sábado, 28 de julho de 2007

O amor

Cantado em prosa e verso, do limiar dos tempos até agora; musicado, rimado com dor, humor, eis o amor, a substância da vida. Não confundir com paixão, o estopim de um poderoso coquetel químico que, uma vez circulante por nossos vasos - e isso é muito comum principalmente na adolescência - libera substâncias vaso-constrictoras, que dão aquela sensação de aperto no coração, como quando acontece quando se vê o desejado parceiro ou parceira. Amor e paixão distoam, são notas muito diferentes na composição sublime da existência humana. Ponho em relevo as sábias palavras do Apóstolo do Gentios, quando sentenciou que "o amor é santo, mas a paixão é venenosa". Parece que esse axioma distancia esses dois sentimentos, ao revelar a natureza de cada um deles. Não se mata por amor, mas se mata por paixão, paixão violenta. Nesses casos se vê de modo cristalino como a paixão degenera e facilmente cede campo para sentimentos inferiores, tais como o ciúme. A paixão arrebata a criatura humana a sensações incomuns que muitas vezes furtam ao apaixonado a consciência plena de sua realidade circundante, alçando-o a momentos oníricos, em que tal criatura não raro envida ações que fogem totalmente à sua conduta habitual, levando-o a lances de vida que outras pessoas jamais pensariam que o apaixonado fosse capaz de experimentar. As aventuras fora do casamento são um exemplo clássico das consequências de uma paixão indomável. Importa notar que as paixões não são perenes. Não existem reações químicas intermináveis. É por isso que se costuma dizer que os apaixonados acordam de seus sonhos e dão de cara com a realidade: é aí que param para pensar no que foram capazes de fazer e não raro estranham seus comportamentos se perguntando: como pude fazer isso ou aquilo? A maioria das pessoas que diz estar amando está, em verdade, apaixonada. Bastam dois ou três dias de namoro (ou seria "ficação) para que um diga ao outro: "Ah, como eu te amo..." sem realamente avaliar a verdadeira dimensão do significado do amor. São expressões do gênero: "Você é minha alma gêmea..." que uma convivência de mais alguns dias diluirá pela ação das evidentes diferenças entre um e outro. Ai será a vez de entrar outras expressões: "Foi bom enquanto durou...", "Não está rolando mais aquela química entre nós...", "Você não é mais o(a) mesmo(a)..." Observando a vida depois de 28 invernos, seis deles sob matrimônio, arriscaria asseverar que o amor - falo aqui do amor entre homem e mulher - comumente, na maioria dos casos, é o rebento dos dias de convivência...é algo que se atinge, que se conquista com o passar dos dias... é um estado de consciência reflexo do amadurecimento emocional de dois seres que caminham juntos na mesma estrada cotidiana. Galhos diferentes, mas com a mesma raiz, são os amores de pai, de mãe, de irmãos, de amigos. Sentimento perene o amor, tão sublimemente cantado por Camões nos Lusíadas, tão simplesmente definido por Miramez como a "reunião de todo o bem".

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