sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Agosto se despede

Muitas pessoas - leia-se supersticiosos - aguardam apenas o derradeiro segundo do mês de agosto para poderem respirar aliviadas. É um alívio sobremaneira esperado por elas, para uma tensão que principiou antes mesmo do mês começar e que dura, todos os anos, 31 longos dias. Setembro é recebido com flores, é o mês do alívio, do ceú do tempo aberto depois da tempestade. A vida segue agora o seu curso normal pois as perspectivas de que aconteça algo ruim descem a níveis muito baixos, na cabeça daqueles que inclinam-se a crer em agosto como mês amaldiçoado, como mês do azar. Estigmatizaram agosto, mês de tragédias e mortes ilustres; mês do desgosto, do "cachorro louco", fértil campo para o plantio, pelo destino, das desgraças pessoais dos indivíduos. Getúlio, Presley e Cleópatra são personalidades ilustres que findaram seus dias em agosto, nome que os romanos deram ao oitavo mês do ano, numa homenagem ao Imperador Augusto, o primeiro da fase imperial. Eu não temo o mês de agosto e não é que o esteja desafiando. Até que a supertição que impregna o ar nessa época do ano tenta contaminar a minha razão, mas não recuo um milímetro que seja. Por que condenar agosto? Agosto não fez acontecer mortes nem tragédias: mortes e tragédias se fizeram acontecer em agosto, como nos outros meses. Eles também não serviram de palco do tempo para mortes e tragédias? O perfume medieval ainda inebria alguns homens, aprofundando o espírito da superstição em suas almas profundamente religiosas e notadamente místicas. Essa é a conclusão a que chego. Agosto não é culpado de nada. É um mês como todos os outros. Que o tribunal da consciência de cada um o absolva.

Que patinada...



Um evento esportivo. A torcida lotando o ginásio. Nacionalismo à flor da pele. Um esquecimento constrangedor. Uma queda espetacular. São os componentes deste vídeo pra lá de engraçado. Vale a pena conferir!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Expressões machadianas

"Dormir é um modo interino de morrer"

Isso é seu, aquilo é meu...

Hoje em dia, por mais absurda que as situações possam parecer, quando elas vêm à tona, um número cada vez menor de pessoas deixar de crer em sua inveracidade. O absurdo é aceito com mais tolerância porque quando as pessoas pensam que já viram de tudo em suas vidas, eis que aponta algo que causa mais surpresa ainda do que outros fatos que ela testemunhou ou simplesmente tomou nota. Nesse diapasão, separação de casal é coisa traumática, sobremaneira para os filhos, herdeiros infortunados do sofrimento que todo evento como esse costuma causar em seus espíritos ainda carentes de blindagem emocional. Conheci um casal - um jovem casal: ela, mais velha e ele um pouco mais novo - que assitiu a noite chegar durante seis meses. Ao fim disso, dissenções agudas redundaram em separação. Ela não queria. Ele mostrava-se resoluto. Numa das discussões, ou melhor, numa das sessões em que ela apelava às coisas de significativo valor emocional para o casal, com o escopo de tentar salvar a relação fatalmente envenenada, a jovem senhora disse, entre a amargura e a esperança:
- E a nossa filha? E a nossa cachorra?
O companheiro, sem qualquer trava sentimental, bradou, duro e seco:
- Qual é o problema? Você fica com a menina e eu fico com a cachorra.
...

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Burros de carroça.

Seu trabalho é tão silencioso quanto pesado. É o bicho mais conformado que Noé salvou do Dilúvio: não obstante as severas vergastadas que recebe - muitas das quais gratuitamente, apenas por costume do condutor - ele vai em frente, ao sabor do que lhe ordenam as cochas. Não galopa, nem trota: isso é apenas para quadrúpedes libertos, de luxo. O burro não: a maior parte de sua vida jaz servindo ao homem, algemado em uma carroça, preso pelo dorso, transportando tudo o que ela pode comportar. Geralmente não pensam no burro quando vão abarrotar uma delas com entulho: é como se ele fosse sempre forte demais para suportar todo e tanto peso nas costas. Carroças em si já são pesadas, imagine quando carregadas com areia...O burro trabalha o dia todo. Sua recompensa: desvencilhar-se da carroça no final da tarde, beber água e comer capim seco em alguma esquina durante a noite fria. Sobra pouco tempo pra descanso. Mal ráia o sol e ele já veste de novo sua pesada roupa: nesse intante, a carroça é a extensão de seu corpo: o burro e ela são um só. Com carga nas costas, sob o sol, entre o frêmito das buzinas na rua, da esquerda para a direita, de um bairro a outro, ladeira abaixo e acima, vai o burro maltratado, vilipendiado, mas sempre servindo o homem em busca de sustento. Ao contrário do que se pode pensar, são poucos desses animais que empacam e não há injustiça nisso, que irrita o cocheiro urbano e os monstros de metal. Há muito tempo os quadrúpedes servem ao homem, nas regiões e condições mais inóspitas. Desde Jericó aos dias de hoje, levando pequeninos, mulheres, homens, velhinhos e tonéis d'água em seu lombo dolorido. O burro merece reverência, assim como seus parentes mais próximos, como o jumento, a mula, o cavalo, todos também usados em carroças e igualmente submetidos à tortura animal. Quanto a isso, se os diplomas legais fossem seguidos à risca e não riscados como são em nossa nação, muita gente estaria respondendo a processo judicial e condenada.

Gripe

Não é uma doença: é uma patente adquirida.