quarta-feira, 30 de maio de 2007

Uma visão lúcida sobre a polícia brasileira.

Santos na Polícia

19/4/2006 - João Ubaldo Ribeiro
A respeito da polícia, costumamos agir da mesma forma que em relação a outros grupos ou categorias. Quando falamos mal dos políticos - e não é que não tenhamos razão, é outro aspecto do problema -, costumamos descrevê-los como se eles não se originassem de nós mesmos, o povo brasileiro. Como já disse aqui algumas vezes, não são marcianos, são gente como nós, a maior parte dos quais com biografias semelhantes às nossas. Aprendemos uma espécie de defesa automática, para exorcizar o grau de responsabilidade que cada um de nós tem, quer queira ou quer não, e usamos logo a terceira pessoa: os políticos brasileiros fazem isso ou aquilo, os funcionários públicos idem idem, e assim por diante, nada conosco.
Essa síndrome da terceira pessoa talvez fosse fenômeno merecedor de um estudo sociológico, com perdão da má palavra. Nunca somos nós, sempre são eles. E isso acontece das formas mais surpreendentes. Já saí andando com um amigo ou outro, para pegar o carro dele e nos queixando o tempo todo do comportamento dos motoristas que se julgam, por exemplo, no direito de atropelar quem quer que atravesse a rua com o sinal fechado ou cometa o que ele considere uma imprudência. O amigo diz o diabo dos motoristas até entrar no carro, ocasião em que, instantaneamente, os pedestres deixam de ser nós para serem eles. E, ao volante, faz tudo o que acabava de condenar com tanta veemência. Da mesma forma se comporta quem, quando é cliente, é tratada aos pontapés, e quando é servidor, também trata o cliente aos pontapés.
Com a polícia, o comportamento não é diverso. A polícia são "eles", nunca nós. Não são homens e mulheres nascidos e criados da mesma maneira que outros brasileiros, são "eles". Claro que nunca defendi (e, aliás, não estou defendendo nada, são somente uns pontos de vista que quero expor) a brutalidade, a ineficiência ou a corrupção na polícia, nem tampouco encaro os marginais como gente fina que esta vida cruel levou ao crime, enquanto ignoro as mortes, o sacrifício e o heroísmo de muitos policiais - prática, infelizmente comum, na imprensa e em certos grupos de opinião.
Nos últimos dias, tem havido uma cobertura intensiva do crescente número de policiais mortos simplesmente porque carregam uma carteira funcional, ou vestem um uniforme. Foi polícia, tiro nele. E, porque são "eles", encaramos suas mortes como algo alheio a nós e já ouvi até gente discursando para que se aja assim, porque afinal "essa polícia merece mesmo isso", é o troco que está recebendo por não servir bem ou maltratar o cidadão.
Fico imaginando a vida de um policial honesto e, com toda a certeza, independentemente de alguma vocação, não a quereria para mim ou para ninguém em cujo destino pudesse influenciar. Agora policiais, mal pagos, mal preparados e vergonhosamente equipados convivem, ainda por cima, com a condenação à morte a que estão sujeitos, simplesmente por exercerem a profissão. E não só a condenação deles mesmos, mas também de suas famílias, da mulher aos filhos de colo. Vários deles, num ato impensável em qualquer país civilizado, mandam tirar carteiras de alguma outra profissão, para carregá-las nos bolsos quando estão de folga e assim escapar da "vingança" dos marginais. Outros escondem dos vizinhos e dos próprios filhos sua condição de policial.
E, ao que tudo indica, estamos achando isso tudo normal. Policial é policial, não só "ganha pra isso" como não é gente como nós, não tem medo, não tem fraquezas, não é sujeito a inveja, ressentimento, frustração, neurose ou até estresse. Executivo de multinacional tem estresse, dona-de-casa tem estresse, jornalista tem estresse, mas policial não, é moleza subir morro enfrentando armas de última geração e a hostilidade dos que sofrem com isso. Naturalmente, nada justifica atrocidades, brutalidade, venalidade, cumplicidade com criminosos - o que muitos policiais praticam e continuam praticando. Mas, se está muito longe de justificar, está muitíssimo perto de explicar.
Que queremos na polícia? Santos? No País em que vivemos, somente santos com vocação ao martírio seriam os policiais que desejamos. Temos o direito de querer contar com uma polícia eficiente, atuante e respeitada pela comunidade, assim como temos o direito de exigir (apesar de nunca obtermos) mais ou menos as mesmas coisas de todas as autoridades. Hoje em dia, um policial manda um carro encostar a fim de que alguma suspeita seja verificada e é logo recebido à bala. No entanto, se se aproximasse de nosso carro um policial já de arma na mão, abriríamos um berreiro no jornal, pois cidadão não é criminoso presumido, para ser abordado por um policial de arma em punho.
Verdade, mas que faríamos, no lugar desse policial? Pimenta no dos outros é sempre refresco e conheço gente que responderia - e o que é pior, sinceramente - que, se fosse policial, se comportaria como os americanos dos seriados de tevê. (Descubra o que acontece a um "cop killer", matador de policiais, em Nova Iorque e sua opinião seria um pouco abalada).
Ouso discordar. A maioria de nós que fosse levada à condição de policial agiria até bem pior do que aqueles que critica. Bastariam uns meses, ou nem tanto, convivendo com a corrupção, que vem de cima e de todos os lados, a iniqüidade, a desonestidade de parceiros, a grana curta, a execração da imprensa e do público (e quem é o primeiro a oferecer uma cervejinha ao guarda de trânsito, para ele esquecer a infração, não somos nós? quem chegou primeiro, o ovo ou a galinha?), o medo de morrer ou encontrar a família morta e tanta nojeira e pavor em que o policial é obrigado a chafurdar.
Mas não, nós queremos santos, iguais a nós, povo pacífico, cordato, incorruptível e respeitador da lei. Não temos um plano de segurança pública merecedor desse nome, negligenciamos a polícia, de que só lembramos para criticar, queremos que ela se lixe e também queremos que, em troca disso, seja exemplar. Quer dizer, queremos santidade. Não me considero exceção pessoal. Também tenho medo da polícia e também me horrorizo com muito do que ela faz. Acho que temos uma polícia que pode ser qualificada de ruim ou péssima. Mas também não acho que melhor qualificativo pode ser dado a nós como um todo, com a possível exceção de alguns padres, frades, freiras, pastores ou rabinos.
Chato lembrar, mas a nossa polícia também somos nós, não foi o Diabo que a criou; fomos e continuamos sendo nós.

Ufa!

No último dia 27 de maio fez 146 dias que o ano de 2007 começou. O(a) brasileiro(a) trabalha, em média, 146 dias apenas para pagar impostos. Quanto a estes, estamos desonerados. Agora o Estado não nos é mais credor. Um dos problemas crônicos da nossa nação é a má administração dos impostos que pagamos. A receita deles é muito mal versada, prejudicando, sobremaneira, os mais pobres. E como boa parte dessa dinheirama escorre pelo ralo da corrupção e também por carregarmos sob os nossos ombros o peso de uma das mais elevadas cargas tributárias do mundo, não sejamos invigilantes. É dever de cidadania encontrar meios para efetivamente cobrar a justa aplicação do dinheiro que a Fazenda arrecada para o erário, bem como para fiscalizar tal aplicação. O Estado é nosso credor por 146 dias. Nós somos credores do Estado 365.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Fórmula para vencer as "trevas"

Com o tempo exíguo de sempre e sem sua característica barba, que perdeu devido a leucemia que o vitimou recentemente, o saudoso Dr. Éneas evoca a concepção tântrica para propor uma solução contra as "trevas" que tisnam nosso país.



quinta-feira, 24 de maio de 2007

Hoje é dia...


...do café. Essa bebida é muito presente na vida do brasileiro. Durante muito tempo, esse foi o principal gênero de exportação do país. Os recursos oriundos de sua produção geraram capitais para que a nação começasse a se industrializar. O cafeeiro é originário da Península Arábica. Daquela região desértica, ele veio povoar as nossas mesas. Virou sinônimo de refeição matinal e também eufemismo para propina ("aqui pra você tomar um cafezinho"). O café é o cartão de boas-vindas das choupanas sertanejas, o calor do compadrio em rodas enluaradas de prosas noturnas. É passatempo nas filas dos bancos e nas cadeiras das salas de estar dos consultórios médicos. Alimenta o charme nas glamourosas rodas de conversa da elite. O café é uma bebida democrática, é bebida de pobres e ricos. É a luz da sentinela forçada dos estudantes. Junto ao chá, enche os copinhos de plástico no ambiente lúgubre dos velórios. É o antecessor das tragadas malignas da fumaça do tabaco. Misturado à coca-cola, é o sobressalente do rupinol nas estradas. Estimulante das atividades cerebrais? Não bebo mais café por causa da gastrite. Agora sou refratário ao café, assim como Rui Barbosa. Mas o café teve seus fãs famosos. Voltaire foi um deles. Certa feita, advertiram-no de que o café era "um veneno que matava aos poucos", ao que o expressivo pensador iluminista teria respondido: "Não vejo problemas. Não tenho pressa alguma em morrer." Vai um cafezinho aí?

Da série: "Adesivos em carros".

"Devo tanto a tanta gente, que se chamar alguém de 'meu bem' o banco toma".

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Velhos e bons tempos.

Diretamente da minha sessão "Nostalgia", no Youtube, um vídeo hilário dos trapalhões fazendo uma encenação cômica da música "Teresinha", de Chico Buarque.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Polícia Federal


Pelas sucessivas operações que tem realizado, dando mostras cabais de sua qualidade funcional, pautada em ações planejadas e muito inteligentemente organizadas, essa corporação vem consolidando cada vez mais a sua credibilidade institucional junto a nação. Parabéns para a Polícia Federal. Que ela siga firme, dando sua cota de contribuição para a diminuição, em nosso país, da corrupção, que prejudica, sobretudo, os mais pobres. Ela faz como deveriam fazer as Polícias Civis no Brasil: investigar para prender e não prender para investigar.

Hoje é dia...

...dentre tantas, "da última flor do lácio, inculta e bela". Alguns a maltratam tanto, que imagino Camões a sacodir-se no além-túmulo. Outros a usam de forma tão erudita, que a tornam hermética e árida. A língua tem extremos, quando a sabedoria está no justo equilíbrio entre eles, qual seja, o meio. Nessa seara, importa mesmo é se fazer compreender, sem achaques grosseiros mas também sem os exageros do rebuscamento. Ainda podemos aproveitar esse campo, para invocar a sabedoria romana, que nos assevera que as palavras nos exortam ao cuidado: depois de enunciá-las, somos delas escravos.

sábado, 19 de maio de 2007

Um pouco de poesia


Flor de Ipê

Macia flor do ipê
Sereno de paixão
Em coração abandonado
Que te sentindo, palpita,
Intenso e ancioso
Esperançoso em ser amado.
1997

sábado, 5 de maio de 2007

O impulsivo Nélson Piquet

O que o grande Piquet tinha de gênio, tinha também de impulsivo. Que o diga o chileno Eliseo Salazar!


Sabedoria nossa de cada dia


sexta-feira, 4 de maio de 2007

Polícia de galinhas

E quando a gente pensa que já viu de tudo nessa vida, eis que elas entram em cena para por ordem no recinto. Vale a pena conferir no link abaixo:

http://z003.ig.com.br/ig/36/03/104707/blig/sitesqueamamos/2007_04.html#post_18827853

Poesia

A voz dos sentimentos humanos mais profundos é a poesia, já dizia um dos maiores poetas que o mundo conheceu, o chileno Pablo Neruda. E já que toquei no nome dele, aqui uma sugestão para quem gosta de gatos: leiam o poema "Ode ao gato", de sua autoria. É fantástico. Voltando agora a poesia (, mas nem havia saído desse tema?!)...Encorajo-me a dizer que todos nós temos poesia dentro de si. Alguns jamais irão manifestá-la. Levarão-na consigo às estâncias da morte. Outros a manifestam de modo sazonal (penso que talvez me encaixe aqui) e outros têm a poesia à flor da pele e conseguem transformar tudo para linguagem poética. Ainda há aqueles que conseguem fazer de suas vidas, uma poesia. Esses são os poetas práticos, como os mártires e os líderes carismáticos. Nesse aspecto, não podemos admitir a poesia ligada ao mal, caso contrário, Hitler teria sido o "poeta do sangue e da loucura sem limites". A poesia está ligada ao bem. A poesia não admite o maniqueísmo. Mas algemada ao bem, ela é capaz de expressar a dor e a tristeza, a angústia e a nostalgia, a paixão e o horror. Poesia é a arte latente que anima a alma humana a transformar o sentimento em palavra. E quanto mais precisamente se consegue a expressão do sentimento na forma verbal, melhor será o poema, a poesia condensada em letra e papel. Ainda bem que existe a poesia. Através dela, percebemos o mundo ainda mais belo.

Sabedoria nossa de cada dia


"Quem pode faz. Quem não pode ensina"

George Bernard Shaw


Escritor irlandês

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Sabedoria nossa de cada dia



"Geralmente as pessoas que sabem pouco falam muito e as que sabem muito falam pouco"

Rousseau

Duas luas


Em maio de 2007, o lobisomem aparecerá duas vezes. Não entendeu? Explico: é porque neste mês haverá duas luas cheias. Trata-se de fenômeno raro. A última vez em que isso aconteceu foi em 2004.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Em caso de dúvida...

Quem nunca se viu às voltas com uma dúvida? As vezes elas são cruéis conosco, porque nos colocam diante de escolhas as quais ainda não estamos preparados para fazer por pairar, sobre o futuro, a sombra da incerteza que envolve as consequências das nossas opções. A poucos é dado o dom de vaticinar com precisão. O restante sofre, ajoelhado diante das dúvidas. A existência de cada um de nós toma a direção de nossas escolhas de vida e suas consequências inevitáveis. Portanto, a perícia ao lidar com as dúvidas é quesito fundamental no aprimoramento que devemos fazer na arte da escolha. O que fazer em caso de dúvida? Algumas pessoas usam exclusivamente a razão. Outras, somente o coração, guiadas misteriosamente pela intuição. Não seria melhor equilibrar esses aspectos na balança da consciência, para que ela aponte a solução da dúvida? Irrefutável a relevância do uso da razão quando desafiamos a dúvida, mas parece sensato crer que sua utilização não excluí necessariamente o uso do coração. Nesse particular, cumpre-nos lembrar Baltasar Gracián, pensador de Espanha, que no século XVII aduziu, muito acertadamente, que o coração "é o oráculo caseiro".

Sabedoria nossa de cada dia

"Um amigo é uma alma em dois corações"
Aristóteles

terça-feira, 1 de maio de 2007

Saudades


Por vezes sem conta, o domingo de milhões de compatriotas foi feliz por sua causa. Não, não estou falando no Faustão nem muito menos no Gugu. Refiro-me a um brasileiro que não brincava em serviço: AYRTON SENNA DA SILVA. Há treze anos, a curva Tamborello nos arrancou dolorasamente o tricampeão. Entretanto, sua lembrança é inolvidável e a alegria que nos fez sentir, ainda palpita em nossas almas, gerando um misto de alegria, dor e saudade. Recordo que no dia do rompimento da infamante barra de direção e logo após o lúgubre anúncio da partida de SENNA para alhures, fomos ao campo, numa chácara que papai tinha na zona rural de Campo Maior: ele nos privava, profundamente chateado com o acontecido, das próximas cenas desse capítulo tão infeliz da história esportiva da nação. Nunca mais o Hino da Vitória iria soar da mesma forma... Perplexos, nós e a nação, golpeados por esse lance fatal e impiedoso do destino, também tombamos juntos com o nosso inesquecível AYRTON. Saudades!

Sabedoria nossa de cada dia

"É mais fácil desintegrar um átomo que um preconceito"

Albert Eisntein

A última palavra


Certa feita conversava com um amigo, integrante do oficialato da Polícia Militar do Piauí e ele me disse, com semblante fechado, que em seu lar a última palavra era sempre dele:


- Sim senhora!

Perpetuação da espécie


O inolvidável Francisco de Assis, santo da Igreja Católica que viveu na Europa medieval e que era conhecido como Poverello (pobrezinho) - por ter vivido e exemplificado a pobreza - asseverava que são dois os instintos mais enraizados no ser humano: o da sobrevivência e o da perpetuação da espécie. Na esteira do respeitável pensamento do nosso honorável personagem, o primeiro dos instintos nos conduz a reflexão sobre o medo que temos da morte, uma das poucas certezas da existência. Nesse aspecto, a vida me tem mostrado que a melhor conduta diante da certeza dessa ocorrência inevitável é a de assumir o significado da morte. Assim sendo, cada um deverá fazê-lo segundo a idéia (religiosa ou não) que explique o seu significado. Sem quaisquer intenções proselitistas e jamais desmerecendo outras correntes religiosas, mas apenas para expor a minha modesta opinião, afirmo que, dentre as doutrinas religiosas com as quais mantive contato, a espírita kardecista é a que me parece ter maior fundamentação racional na explicação desse fenômeno, ao propor a existência e imortalidade do espírito e a necessidade de seu aperfeiçoamento através da reencarnação. O segundo instinto em questão, o da perpetuação da espécie, nos leva a considerar o meio que a provém: o sexo. Nessa seara, no nosso entendimento, há uma diferença quase substancial no modo como os sexos opostos (ou melhor é considerar "sexos complementares"?) dão vazão a esse instinto. A observação de casos da realidade tem me mostrado que o homem não possuí o nível de controle desse instinto que as mulheres possuem. Trocando em miúdos: o homem enfrenta maiores dificuldades para "segurar as rédeas" do seu instinto sexual do que as mulheres. Estudos biológicos acerca da evolução das espécies apontam que o sexo masculino teria "programado" em seu arcabouço genético a "missão" de procurar o maior número possível de fêmeas para copular e, assim, promover uma maior propalação da sua espécie. Essa "responsabilidade" teria ficado a cargo desse sexo porque não é ele quem gera e, após a geração, tem a função de cuidar da prole, o que demanda tempo e dedicação quase exclusivos. Isento dessa tarefa, ele seria livre para espalhar, o máximo possível, a sua descendência. O homem teria herdado essa "programação" e talvez isso explique a sua tendência em trair mais que a mulher, muito embora pareça que este quadro está se alterando nos dias de hoje. Longe de intecionar propor qualquer justificação para uma pretensa "naturalidade" da traição masculina, aqui está exposta apenas uma idéia no vasto campo da relatividade sobre essa temática. Eu já dei a minha contribuição para a perpetuação da espécie (foto acima). Viverei gerações à frente através da minha prole. De certa forma, fui mesmo feito "à imagem e semelhança de Deus", no quesito eternidade.

Lao-Tsé e eu



Sempre contemplei os acontecimentos da vida com certa naturalidade, desde os mais simples até os mais impactantes, como a morte. Nesse sentido, poderiam me considerar taoísta. O Taoísmo, corrente religiosa da tradição chinesa, adversária do Confucionismo na cultura religiosa do mundo oriental, surgiu a partir das pregações de Lao-tsé (que em português significa "Velho Mestre"), que teria vivido entre 604 e 531 a.C. Sua sabedoria está condensada em seu livro "Tao Te Ching". Sua doutrina possuí um intenso conteúdo místico. Sempre tive um lado místico. Comprava aquelas revistinhas que ensinavam a jogar cartas de baralho, outras que ensinavam "simpatias" e já até ensaiei tarô. Isso foi na minha adolescência. Talvez possa interpretar tais condutas como manifestações de uma espiritualidade florescente, que não sabia muito bem como direcionar. Estudando os ensinamentos de Lao-tsé, cheguei à descoberta de que muitas de minhas condutas de pensamento coincidem como o que preceitua o Taoísmo. Ao renunciar, muitas vezes, a atos de minha vontade...Ao ignorar o meu sucesso ou a minha desgraça...Ao contemplar o curso natural das coisas, mas me preocupando com a conveniência do momento de agir ou de me abster de fazer algo...enfim, ao aderir placidamente ao ritmo da vida, pude observar que tenho muito mais de Lao-tsé em mim do que algum dia supus imaginar.

Necessidade de espiritualização


Todos os que admitem a transcendentalidade têm alguma demanda em termos de espiritualidade. Entretanto, as tarefas cotidianas, os desejos e as preocupacões temporais do mundo material, são fatores que concorrem para vendar a inteligência quanto a busca espiritual que toda criatura humana pode (e na minha opinião deve) fazer. Destarte, os aspectos acima elencados colaboram para a não satisfação dessa necessidade de espiritualização que todos nós possuímos. Vivemos hodiernamente na sociedade da informação e do conhecimento tecnológico, mas isso não deve excluir a importância de conhecermos melhor e mais a fundo o nosso lado espiritual. E isso vem a ser indispensável porque, nesse processo, nos autodescobrimos e se nos autodescobrimos temos grandes chances de nos dominarmos com mais eficiência para superarmos as más inclinações que possuímos. Em suma: tornamo-nos melhores e mais felizes como pessoas humanas ao nos espiritualizarmos. Ficamos mais preparados para suportar os rigores das intempéries da vida a que todos nós, sem exceção, estamos sujeitos. A sociedade atual precisa superar os valores que têm, na sua gênese, o egoísmo, quais sejam, o materialismo, o individualismo, a cultura global de violência (que já atingiu níveis realmente muito preocupantes) e outros. Apenas as ações dirigidas dos govervos para a eliminação dos sistemas sociais injustos é insuficiente para minar tais valores nocivos ao corpo social, muito embora represente relevante passo nesse sentido. Parece-nos justo crer que práxis governamentais dessa natureza conjugadas ao alcance e vivência de novos valores espirituais pela humanidade, são imprescidíveis para que se tenha um mundo melhor. Daí a necessidade de espiritualização, já.

Campo Maior


A minha cidade natal. Um dos primeiros núcleos populacionais do Piauí. Conhecida mundo a fora por alguns como "terra dos carnaubais"e, por outros, como "berço de heróis", sendo ainda bastante famosa por ser considerada a "terra da carne do sol". Debrucemo-nos sobre essas denominações. De fato, Campo Maior faz jus a primeira delas, pela grande concentração da "árvore da providência" existente em sua área territorial. Certa feita um amigo cujo pai foi ou ainda é empresário do setor de beneficiamento de cera de carnaúba, asseverou-me que apenas uma outra cidade localizada na África e que guarda posição de similitude com Campo Maior em termos de distância da Linha do Equador, é que teria carnaúbas tanto quanto ela. Nada oficial, entretanto. Relativamente a ser "berço de hérois", os fatos históricos falam por si só...pena que poucos conheçam tão pouco os acontecimentos transcorridos naquelas paragens no limiar da segunda década do século XIX... e mais lamentável ainda é saber que muitos que conhecem o que aconteceu, não tomam ou tomaram a ocorrência como referencial de inspiração para honrarem a memória dos que se sacrificaram, buscando fazer a sua parte nos esforços conjuntos para conferir, à nossa gente, uma vida mais digna, tornando a cidade um melhor local para se viver. Hoje, a maioria da população tangencia a linha da pobreza. Já com relação ao título "terra da carne de sol", esse também nos parece merecido. Difícil resistir a semelhante iguaria. Realmente, o sabor é peculiar. Entretanto, fica claro que transferiram o teor de cloreto de sódio da carne para o seu custo pecuniário: que salgado seu valor! Mas vale a pena pagar. Não quero desencorajar ninguém a que deixe de provar. Importa notar que não somente os títulos honrosos explicam traços da cidade. Ao longo do tempo foram aparecendo, criados pela sabedoria popular, alguns predicados negativos que tisnam sua imagem. Dentre os quais, o que merece maior destaque talvez seja o que diz: "terra do já teve". Já teve "Radar". Já teve "Cine Nazaré". Já teve "pedalinhos no açude". Já teve "Ibama". Já teve "Fripisa". Já teve "Senador". Já teve "tranquilidade". E outros "já-teves"... Parece que o povo tem a sensação de que Campo Maior parou no tempo. De que a cidade era pra ser e o que principiou a ser começou a acontecer e por algum motivo não aconteceu mais. Quem sabe é isso que explica essa sensação de "já teve", que seria uma amálgama de nostalgia e desilusão. Mas já passou da hora de superar essa mentalidade. A desilusão com o que era pra ser, não deve se converter no grilhão que nos obstaculariza fazer o presente, pelo presente e para o futuro. O único "já teve" que cada habitante deve recordar é o "já teve a síndrome do 'já teve'". Seria interessante uma campanha para resgatar a auto-estima do povo. Fica a sugestão para os poderes constituídos municipais. Fora isso, é muito razoável que cada um faça a sua parte, no sentido de fazer o melhor pela cidade e pelo seu povo. É preciso ir a campo e vislumbrar, além do horizonte, um futuro maior.

O que será exposto nesse blog

Expressões sobre os mais diferentes temas, dentre os quais acentuo: história, filosofia, literatura, políticas local, nacional e internacional, religião, ufologia, educação, culturas local, nacional e global, música e outros mais azados. Também peço permissão para deixar nesse espaço registros de fatos que vivi e de lições que aprendi na minha infância, adolescência e idade adulta, as quais se revistam de uma possível utilidade teórica e prática para os leitores, os quais e seus comentários, são muito bem-vindos. Ex positis, mãos à obra.

Palavras inaugurais

Recordo que cresci testemunhando o equivocado entendimento de que escrever em diário era "coisa de menina". Na minha infância e adolescência, a bem pouco tempo havidas, esse era um hábito comum entre muitas de minhas colegas. Nunca vi um só amigo que cultivasse esse costume. Os meninos tinham outras coisas a que ligavam mais importância: jogar bola, andar de BMX ou de Caloi, jogar no "jurássico" e saudoso Atari 2600, entre outras atividades ditas "próprias" de meninos. Eu também gostava dessas coisas e as fazia. Entretanto, também sempre senti vontade de externar impressões sobre o meu mundo interior e o que via acontecer ao meu redor. Mas eu não tinha diário como as meninas. Penso que essa vontade pode ser explicada, dentre outras coisas, pelo fato de que eu era (e ainda sou) uma pessoa muito sensível. Sensível como as meninas, apesar de menino. Aliás, sensibilidade é um dos predicados que, em muitos casos, diferencia substancialmente o homem da mulher e que vem a ser digna de louvor, da nossa parte. Não que não existam homens sensíveis, isso não existe: todos os homens são sensíveis, uns em menor, outros em maior grau. Esse meu impulso para expressar o mundo muitas vezes me deixava introspectivo: outra característica que possuo. Naquela época, minhas colegas usavam o meio material: diários com páginas cor de rosa, ponteados por flores e recheados de segredos. Se elas ainda escrevem hoje, talvez tenham trocado o meio físico pelo virtual. Como as coisas mudaram, como muita coisa está transformada de uns tempos pra cá e isso, em muitos casos, chega a ser espantoso. A minha estréia no hábito de "escrever em diário", representa a satisfação de antigo desejo. Realizo-o hoje, através desse Blog. Isso não é, nem nunca foi, "coisa de menina".