sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Reflexão sobre o Brasil - Parte II

De quem é a culpa das mazelas existentes no Brasil? Das circunstâncias históricas que forjaram a nossa composição como nação? Em parte sim, não há como desprezar essa variável; mas há bastante tempo que a responsabilidade pelos problemas tupiniquins deixou de ser devida centralmente a isso. A resposta mais adequada aos tempos atuais é a de que a culpa é coletiva. Isso mesmo: todos nós devemos partilhar essa culpa, essa responsabilidade, não importa a posição que tenhamos dentro do tecido social. E ao considerarmos a justeza dessa colocação, nos deparamos com um paradoxo de assombrar: quando a culpa é de todos, parece que é de ninguém. Isso se reflete na indiferença nossa de cada dia às feridas que cotidianamente são abertas no corpo da nossa nação. Nos portamos confortavelmente à frente da TV e, ao nos depararmos com casos escabrosos, ficamos até indignados, bradamos impropérios, xingamos os políticos... mas é só: tudo é de momento. Basta um simples toque no botão off do controle remoto e olvidamos tudo, como num passe de mágica. É como se desligar a TV sepultasse os fatos ignominiosos nos recônditos mais obscuros da nossa memória. O comodismo, infelizmente, é uma das chagas do povo brasileiro, sobretudo no que diz respeito àqueles que possuem mais ilustração e preferem se conservar sentados em suas poltronas aveludadas à envidarem ações práticas contra o que consideram absurdos nacionais. Multiplicam-se tanto aos nossos olhos e ouvidos os fatos repugnantes, que a nação hoje é assolada pelo fenômeno da banalização pela TV. Banalização dos escândalos políticos de corrupção, banalização da violência, banalização da fome, da pobreza, da injustiça, das pessoas morrendo no trânsito ou por falta de atendimento nos hospitais da rede pública. Para grande parte do povo brasileiro, o absurdo e inadmissível se tornou singelamente "comum". Aqui cabe uma reflexão um pouco mais profunda do caso. O que acontece é que aquilo que não é comigo é o que se torna comum. Há verdade nisso. Tanto que quando o fato absurdo recai em desfavor de nós próprios ou de nossos familiares ou amigos mais íntimos, é frequente o uso da expressão: "a gente pensa que isso nunca vai acontecer com a gente".

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