se posicionar assim. Montesquieu se remexe fremitamente no túmulo pois o Sr. Dias, não apenas como cidadão, mas também como primeiro magistrado do estado, deveria dar exemplo e cumprir as ordens emanadas do Judiciário. Dever seu era dar cumprimento as decisões da Justiça, depois que recorrese à instância superior para tentar derrubar a decisão. Mas a sua atitude pode ser interpretada não apenas como desrespeito aos policiais civis e penitenciários, mas também como um flagrante desrespeito a classe dos servidores públicos estaduais e, o que é pior, o mal exemplo do governador mostrou que o Piauí é um estado em que não existe plena segurança jurídica. A tese é esta: quando a decisão da Justiça é contra o servidor, seu cumprimento formal é imediato, já quando é a favor... Até hoje o governador não cumpriu a ordem judicial a favor dos policiais civis e penitenciários, Regina Sousa foi contemplada com um habeas corpus e tudo continua por isso mesmo, sem mudança do status quo. E quem houver que pense que a tese não se sustenta pela insuficiência de demonstrações, que recorde o caso dos professores da rede pública estadual, cujo sindicato perdeu um embate com seus ex-advogados, os quais conseguiram ordem para o pagamento de um montante milionário que seria descontado por longos 12 meses nos combalidos contracheques de todos os funcionários da Secretária da Educação. A postura do governo? Preparou-se para efetuar o desconto que, para o alívio temporário da classe, foi suspenso por decisão do Tribunal de Justiça do Piauí. Bela é a teoria do Barão de Montesquieu: poderes em harmonia. Pena que o governo do Piauí, na contra-mão do pensamento iluminista, em pleno século XXI, arvore sua conduta na tese incongruente da "execução relativa".

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Como deuses


Os romanos antigos adoravam vários deuses. Apenas com o advento do Cristianismo é que esse quadro começou a se modificar pois essa crença ganhava, não obstante a perseguição envidada sistematicamente por alguns césares, cada mais vez mais adeptos, tanto entre os escravos e a plebe, como entre os membros do patriciado.


Os cristãos que transitavam pelas agitadas ruas da Cidade Eterna, se reconheciam através de um sinal em cruz, que faziam discretamente com as mãos, para não serem identificados pelas autoridades e, assim, levados como conspiradores aos cárceres da cidade, como a famosa prisão Marmetina. Através desse sinal característico, cristão identificava cristão e, assim, podiam trocar, reservados, informes sobre horários e locais de culto, que geralmente se davam nos arrabaldes da cidade, madrugada adentro, no interior de catacumbas iluminadas por tochas.


Muitos cristãos eram aprisionados por centuriões nesses locais: tanto escravos e plebeus, como também patrícios. Estes, logo que identificados, eram em seguida liberados, recaindo então a justiça do Império apenas sobre as classes não favorecidas pelo nascimento. Essas pessoas eram submetidas a processo e, aquelas que não abjurassem de sua crença, jurando fidelidade aos deuses romanos, eram sentenciados ao suplício seguido de morte. E muitos resistiam com denodo às sevícias do carcére, não negando a sua condição de cristãos: foram os inúmeros mártires do cristianismo primitivo.


A consumação das sentenças se fazia, geralmente, aproveitando-se das datas de comemorações populares em honra ao imperador ou aos mais altos dignatários do Império, como os senadores. Em oportunidades assim, era usado como palco do sacrifício dos cristãos o Anfiteatro Flávio, mais conhecido como "Colosseo" (Coliseu). Divergem alguns historiadores sobre a capacidade dessa que talvez seja a mais emblemática das obras da Roma Antiga, a qual demorava entre as colinas do Celio e do Aventino. Todavia, acreditamos que a hipétese mais acertada seja aquela que defende que o anfiteatro comportava até 100 mil espectadores.


Em um de seus quatro andares se encontrava a tribuna em que o Augusto, cercado de seus áulicos, contemplava as "belezas" dos espetáculos ali apresentados. Segundo os registros históricos, espetáculos grandiosos como encenações de batalhas envolvendo até animais de grande porte e exóticos, trazidos do oriente, danças e confrontos de grupos de gladiadores entre si e de gladiadores contra feras selvagens . O martíro dos cristãos, geralmente, ficava para o final.


Alguns imperadores mais refratários à causa nazarena, como Nero, assistiam, do alto de suas tribunas de mármore, os condenados serem atirados às feras, geralmente tigres da Ásia e leões trazidos da África. Sem chance de defesa, morriam estraçalhados, sob os aplausos da turba ensadecida, sedenta de sangue. Outros imperadores mais moderados, como Élio Adriano, assistia ao sacrifício de cristãos amarrados em postes negros com grossas cordas, quase nus, que tinham várias partes do corpo atingidas por flechas envenenadas, atiradas por exímios atletas, geralmente negros vindos da Namíbia.


Nesses grandes espetáculos, aqueles que ocupavam a tribuna sentiam-se deuses. Ocupavam posição elevada, estavam acima dos acontecimentos representados na arena, como os deuses no céu, acima dos acontecimentos humanos que se desdobravam na Terra. E mais: era da tribuna que partia, por exemplo, a ordem de execução de um gladiador derrotado por outro, ou a concessão de clemência, tal como os deuses romanos que, das alturas celestiais, decidem o destino dos homens. A tribuna do Coliseu era, pois, a representação romana da divindidade na Terra.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Embora


Na segunda metade do ano passado declinei por ir embora da capital do Piauí. A disposição que tal resolução encerra nasceu do incômodo provocado pelo intenso e enfadonho calor que se abate sobre a Chapada do Corisco nessa época do ano, alcunhada de "período do br-ó-bró". Sou refratário ao calor. Minha esposa também o é. Assim, não encontrei nenhuma resistência dela ao meu propósito, pelo contrário: anuiu dizendo que concordava inteiramente com essa empresa. Fizemos planos de morar, é claro, num município onde a temperatura não nos castigasse tanto, nesses tempos de aquecimento global. Elegemos Parnaíba ou Luís Correia como futuro local de nossa moradia. Tecemos planos, projetamos sonhos. De fato, uma ou outra dessas cidades, muitíssimo aprazíveis, se adequa aos nossos intentos. Confessei à minha esposa que apenas dois receios possuo com relação a viver num desses municípios: um diz respeito a Parnaíba (a instituição em que trabalho tem sérias deficiências nessa cidade) e o outro, mais grave, tem a ver com as duas (o medo de desastres naturais - tsunamis). Mas o segundo semestre se foi, e hoje a gente voltou a respirar um ar menos seco em Teresina e sentir um agradável frescor gerado pelo advento, ainda tímido, das primeiras chuvas. Assim, pelo menos por enquanto, arrefecida está a idéia de mudança para o litoral, para muito provavelmente retornar, juntamente com o calor, nos meses de "br-ó-bró".

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A TV e o estereótipo da beleza

A maior parte das pessoas não percebe, mas acaba construindo estereótipos de beleza enquanto vê televisão e isso pode ter implicações psicológicas para ela. Geralmente, os atores das atrações televisivas, notadamente novelas e congêneres, são selecionados em atendimento a um padrão de beleza anteriormente definido, que distoa, bastante, da estética do povo brasileiro, marcada pela pluralidade. O contato constante com o padrão significa exposição repetida a imagens com que, parece claro, a maior parte das pessoas que vêm TV não se identifica. Dessa forma, algumas pessoas inclinam-se a arquitetar uma noção de ideal na qual não se reconhecem e não são raros casos de personalidades frustadas por se entenderem como fora do padrão veiculado na TV. Aí se assenta um problema de ordem psicológica: quantas pessoas, por exemplo, não deixaram de investir numa paquera e sofreram com isso, por não se acharem como um Edson Celurari ou uma Maria Fernanda Cândido. Crise de baixa estima, prejudicial: uma deformidade do comportamento sobremaneira lesiva ao relacionamento social. Devemos ser quem somos, dentro da compreensão de que ninguém é igual a ninguém e sem acrescentar nem tirar nada relativamente aos padrões que a TV veicula cotidiariamente.

Candura

É o sentimento que me envolve quando minha filhinha de cinco anos recita para mim, completinho, o belíssimo poema "Meus Oito Anos", de Casimiro de Abreu. E olha que a espertinha aprendeu na hora de dormir, quando, para niná-la, eu talvez o tenha declamado não mais que seis vezes. Que sublime momento, quando a gente faz uma espécie de dueto: eu recito um verso, ela outro. Só vendo as duas crianças!

Ciência e Religião

Quando vejo um cientista ou intelectual, encastelado no frágil abrigo da sua intelectualidade de ser cuja identidade cromossômica é apenas 0,2% dessemelhante da de um chimpanzé, defendendo e pregando o ateísmo, consigo entender como o ser humano pode ser presunçoso quando supõe que os conhecimentos que possui o autorizam a crer, racionalmente, na inexistência de Deus. Olvidam Shakespeare que, em Hamlet, nos lega à racionalidade prudente advertência, ao sentenciar que: "Há, entre o céu e a Terra, mais mistérios do que sonha a nossa vã filosofia".

E quando tais pessoas defendem a impossibilidade absoluta de compatibilização entre essas duas vigas mestras de sustenção do entendimento humano e natural, é porque estão examinando a questão do ponto de vista exclusivo daquilo que defendem: defesa cega, intolerante e, porque não dizer, apaixonada.

O que vislumbro para o futuro é o enlace inevitável entre esses dois institutos, o que se debuxa já nos dias hodiernos, de modo que serão complementares entre si até que se tornem um só instituto.

Apenas uma inteligência limitada é capaz de ser hermética quanto à admissibilidade de existência de uma inteligência superior, eterna e imutável, de onde provém tudo o que existe.

Recentemente assisti, numa aula num curso de atualização em ciências criminais que estou fazendo, nosso orientador, sociólogo e ateu, debater com uma colega, religiosa, sobre a existência de Deus. Depois de asseverar, através de alguns argumentos, que Deus não existe porque a sua existência não pode ser comprovada por meios científicos, ele arrematou, verborragicamente:

- Deus não existe! Ou você já viu esse cara?!

Professor, eu nunca vi meu pensamento, mas sei que ele existe...

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Opa!

Certo dia, num culto religioso transmitido por um dos canais da tv aberta em horário pré-matutino, o pastor de uma determinada crença religiosa - melhor não dizer qual seja - chamou ao púlpito, de onde efetuava sua pregação para o público, um homem que dizia ser cego. Impôs-lhe as mãos sobre os olhos e, de chofre, para o espanto da platéia, o homem deu mostras de que estava enxergando, olhando para todos os lados, como que absorto. O pastor, então, dirigiu-se ao seu rebanho, que a tudo acompanhava atentamente, cantando suas aleluias diante do milagre recém-operado. Foi então que numa de suas expansões verbais mais exaltadas - e menos cautelosas - no afã de tentar dar comprobabilidade ao evento miraculoso diante da multidão que o assistia, o pastor indagou do "ex-cego":

- Irmão, que que cor é essa?
- É azul, pastor!
- E essa aqui, que cor é essa aqui?
- É vermelho, pastor!
- Esse irmão era cego de nascença e agora voltou a enxergar! Glória a Deus, aleluia!

A arquitetura que sustenta a mentira rui quando as palavras são mal empregadas: é nesse momento que ela escapa; no caso em tela, de modo sutil. A mentira, mais cedo ou mais tarde, sempre cede espaço à verdade, que triunfa para o bem. A mentira sempre já traz em si o gérmen de sua própria insustentabilidade. A verdade muitas vezes é perigosa, mas o homem de bem jamais deve deixar de dizê-la.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Passado no presente

Muitas vezes, as impressões de lances menos felizes do passado teimam em se fazer presentes no tempo hodierno e não raro se sofre com isso, pois é viver mais vezes o que já passou: é uma maneira de se perpetuar o sofrimento. Todavia, não deixe de lembrar que a sua vida flui como um rio e, como tal, suas águas são correntes e as que já passaram não tornarão mais a mover o moinho com o qual você produz a substância diária de sua vida. Se outrem errou com relação a você, perdoe; se ainda não puder perdoar, empregue esforço em esquecer: de que adianta ficar alimentando rancor ou vindita? Isso também não constitui modalidade de prolongamento do sofrer e não só dilata e amplia a cadeia de dor? Lembre-se de que "errar é humano" e mais ainda de que "perdoar é divino". Agora, se foi você quem errou, peça perdão e se perdoe também. No mais, para não se ver escravo de lembranças que mais parecem fantasmas insepultos, tenha memória seletiva e pronto!

Fantasmas e véus

Se você fizer uma visita aos recônditos do seu ser, certamente se avistará com seus medos e equívocos: os primeiros são "fantasmas" que nos assombram (muitas vezes sutilmente) no dia-a-dia, obstacularizando nossos sonhos; são ilusões que precisam ser desfeitas; os segundos, são os véus que nossos impulsos, desejos e sentimentos menos felizes colocam diante da razão e que nos atrasam a felicidade. Portanto, não se deixe assombrar por esses "fantasmas" e, tão logo, excorcize-os corajosamente de sua vida, nem também olvide o imperativo de retirar de sua vista o véu que se pôs entre você e sua paz verdadeira. Trate de desfazer seus medos e equívocos, mudando para melhor.

Exercício diário

Todo dia eu me descubro mais um pouco, atendendo ao axioma socrático que nos recomenda o conhecimento de si próprios. Mas, por que é importante o conhecimento de si mesmo? Certa feita um amigo me disse que fica mais fácil a gente se dominar quando se conhece. Assim, admitida essa idéia, autocontrole requer autoconhecimento. E se você me permite o alvitre, ao final do dia, antes de por a cabeça sobre o travesseiro, visite as lembranças do dia que se finda e afira as ações que praticou durante o dia na balança da sua consciência, separando o joio do trigo, o que fez certo do que fez errado, aonde pode melhorar e o que fazer para superar possíveis más inclinações e tendências menos felizes do seu comportamento, sempre se propondo a evoluir como ser humano.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Leão

O que me ocorre, eterno e fiel amigo, é a tua lembrança insepulta por todos esses anos; a tua imagem de guarda, sereno, meigo e atento, ao meu pé, como uma esfinge que vigia o tempo. Como uma flecha, tu disparavas mata a dentro, tangendo o gado e as criações junto com a voz vaqueira do meu avô. Tu eras preciso, conhecias todos os ângulos da mata fechada. Incansável, diuturno, tu não querias nada em troca, senão o alimento em sobras e um pouco de atenção e carinho, que te era um luxo. Recordo que curvavas ante as grosserias imerecidas, mas a tua inação era antes humildade servil que covardia. Quantas vezes teus olhos não denunciaram fome e o teu corpo trêmulo, o frio. Mas com fome e frio, esquecido, muitas vezes tu atravessavas as noites sem abrigo digno, fora de casa e, não obstante, amanhecias antes do sol e dos pássaros, feliz apesar de tudo, pulando, querendo carinho, mesmo que em migalhas. Nunca deixaste de resistir a um assovio, oportunidade com que te apresentavas rápido e como que lépido, balançando graciosamente o rabo, que nunca vi colocares entre as pernas. Nem nunca refratário fostes a uma voz de comando. Nunca hei de olvidar quando a tua valentia afugentou os dois bois bravos que nos estranharam perto das Casas de Telha, tu sozinho contra chifres afiados, saístes vencedor. Soube, entre lágrimas, da tua morte, tu já velhinho, sem possibilidade de defesa, diante da arma mortal, que te cravejou de chumbo. Tu não esperavas aquilo, após tanta fidelidade. Mas enquanto eu for vivo, tu viverás através da minha lembrança, feliz, alegre e risonho, como nos tempos idos.

De graça é mais caro

Nada é mais caro, para a pessoa de bem, do que aquilo que lhe é dado de graça. Em verdade, é vendido duas vezes, por dois preços distintos: o do valor em si e o da cortesia, que não pode ser mensurado. A cortesia é um dos mais belos ornamentos do caráter.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

O melhor amigo do homem



Essa é pra reflexão. Vi no Buteco.

As três etapas da vida

Devemos gastar a primeira etapa da vida conversando com os mortos: nascemos para conhecer a nós mesmos e os livros nos transformam em pessoas. A segunda etapa devemos passar com os vivos, vendo e registrando tudo o que é bom no mundo, lembrando que "o talento se educa na calma e o caráter, no tumulto da vida". A terceira etapa, essa pertence a nós em sua integralidade: dedique-mo-la a filosofar com o que aprendemos nas fases anteriores.

Vinte e nove

Num dos dias de fevereiro é que aniversario os meus 29 anos de idade. Vinte e nove... Quantos dias ficaram para trás enquanto eu venho sobrevivendo todos esses anos... Não apenas dias com sol e lua, mas com todos os aspectos relevantes que eles para mim encerraram, cada qual com suas 24 horas. De quantos dias ainda darei testemunho? Ninguém tem essa resposta, salvo Deus. O que posso responder com certeza é que um dia irei "estudar a geologia dos campos eternos", como bem eufemiza Machado de Assis. Mas de uns tempos pra cá, a idéia da morte não me angustia tanto quanto antes. Outro dia explico o porquê disso, já adiantando que o farei sem qualquer intento proselitista. Por ora, assevero apenas que, quando menino, pensava na morte como o nada, o fim absoluto; e o meu peito se comprimia de medo; hoje, já assimilo um pouco melhor o significado desse evento que, dentre todos os da vida, é um dos poucos dos quais nossa razão porta certeza irrefutável. Na data em que faço aniversário, os momentos que aproveito com mais significado são aqueles em que agradeço à "Inteligência Suprema e Causa Primeira de todas as coisas" por mais um ano de vida; os minutos dedicados a reflexão sobre o que ando fazendo de mim por todos esses anos e em que preciso mudar para me tornar melhor; e os instantes de contato com os amigos e suas congratulações. No mais, é para mim um dia como qualquer outro. Não me sinto velho por ocasião dessa data. Me sinto precisamente como o vinho de uma garrafa.