O véu do espaço e do tempo eclipsa a visão do pretérito querido. O passado vive no presente, mas não se vislumbram, desnudados, os seus doces contornos... Tudo que se alcança são sensasões leves, mas substanciais, como se viessem propriamente do manancial de felicidade da vida. Os astros celestes se interpõe entre a luz e o degredo. Uma saudade indefinita, sem objetos precisos, comprime as fibras etéreas da alma, que desfia, na sucessão de sóis e luas, um rosário de nostalgia, indefinições e melancolia. Os espelhos, por vezes, afiguram-se estranhos no seu reflexo e me deixam detido e genuflexo. Então me ocorre que a essência da verdade não está na face fria, imediata e polida dos espelhos. A verdade só se alcança com um exercício profundo de abstração, que requer séculos de lágrimas, dores, testemunhos, sacrifícios, renúncias, enfim, provas e espiações que compõe o aprendizado da alma eterna em evolução. E na esteira desse caminho, é preciso mirar, do mundo transitório, o mundo maior, bem como a sua causa primeira, seguindo, com alta fé, na redentora travessia das portas estreitas da existência. Depois do crepúsculo da vida, anseio encontrar com a fonte que me inspira essa saudade misteriosa.
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