sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Piedade

Outro dia minha filhinha de cinco anos viu vários bodes amarrados no chão, colocados juntos um do outro. Eles berravam sem parar, passando às almas mais sensíveis a impressão de que faziam um apelo diante daquela situação humilhante em que se encontravam. Tanta foi a comoção da minha pequena rebenta com aquela situação - que se afigurava penosa aos seus ingênuos olhos - que ela disparou a chorar, piedosa e convulsivamente. Eis aí um gesto puro de amor à criação divina: vindo de uma criança e relativamente a um ser diferente de sua espécie. Devassando os escaninhos de minha memória, acode-me à lembrança a minha postura diante dos animais que eram sacrificados em casa de meus pais, nos venturosos dias de minha infância, para o deleite dos paladares domésticos. Não raras vezes escondia facas, esperneava, protestava, para que não navalhassem o pescoço depenado das galinhas. E como último apelo, chorava, em vão. Não lembro de ter demovido uma única vez minha mãe de tais intentos, mais eu atrapalhava a morte desses animais, dando-lhes uma pequena sobrevida. Eu e minha filha, por óbvio, somos pessoas diferentes. Todavia, há inúmeros pontos de intersecção entre nossos caracteres afins. Um deles é o sentimento que temos pelos animais. Talvez o que ela sinta hoje, diante de qualquer ameaça a um animalzinho, seja parecido com o que eu sentia outrora: piedade profunda. Quem sabe ela será admiradora do Poverello de Assis, assim como eu, e talvez oculte objetos cortantes e vá até mais longe, sendo vegetariana, uma vez que os filhos, em tese, devem ser melhores que os pais, assim como "o bom discípulo é aquele que supera seu mestre".

Um comentário:

Adelia Campelo disse...

Olá Hércules, primeiro de tudo, obrigada pelo q falou no Meu Jardim gostei muitíssimo do seu ponto de vista sobre amor X paixão.

Quanto ao post Piedade, que bom q sua pequena nutri esse tipo de sentimento pelos animais, com certeza ela será uma adulta mais responsável e consciente da importância que trazem os sentimentos de amor e compaixão, e de certo começa assim: ela sente isso pelos animais e com certeza sentirá pelo semelhante; outro homo sapies do porte dela. Isso nos faz ver o quanto ainda temos que transmitir de Educação aos nossos jovens e o quanto podemos ver que nossa responsabilidade vai além da mera transmissão dos genes aos filhos. De fato, sua filha, deve ter herdado o mesmo gosto pelo o bem da humanidade. Parabéns pra ela, pk ela descobriu o mundo.

Abraços.

P. S. vou colocar o link dos seus blogs no meu orkut e no cantinho das margaridas e dos girassóis lá no Meu Jardim.