segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Tipos de amigos
Existem os amigos que valorizam a sua pessoa e há aqueles que valorizam a sua posição.
sábado, 13 de dezembro de 2008
Na sorveteria
Outro dia estava numa sorveteria com minha família quando vi um homem encostar sua bicicleta pelada e incolor em frente ao estabelimento. Tratava-se de um jovem; todavia, a pele queimada de sol, as mãos grossas, a cabeleira dura como se estivesse petrificada de pó, os olhos fundos e o semblante profundamente abatido não casavam com a pujança da vitalidade que se espera e que é normal para uma pessoa naquela fase da vida. O rapaz se aproximou e, com um gesto humilde (quase reverente), pediu licença para me falar. Evidentemente consenti e passei a escutá-lo com atenção. Disse que estava ali pedindo um auxílio, pois se deslocara de um bairrro distante para o nosso bairro, a fim de vender esterco para o pessoal que trabalha na horta comunitária do Dirceu Arcoverde. Ele estava ali, na minha frente, rogando de mim uma ajuda em dinheiro, porque a venda não houvera sido boa: busquei a bicicleta e dela pendiam dois sacos da dita matéria orgânica aproveitada como fertilizante natural. Fabiano era como se chamacva aquele rapaz que não estava em mendicância: disse-se um homem casado, pai de três filhas, morador suburbano de Teresina e que estava enfrentando graves dificuldades de ordem material; era, enfim, um pobre trabalhador brasileiro, ou melhor, um trabalhador brasileiro pobre. Quem estava diante de mim era um homem que narrava, entre o desespero e o pesar, a fome de sua inocente descendência, a doença implacável que consumia lentamente a vida de um irmã agonizante a quem dera abrigo em sua choupana. Apenas uma alma cega, surda ou de pedra não se sensibilizaria com aquela visão e o apelo que emanava daquelas palavras, emitidas numa espécie de desespero silencioso, mas transbordante daquele cidadão do Brasil. Senti um aperto, uma vontade de chorar, uma dor daquelas "na alma". Todavia essa dor subjetiva não se aproximava da dor que ele estava sentindo naquela tarde escaldante na Chapada do Corisco: dor amalgamada à cansaço, desilusão e suor e com um forte tempero de desesperança; dor evidente, estampada em cada ângulo do seu semblante achacado pela vida e vilipendiado draconianamente pelo destino. Senti essa dor porque procurei entendê-lo em sua dor. Imagine a dor de quem está na pele dele. Ver um filho pedir um presente e não poder satisfazê-lo em seu desejo é difícil, quiçá testemunhar a fome dos filhos e ver que o grande esforço que se faz para saná-la resulta no pouco ou muito pouco que caracteriza a situação de miséria. A mente menos incauta poderá pensar: e o Bolsa Família? E os outros programas sociais do Governo Federal e das administrações locais (estadual e federal). Cada caso é um caso. Cada família tem as suas necessidades, os problemas que aparecem repentinamente e que demandam dinheiro que não sobra ou que já tinha sido aplicado na satisfação inadiável de uma necessidade crucial. Desejei sorte a Fabiano, enquanto minha alma vibrava um misto de compaixão e culpa. Não se assute: eu disse c-u-l-p-a, com todas as letras. Como podemos ajudar na construção de um mundo socialmente mais justo se cada um de nós se mostrar indiferente com a miséria de nossos irmãos de humanidade, como se o problema estivesse a milhas de nós e não fosse nosso? Se todos fazemos parte do mesmo "contrato social" então somos culpados e urge que o contrato seja revisto. Desejei boa sorte ao Fabiano, enquanto pedia mentalmente a intercessão divina por ele e sua família. Antes de ir, ele deixou o seu telefone e disse que se eu soubesse de uma oportunidade de emprego que eu desse essa chance a ele, indicando-o. Tomou então sua bicicleta e perdeu-se ao dobrar a esquina, levando a sua dor e deixando a reflexão que externo com esse texto.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Falta algo
Falta alguma coisa na vida. Algo essencial. Algo que não se relaciona à materialidade de uma existência corpórea passageira, mas que está além, muito além dela. Sem esse algo, não se pode "ser" em plenitude, não se pode atingir o equílibrio interior. Têm-se que buscar, para se achar...
Finalmente
Parece que a estação chuvosa (oh! bendita estação chuvosa!) começou. A diminuição do calor e a elevação da umidade do ar causam um impacto sadio na gente: aumenta o ânimo, recrudesce a disposição...parece que o espírito se renova, rejuvenesce. Finalmente vou poder fazer cooper sem ficar com aquela sensação de falta de ar, com a garganta tão seca como um rio de sertão. Finalmente vou colher a brisa fria da noite na sacada do meu apartamento, vislumbrando as estrelas, como costumo fazer nas noites de inverno. E se vierem coriscos e trovões e rajadas de vento? Eu me escondo embaixo do lençol sobre a minha cama, exatamente como fazia na aurora da minha vida. Seja bem-vindo, período invernoso. Saúdo o coaxar dos sapos que me saúdam e que deixam o úmido das tocas para caçar os insetos noturnos! Saúdo o orvalho matinal que embebeda de encanto as folhas e flores e frutos das árvores. Saúdo a vida mais vida do inverno!
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
...
Nada importa ao desalentado
Que sai pela porta
Triste, calado
Com seu peito que encerra
Sua dor
A dor do mundo
Na tarde quente
Que banha o corpo
De suor profundo
Nada importa ao desalentado
Nem a chama morta
Nem a cruz do Corcovado
A espada sem bainha
É a rainha
Do seu desejo tresloucado!
Nada importa ao desalentado
Que segue no sereno
Tristemente machucado:
Nem a flor assando no asfalto
Nem a dor do cobalto!
Nada importa ao desalentado...
...
Nada importa ao desalentado
Que sai pela porta
Triste, calado
Com seu peito que encerra
Sua dor
A dor do mundo
Na tarde quente
Que banha o corpo
De suor profundo
Nada importa ao desalentado
Nem a chama morta
Nem a cruz do Corcovado
A espada sem bainha
É a rainha
Do seu desejo tresloucado!
Nada importa ao desalentado
Que segue no sereno
Tristemente machucado:
Nem a flor assando no asfalto
Nem a dor do cobalto!
Nada importa ao desalentado...
...
sábado, 29 de novembro de 2008
Fragmentos do Homem e Sua Hora
Um dos aedos piauienses por que tenho grande predileção é Mario Faustino. Dono de uma lírica "politonal e reflexiva", o poeta consegue "transfundir os motivos lírico-afetivos em temas universais" de forma peculiar. Desencarnou em 1962, com 32 anos de idade, vítima de desastre aéreo.
Transcrevo abaixo alguns de seus poemas de que mais gosto.
EGO DE MONA KATEUDO
Dor, dor de minha alma, é madrugada
E aportam-me lembranças de quem amo.
E dobram sonhos na mal-estrelada
Memória arfante donde alguém que chamo
Para outros braços cardiais me nega
Restos de rosa entre lençóis de olvido.
Ao longe ladra um coração na cega
Noite ambulante. E escuto-te o mugido,
Oh vento que meu cérebro aleitaste,
Tempo que meu destino ruminaste.
Amor, amor, enquanto luzes, puro,
Dormido e claro, eu velo em vasto escuro,
Ouvindo as asas roucas de outro dia
Cantar sem despertar minha alegria.
DIVISAMOS ASSIM O ADOLESCENTE
Divisamos assim o adolescente,
A rir, desnudo, em praias impolutas.
Amado por um fauno sem presente
E sem passado, eternas prostitutas
Velavam por seu sono.Assim, pendente
O rosto sobre um ombro, pelas grutas
Do tempo o contemplamos, refulgente
Segredo de uma concha sem volutas.
Infância e madureza o cortejavam,
Velhice vigilante o protegia.
E loucos e ladrões acalentavam
Seu sono suave, até que um deus fendia
O céu, buscando arrebatá-lo, enquanto
Durasse ainda aquele breve encanto.
ONDE PAIRA A CANÇÃO RECOMEÇADA
Onde paira a canção recomeçada
No capitel de acanto de teu lar?
Onde prossegue a dança terminada
Nas lajes de meu tempo de chorar?
Rapaz, em minhas mãos cheias de areia
Conto os astros que faltam no horizonte
Da praia soluçante onde passeia
A espuma de teu fim, pranto sem fonte.
Oh juventude, um pálio de inocência
Jamais se estenderá sobre outra aurora
Mais clara que esta clara adolescência
Onde o lupanar da noite hoje devora:
Que vale o lenço impuro da elegia
Sobre teu rosto, lúcida alegria?
Por quantas madrugadas, sozinho, não vi romper a manhã no oriente, carregada de frio. E enquanto as estrelas se despediam, os primeiros raios do sol cortejavam as primeiras perspectivas para mais um dia. Não somos donos do tempo. Todavia, somos donos de nós. O que fazemos hoje, repercute amanhã, seja para nos recompensar o bem praticado ou para nos corrigir de nossas inclinações menos felizes. Quantas ilusões se me afiguram aos olhos. O cotidiano e as preocupações materiais imediatas não nos deixam olhar para fora da "caverna". O dia não deve passar como mais um dia. As horas passam, mas os minutos devem ser outros: minutos de transformação, para melhor. O que a vida nos oferece senão oportunidade constante de aprendizado? O problema é que muitos de nós não sabe o que deve aprender. Gastam a preciosa moeda do tempo devorando horas a fio manuais das mais diversas religiões, das mais variadas matizes éticas sem que, entretanto, nada retenham de bom. São pessoas que se perdem no tumulto da vida, renunciando à formação do bom caráter nas experiências do dia-a-dia. Mas o que aprender? Como viver? Que postura deve sempre nortear a nossa relação com os nossos semelhantes? Podemos encontrar essas respostas, se nos dedicarmos sinceramente a buscá-las. Bom é encontrá-las antes que a noite caia e não tenhamos mais um dia.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
sábado, 8 de novembro de 2008
Eu e a democracia
Estou revendo as minhas posições sobre a democracia, tentando abstrair a essência verdadeira desse insituto hoje quase sagrado. Sim: a democracia é para a política o que a religião é para os crentes. Todavia, a única forma de chegar a Deus é pela estrada da religião? É certo que a democracia não é, nem de longe, a única maneira de se atingir o estado de bem-estar social, realizando as finalidades da felicidade humana. Contudo, seria a melhor das maneiras? A mais célere e eficaz? Seria a que deixaria o menor rastro de dor, sangue e sofrimento pela história de uma nação? E antes que a minha atitude de levantar tais questionamentos possa causar espanto em alguém, quero dizer que ela não é sacrílega e que eu não vendo heresias. Tal atitude constitui, antes, uma tipicidade do próprio sistema democrático: a da liberdade. Aqui, outras questões emergem inevitavelmente: há um conceito universal de liberdade? Qual a real extensão do significado da liberdade numa democracia? Existe liberdade em algum outro sistema que não seja o democrático? Em que ela se diferencia da liberdade democrática? Vou seguir pensando...
O contrato social
Nunca assinei o contrato social. Impuseram-no a mim, desde que nasci. Mas, e se eu não quiser mais fazer parte desse acordo que nunca celebrei? Haverá algum lugar neste mundo que seja de ninguém e que me abrigue?
sábado, 1 de novembro de 2008
Pensamento, palavra e ação.
A vida requer a todo momento pensamento, verbo e ação. Por meio deles, nos movimentamos no mundo, através do tempo. Dessa forma, não devemos prescindir da necessária vigilância sobre estes veículos que nos permitem a manifestação na vida.
Viver é escolher, fazer a salutar seletiva dos pensamentos e palavras, optar pelo envide das melhores ações, tal como o trabalhador rural que, para assegurar a boa ceifa no amanhã, realiza hoje com a melhor maneira de semear.
Devemos nos precatar quanto ao uso incorreto do pensamento e da palavra, pois para onde vai o pensamento, vai a vida assinalada pelas ações que praticamos; além disso, não esqueçamos de que, como as flechas, as palavras lançadas não voltam mais.
sábado, 25 de outubro de 2008
Reter o bem
É muito comum malsinar os fatos e reprovar as outras pessoas antes de qualquer exame sério das situações que se apresentam. Parece haver uma espécie de complexo emocional que distancia da realidade quem assim age, dilatando o desentendimento e diminuindo a abrangência do círculo de suas boas relações.
É hábito de muitas pessoas apontar seus olhares perversamente críticos sobre acontecimentos que envolvem seus semelhantes e dispararem palavras dispensáveis, numa verdadeira e estéril verborragia. Podemos facilmente identificar, entre os que envidam essa atitude menos feliz, aqueles que se reputam como salvadores mas que, em verdade, se submetidos a situação a que se referem, no exato lugar das pessoas que criticam, fariam do mesmo jeito, senão pior. A opinião popular geralmente se movimenta através de impulsos desenfreados. Mas, por que as condenações apressadas? Por que tanta crítica destrutiva? No tumulto da vida, atitude salutar é a de quem tem prudência no exame de qualquer situação e o faz com imparcialidade: esse é o caminho mais reto que nos conduz a integração com o propósito de busca do esclarecimento. Além disso, não há nenhum mal em procurar reter o bem nas situações que nos são postas ao crivo.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Indagações
Por que muitas pessoas iniciam a prática do bem, mas quando aparece um espinho de ingratidão que seja dos seus semelhantes, elas proclamam a falência dos seus própósitos de bem-fazer?
Por que há pessoas que enfeitam a zona intelectual de bons princípios, mas estes não lhes penetram o âmago do coração?
Por que demoramos tanto a renovar nossas atitudes mentais para melhor?
sábado, 18 de outubro de 2008
Esse mundo em que vivemos é mesmo - e infelizmente - o palco obscuro de muitos dramas. Todos os dias nos deparamos com notícias ruins que inspiram tristeza. Violências e injustiças de toda sorte ocorrem continuamente em todos os lugares e de forma democrática. Difícil é não conhecer alguém que nunca tenha sofrido as consequências de uma violência ou de uma injustiça, as quais vemos chegar cada vez mais perto de nós. Diante desse quadro, uns ficam perplexos enquanto outros, indiferentes. Esse último comportamento pode ser explicado, dentre outras causas, pela ultraexposição desses casos nos meios de comunicação: ao se depararem frequentemente com ocorrências dessa natureza, as pessoas vão perdendo a capacidade de indignação. Os que ficam perplexos indagam: por quê? A resposta a esse questionamento envolve muitas causas interrelacionadas. Abstendo-se da menção aos fatores econômicos, políticos e sociais gerais que também concorrem como determinantes na construção desse panorama preocupante, peço permissão para me deter numa breve análise do comportamento humano individual. Afinal de contas, no que pese a densidade das variáveis sócio-político-econômicas, o ser humano individual, tomado subjetivamente, é o primeiro responsável por suas ações, já que possui livre-arbítrio. Por que o homem não usa o seu livre-arbítrio para o bem? Por que ele comete injustiças e violência contra o seu semelhante? Uma prudente linha de respostas a essas indagações pode ser traçada fazendo-se menção ao fato de o homem poder ser considerado um animal com instintos, impulsos, desejos menos felizes. Quero dizer que o homem, infelizmente, ainda não se deixa governar pela razão, muito embora tenha plena capacidade para tal. Para nosso lamento, não pudemos constatar, ainda, o pleno amadurecimento da racionalidade humana, ainda que passados quase três séculos do movimento iluminista irradiado a partir da França. Somente quando o homem se deixar governar efetivamente pela razão é que teremos um mundo com menos injustiças e violências. Por essa época, o homem terá atingido a autoconsciência e, portanto, um domínio mais pleno no campo das ações que leva a efeito.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Dia das crianças
Ganhei um presente no Dia das Crianças. Sou mesmo um menino, hoje como antigamente. Até quando vai esse menino? Até o leito de morte? Até depois da morte? Esse menino passeia pelo tempo desde que nasceu... Dorme como menino na noite, nos braços de Orfeu. Perambula olhando brinquedos... Tem sonhos, tem medos. Esse homem é um menino ou esse menino é um homem?
...
Há reminiscências suspensas
No ar frio que tempera a manhã.
Lances insepultos, luzes do passado,
Estão atrás das árvores beijadas de orvalho
Estão na terra molhada
Que aguarda uma passada.
Choveu no escuro
Na noite passada
E hoje a passarada
Amanheceu cantando feliz
Sacudindo das penas
O frio da noite ida.
Vão em revoada.
A treva dissipou-se para eles
Que carregam lembranças nas asas
Passeando-as pelo espaço.
A manhã de hoje
Parece a manhã
De um dia perdido no tempo
Manhã de infância,
Casa de palha, verde fechado
Frescura de café, pintinhos ciscando no quintal,
Aromas de curral, areias...
Ah! Lembranças inocentes
Impressas nas veias!
Todas vão embora...
Vai-se a alma do tempo
Entre a bruma dissipada
Pelos primeiros raios do sol.
...
10.10.2008
Há reminiscências suspensas
No ar frio que tempera a manhã.
Lances insepultos, luzes do passado,
Estão atrás das árvores beijadas de orvalho
Estão na terra molhada
Que aguarda uma passada.
Choveu no escuro
Na noite passada
E hoje a passarada
Amanheceu cantando feliz
Sacudindo das penas
O frio da noite ida.
Vão em revoada.
A treva dissipou-se para eles
Que carregam lembranças nas asas
Passeando-as pelo espaço.
A manhã de hoje
Parece a manhã
De um dia perdido no tempo
Manhã de infância,
Casa de palha, verde fechado
Frescura de café, pintinhos ciscando no quintal,
Aromas de curral, areias...
Ah! Lembranças inocentes
Impressas nas veias!
Todas vão embora...
Vai-se a alma do tempo
Entre a bruma dissipada
Pelos primeiros raios do sol.
...
10.10.2008
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Eu imortalizei muitos lances do passado. Outros prefiro olvidar por completo: dou-lhes aos braços do fogo do tempo, para que os incinere. Do que passou, ficam apenas as boas lições que, à guisa de sementes, espero frutifiquem para o bem. Todo dia, eu sou um pouco igual e um pouco diferente do que fui no dia que o sol deixou pra trás. Não me enlaço à magoas, ódio não tenho de ninguém. Não penso na morte, esse ente que a gente sempre aguarda para um futuro distante, mas que pode estar logo ali, traiçoeiramente ali, à cata de qualquer um de nós. Eu deixo a morte com a morte. Aliás, o conceito que tenho desse evento é substancialmente diferente daquele que muitas pessoas tem. Mas eu não vou discutir isso agora. Prefiro lembrar da areia da praia. Da corrida na praia. Do céu na praia. Do vento salgado da praia. Opto pela lembrança do sorriso dos meus filhos, da culinária da minha esposa, dos braços profundos da minha avó que o tempo levou. Contemplo a vida passeando pelas recordações boas, comparo o que fui e que sou hoje: que surpresa, o tempo existe!
...
Ilha remota, tal sonho perdido,
Adejada apenas
Pelas aves do mar
Bafejada apenas
Pelo sopro do sal
Recolhido em teu mistério
Jaz porto natural
De onde partem as ilusões
Que rumam, sem rumo
Navegam, sem remo
No mar pelo mar
No mar espelho do céu
O céu ungido de mar
Que assiste ao chicote das ondas
No seu tépido marulhar...
Que vê
A saudade embarcada
A incerteza embarcada
A semente da flor atirada
Ao fundo do mar...
Mas é preciso
Ilha remota, tal sonho perdido,
Adejada apenas
Pelas aves do mar
Bafejada apenas
Pelo sopro do sal
Recolhido em teu mistério
Jaz porto natural
De onde partem as ilusões
Que rumam, sem rumo
Navegam, sem remo
No mar pelo mar
No mar espelho do céu
O céu ungido de mar
Que assiste ao chicote das ondas
No seu tépido marulhar...
Que vê
A saudade embarcada
A incerteza embarcada
A semente da flor atirada
Ao fundo do mar...
Mas é preciso
Amar o mar amar o mar amar o mar
De um amor que vibra
Sem aportar
No vazio das dúvidas
Do tempo que sopra o destino
Sem parar sem parar...
...
05.10.2008.
De um amor que vibra
Sem aportar
No vazio das dúvidas
Do tempo que sopra o destino
Sem parar sem parar...
...
05.10.2008.
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
...
Não é possível divisar os espelhos da noite
Nem a chaga aberta no tempo
Nem o pranto expelido pela madrugada.
O calor desce dos corpos em cachoeira
Corpos mudos, sem dor
Corpos surdos entre espectros silentes.
A agonia espalha-se com o escuro
Despedaçada em ecos do passado.
Não há presente, nem futuro
Fluindo entre a névoa invisível na treva.
Não há gleba, sangue na terra
Vento perdido, escondido na serra.
Ninguém escolhe o norte, nem o sul
Pois a lépida estrela não segue à boreal,
O tépido cometa não ruma ao austral,
Vagam perdidos,
Como os sinais sombrios
Angustiosos e frios
Que a noite sem relâmpagos fabrica.
...
30.09.2008.
Não é possível divisar os espelhos da noite
Nem a chaga aberta no tempo
Nem o pranto expelido pela madrugada.
O calor desce dos corpos em cachoeira
Corpos mudos, sem dor
Corpos surdos entre espectros silentes.
A agonia espalha-se com o escuro
Despedaçada em ecos do passado.
Não há presente, nem futuro
Fluindo entre a névoa invisível na treva.
Não há gleba, sangue na terra
Vento perdido, escondido na serra.
Ninguém escolhe o norte, nem o sul
Pois a lépida estrela não segue à boreal,
O tépido cometa não ruma ao austral,
Vagam perdidos,
Como os sinais sombrios
Angustiosos e frios
Que a noite sem relâmpagos fabrica.
...
30.09.2008.
sábado, 6 de setembro de 2008
Tributado
Nunca me senti tão tributado em toda a minha vida. No nosso país, é imposto aqui, imposto acolá, imposto pra isso, imposto pra aquilo, imposto até pra trabalhar e ganhar dinheiro. Este último, um dos mais injustos, sobretudo para um trabalhador de renda não elevada como eu. Refiro-me aqui ao IRPF - Imposto de Renda da Pessoa Física. Consabido é que já passou da hora de se engendrar uma reforma tributária nessa nação, assim como é também de domínio público que sobre os ombros do cidadão brasileiro pesa uma das mais cruéis cargas tributárias do planeta. Se ao menos os indicadores de corrupção com os recursos arrecadados não estivessem também entre os mais elevados do planeta e se gozássemos todos de serviços públicos de qualidade, cidades bem saneadas, belos parques e estradas boas, dentre outras coisas, daria para engolir melhor esse "sapo" que é a carga tributária que incide sobre a pessoa brasileira. Se eu tivesse a certeza de que o dinheiro que pago à Fazenda Nacional não se tranformasse em viagens de luxo pelo mundo, nem em mordomias dispensáveis e nem em doses de uísque na mesa de parlamentares ou funcionários do alto escalão governamental, "mimos" que qualquer cartão de crédito corporativo compra, eu não teria redigido esse texto, que é mais um desabafo.
sábado, 23 de agosto de 2008
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Enquanto isso na sala de aula... (parte II)
- Allison, seja sincero! Você gosta de estudar?
- Sim professor, eu gosto.
- E que disciplinas você mais gosta de estudar?
- Nenhuma professor...
Ai, ai...
- Sim professor, eu gosto.
- E que disciplinas você mais gosta de estudar?
- Nenhuma professor...
Ai, ai...
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Ai, STF...
Pessoas condenadas em primeira instância, definitivamente, agora podem se candidatar a cargos eletivos. Não cabe mais recurso da decisão, pois é a mesma da Suprema Corte. Apenas para os condenados em última instância é que é defeso candidatar-se.
Apenas os ministros Carlos Ayres Brito e Joaquim Barbosa votaram a favor da ação proposta pela AMB, que ainda teve parecer favorável do Procurador Geral da República, Fernando Antônio de Sousa.
Apenas os ministros Carlos Ayres Brito e Joaquim Barbosa votaram a favor da ação proposta pela AMB, que ainda teve parecer favorável do Procurador Geral da República, Fernando Antônio de Sousa.
No que pese a técnica que orientou os outros nove votos, essa decisão menos feliz do STF sói como um ato gravemente lesivo ao processo eleitoral brasileiro, um dos pilares da estrutura democrática nacional, pois de melhor alvitre seria que tal processo barrasse, já na raiz, a possibilidade de candidatura de pessoas condenadas na primeira instância.
Os entusiastas da decisão invocam o princípio da presunção da inocência, que preconiza que alguém só é culpado após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória da qual não mais caiba recurso.
Sabemos que, na prática, a maior parte - não vou dizer 100% - dos políticos condenados em 1ª instância são verdadeiramente culpados. Acontece que a Lei é técnica e se ela oferta essa prerrogativa aos condenados nos juízos locais, tecnicamente acertada foi a decisão do colendo tribunal.
Fica aqui a reflexão: o que importa mais é a técnica jurídica ou o interesse público?
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Extrapolando no "jus petendi"
O direito de pedir, sabemos, é algo quase "sagrado": uma prerrogativa fundamental no Estado democrático de direito. Todavia, às vezes, os titulares desse direito pedem coisas absurdas. Foi o que fez um torcedor do Fluminense que, após se sentir "vítima" de um jornal carioca que fez chacota em duas edições com a derrota tricolor para a LDU do Equador, em partida pela final da Taça Libertadores da América, representou contra o diário alegando danos morais e propaganda enganosa.
O torcedor se deu mal.
Felizmente, o Brasil têm magistrados lúcidos. O torcedor tricolor vai ficar mais pobre: considerado "litigante de má-fé", terá qe arcar com as custas do processo. Veja a sentença na íntegra:
“Primeiro registro que é absolutamente incrível que o Estado seja colocado a trabalhar e gastar dinheiro com uma demanda como a presente, mas... ossos do ofício!
Ressalto, desde já, estarem presentes todos os pressupostos de regular desenvolvimento do processo e as condições para o legítimo exercício da ação. O autor é capaz e está bem representado, o juízo é competente e a demanda está regularmente formada.
As partes são legítimas, há interesse de agir, já que a medida é útil na medida em que trará benefício ao autor, necessária, já que sem a intervenção judicial não poderia ser alcançado o que se pede, e o pedido, por sua vez, é juridicamente possível, tratando-se de compensação por dano moral e pedido de retratação.
O que não existe nem de longe é direito a proteger a absurda pretensão do reclamante. A questão é de direito e de mérito e assim será resolvida evitando-se maiores delongas com esse desperdício de tempo e dinheiro do Estado. O reclamante, cujo time foi derrotado na final da Libertadores, sentiu-se ofendido com matérias publicadas pelo jornal reclamado, que, segundo ele, ridicularizavam os torcedores, incitavam a violência e traziam propaganda enganosa. As matérias, no entanto, são apenas publicações das diversas gozações perpetradas pelas demais torcidas do Estado em razão da derrota do time do reclamante. Tais gozações são normais, esperadas e certas de vir sempre que um time perde qualquer partida, quanto mais um título importante que o técnico, jogadores e torcedores afirmavam certo e não veio. Mais.
As gozações são inerentes à existência do futebol, de modo que sem elas este não existiria porque muito de sua graça estaria perdida se um torcedor não pudesse debochar livremente dos outros. É certo que o reclamante "zoou" os torcedores de outros times da cidade em razão de derrotas vergonhosas na mesma competição em que seu time foi derrotado, em razão de um dirigente fanfarrão ou em razão de uma choradeira com renúncia, e nem por isso pode o mesmo ser processado.
Ressalto que se o reclamante viu tudo isso e ficou quietinho, sem mangar de ninguém e sem se acabar de rir, – não ficou, mas utilizo-me dessa (im)possibilidade para aumentar a argumentação – deve procurar outros esportes para torcer, porque futebol sem deboche não dá! Ainda que a matéria fosse elaborada pelo jornal reclamado, é possível à linha editorial ter um time para o qual torcer e, em conseqüência lógica de tal fato, praticar "zoações", o que, em se tratando de futebol, é algo necessário e salutar à existência do esporte. Registro que há jornais que não só têm a linha editorial apoiando um ou outro clube, como há os que são criados pelos torcedores para, dentre outras coisas, escarnecer os rivais, o que é perfeitamente viável. Evidente, por todo o ângulo em que se olhe, que não há a menor condição de existir a mínima lesão que seja a qualquer bem da personalidade do reclamante. "Zoação" é algo inerente a qualquer um que escolha torcer por um time de futebol e vem junto com a escolha deste.
O aborrecimento decorrente do deboche alheio é inerente à escolha de uma equipe para torcer e, portanto, não gera dano moral, ainda que uma pessoa, por excesso de sensibilidade, se sinta ofendida e ridicularizada. Continua o reclamante na sua petição afirmando que o reclamado incita a violência com sua conduta. É engraçado, porque o próprio reclamante afirma que teve que dar explicações à diretoria de seu local de trabalho em razão de desavenças com seus colegas. A inicial não é clara neste ponto, mas se houve briga em razão do reclamante não aceitar as gozações fica ainda mais evidente que o mesmo deve escolher outro esporte para emprestar sua torcida, porque, como já dito, futebol sem deboche, não dá! E o que é pior!
O reclamante, se brigou, discutiu ou se desentendeu foi porque quis, porque é de sua vontade e de sua índole e não porque houve uma publicação em jornal. Em momento algum o jornal sugere que haja briga, o que só ocorre em razão de eventual intolerância de quem briga, discute ou se desentende. Por fim, o argumento mais surreal! A propaganda enganosa! Chega a ser inacreditável, mas o reclamante afirma que houve propaganda enganosa porque na capa do jornal há um chamado dizendo existir um pôster do seu time rumo ao mundial, mas no interior a página está com "uma foto com os jogadores (...) indo em direção a uma rede de supermercados".
Ora, e a que outro mundial o time do reclamante poderia ir se perdeu o título da Libertadores? Qualquer um que leia a reportagem, inclusive toda a torcida de tal time e em especial o reclamante, sabe, por óbvio, que jamais poderia existir foto da equipe indo à disputa do título mundial no Japão, porque isso nunca ocorreu. A pretensão é tão absurda que para afastá-la a sentença precisaria apenas de uma frase: "Meu Deus, a que ponto nós chegamos??!!!", ou "Eu não acredito!!!" ou uma simples grunhido: "hum, hum", seguido do dispositivo de improcedência. É difícil encontrar nos livros de direito um conceito preciso do que seria uma lide temerária, mas esta, caso chegue ao conhecimento de algum doutrinador, será utilizada como exemplo clássico para ajudar na conceituação. O reclamante é litigante de má-fé por formular pretensão destituída de qualquer fundamento, utilizar-se do processo para conseguir objetivo ilegal, qual seja, ser compensado por dano inexistente, além de proceder de modo temerário ao ajuizar ação sabendo que não tem razão e cuja vitória jamais, em tempo algum, poderá alcançar. Isto posto, julgo improcedente o pedido. Condeno o reclamante como litigante de má-fé ao pagamento das custas, nos termos do caput do artigo 55 da Lei 9.099/95. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Após as formalidades legais, dê-se baixa e arquivem-se. Rio de Janeiro-RJ, 31 de julho de 2008. José de Arimatéia Beserra Macedo Juiz de Direito" E que sirva de exemplo! Juiz "arretado" esse: o "Beserra" dele é mesmo com "s".
Ressalto, desde já, estarem presentes todos os pressupostos de regular desenvolvimento do processo e as condições para o legítimo exercício da ação. O autor é capaz e está bem representado, o juízo é competente e a demanda está regularmente formada.
As partes são legítimas, há interesse de agir, já que a medida é útil na medida em que trará benefício ao autor, necessária, já que sem a intervenção judicial não poderia ser alcançado o que se pede, e o pedido, por sua vez, é juridicamente possível, tratando-se de compensação por dano moral e pedido de retratação.
O que não existe nem de longe é direito a proteger a absurda pretensão do reclamante. A questão é de direito e de mérito e assim será resolvida evitando-se maiores delongas com esse desperdício de tempo e dinheiro do Estado. O reclamante, cujo time foi derrotado na final da Libertadores, sentiu-se ofendido com matérias publicadas pelo jornal reclamado, que, segundo ele, ridicularizavam os torcedores, incitavam a violência e traziam propaganda enganosa. As matérias, no entanto, são apenas publicações das diversas gozações perpetradas pelas demais torcidas do Estado em razão da derrota do time do reclamante. Tais gozações são normais, esperadas e certas de vir sempre que um time perde qualquer partida, quanto mais um título importante que o técnico, jogadores e torcedores afirmavam certo e não veio. Mais.
As gozações são inerentes à existência do futebol, de modo que sem elas este não existiria porque muito de sua graça estaria perdida se um torcedor não pudesse debochar livremente dos outros. É certo que o reclamante "zoou" os torcedores de outros times da cidade em razão de derrotas vergonhosas na mesma competição em que seu time foi derrotado, em razão de um dirigente fanfarrão ou em razão de uma choradeira com renúncia, e nem por isso pode o mesmo ser processado.
Ressalto que se o reclamante viu tudo isso e ficou quietinho, sem mangar de ninguém e sem se acabar de rir, – não ficou, mas utilizo-me dessa (im)possibilidade para aumentar a argumentação – deve procurar outros esportes para torcer, porque futebol sem deboche não dá! Ainda que a matéria fosse elaborada pelo jornal reclamado, é possível à linha editorial ter um time para o qual torcer e, em conseqüência lógica de tal fato, praticar "zoações", o que, em se tratando de futebol, é algo necessário e salutar à existência do esporte. Registro que há jornais que não só têm a linha editorial apoiando um ou outro clube, como há os que são criados pelos torcedores para, dentre outras coisas, escarnecer os rivais, o que é perfeitamente viável. Evidente, por todo o ângulo em que se olhe, que não há a menor condição de existir a mínima lesão que seja a qualquer bem da personalidade do reclamante. "Zoação" é algo inerente a qualquer um que escolha torcer por um time de futebol e vem junto com a escolha deste.
O aborrecimento decorrente do deboche alheio é inerente à escolha de uma equipe para torcer e, portanto, não gera dano moral, ainda que uma pessoa, por excesso de sensibilidade, se sinta ofendida e ridicularizada. Continua o reclamante na sua petição afirmando que o reclamado incita a violência com sua conduta. É engraçado, porque o próprio reclamante afirma que teve que dar explicações à diretoria de seu local de trabalho em razão de desavenças com seus colegas. A inicial não é clara neste ponto, mas se houve briga em razão do reclamante não aceitar as gozações fica ainda mais evidente que o mesmo deve escolher outro esporte para emprestar sua torcida, porque, como já dito, futebol sem deboche, não dá! E o que é pior!
O reclamante, se brigou, discutiu ou se desentendeu foi porque quis, porque é de sua vontade e de sua índole e não porque houve uma publicação em jornal. Em momento algum o jornal sugere que haja briga, o que só ocorre em razão de eventual intolerância de quem briga, discute ou se desentende. Por fim, o argumento mais surreal! A propaganda enganosa! Chega a ser inacreditável, mas o reclamante afirma que houve propaganda enganosa porque na capa do jornal há um chamado dizendo existir um pôster do seu time rumo ao mundial, mas no interior a página está com "uma foto com os jogadores (...) indo em direção a uma rede de supermercados".
Ora, e a que outro mundial o time do reclamante poderia ir se perdeu o título da Libertadores? Qualquer um que leia a reportagem, inclusive toda a torcida de tal time e em especial o reclamante, sabe, por óbvio, que jamais poderia existir foto da equipe indo à disputa do título mundial no Japão, porque isso nunca ocorreu. A pretensão é tão absurda que para afastá-la a sentença precisaria apenas de uma frase: "Meu Deus, a que ponto nós chegamos??!!!", ou "Eu não acredito!!!" ou uma simples grunhido: "hum, hum", seguido do dispositivo de improcedência. É difícil encontrar nos livros de direito um conceito preciso do que seria uma lide temerária, mas esta, caso chegue ao conhecimento de algum doutrinador, será utilizada como exemplo clássico para ajudar na conceituação. O reclamante é litigante de má-fé por formular pretensão destituída de qualquer fundamento, utilizar-se do processo para conseguir objetivo ilegal, qual seja, ser compensado por dano inexistente, além de proceder de modo temerário ao ajuizar ação sabendo que não tem razão e cuja vitória jamais, em tempo algum, poderá alcançar. Isto posto, julgo improcedente o pedido. Condeno o reclamante como litigante de má-fé ao pagamento das custas, nos termos do caput do artigo 55 da Lei 9.099/95. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Após as formalidades legais, dê-se baixa e arquivem-se. Rio de Janeiro-RJ, 31 de julho de 2008. José de Arimatéia Beserra Macedo Juiz de Direito" E que sirva de exemplo! Juiz "arretado" esse: o "Beserra" dele é mesmo com "s".
Enquanto isso, na sala de aula...
Lição sobre a Confederação do Equador, movimento republicano havido em Pernambuco em 1824. Falava sobre Frei Caneca, um dos idealizadores do movimento. Disse que ele havia sido um mártir. Perguntei então a um aluno o que ele entendia por "mártir".
- É um planeta, professor.
Sem comentários...
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
As outras mulheres
As mais velhas, devemos vê-las como mães.
As da nossa idade, como irmãs.
As mais novas, como filhas.
Assim preconiza a Doutrina de Buda.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
O que é mais difícil governar?
Uma casa?
Uma cidade?
Um Estado?
Uma nação?
Nenhum deles.
O que é mais difícil de se governar é a si próprio.
Apenas governando a si próprio é que se consegue governar uma casa, uma cidade, um Estado e até mesmo uma nação.
domingo, 3 de agosto de 2008
Paratodos
O meu pai é bancário
Meu avô foi camponês
Meu bisavô, também.
Eu, policial e professor.
E meu filho, o que será?
sábado, 2 de agosto de 2008
Prova contra si mesmo
A chamada "Lei Seca", instituída pelo Governo Federal em junho último, tem mostrado seus (bons) resultados. Todavia, é mais uma lei que vem tarde integrar a legislação brasileira, tão carente de dispositivos legais mais rigorosos para aqueles que delinqüem e se tornam recalcitrantes por falta de punição à altura de seus ilícitos. É como dizia a ex-Delegada Geral de Polícia Civil do Piauí, a competente Hildeth Evangelista: "A impunidade estimula o criminoso". Infelizmente, aqui nos trópicos de colonização lusitana, já se insurgem as vozes refratárias a essa acertada medida, instruindo aos motoritas bebuns que se recusem a fazer o teste do etilômetro, alegando o "sagrado" direito constitucional de todo indivíduo, que garante que ninguém será obrigado a fornecer prova contra si mesmo. A questão suscita reflexões mais profundas mas, a princípio, salvo melhor juízo, reputo não merecer simpatia.
Outro dia assisti na TV, num canal local, um apresentador recomendar a candidatos analfabetos de uma cidade no interior do Piauí que não fossem fazer um teste de escrita (ditado) para provar que não eram leigos nas letras. Quem estava falando: um jornalista ou um advogado? Nesse caso em particular, deveria prevalecer o interesse maior, que é o interesse público, pois se permitir a potencial eleição de candidatos que não sabem nem assinar o próprio nome é, no mínimo, uma medida gravemente lesiva à Administração Pública e, portanto, à democracia. Como imaginar um Prefeito que não sabe - não vou dizer nem interpretar, mas ler - um documento, ou um edil incapaz de elaborar leis que visem ao bem-estar da população?
O Brasil guarda um agudo trauma do período ditatorial, que se reflete, inegavelmente, em muitos dispositivos legais da própria Constituição Federal e também de outros diplomas, como o Código de Processo Penal. Daqui a pouco, a coisa vai ficar tão frouxa (isso mesmo: frouxa!), que o infrator da lei vai negar a sua identidade e não se vai poder fazer a sua identificação, porque ele se recusa a entregar os dedos para se retirarem as digitais, para não fornecer provas contra si mesmo.
De volta
Depois de quase três meses de ausência, cá estou. Volto a desenferrujar a minha verve literária nesse blog. Eu não tinha viajado, não estava doente, não fiquei perdido na mata e nem fui abduzido. Em verdade, nem sei o por quê de ter parado de escrever aqui durante esse período; todavia, isso não é importante.
Muita coisa se passou por esse tempo que arrasta tudo, que nos traga a vida na sua cadência imparcial e invariável: da sombra ameaçadora da inflação à Lei Seca, pra não falar de outras coisas várias.
No entanto, no campo pessoal, o acontecimento mais relevante foi a chegada do meu segundo filho, o Luís Eduardo, fato havido em maio. Pra mim, até o choro dele me apraz, não importa se é de madrugada e se me furta o sono.
Acompanhei a cesárea, que foi rápida e supreendente como um relâmpago: em cerca de três minutos e alguns segundos o obstetra tirou o garoto do seu ninho uteral.
Como é bom ser pai de novo. Meu filho me mostra que eu amadureci um pouco.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Aparência. Essência.
O que vejo são ilusões. As coisas materiais existem em suas meras aparências. E nós gastamos a nossa vida inteira desejando ardentemente o que é relativo apenas a essas aparências. Não há como não relacionar desejo pela aparência e sofrimento na vida.
O que quero é enxergar a verdade: a verdade que existe por trás de todas as ilusões circundantes, a essência das coisas. Quero sair da caverna, chegar ao Nirvana, atingir a Iluminação.
Entretanto, estou a séculos disso, milênios talvez... Cônscio estou do longo caminho a trilhar, das inúmeras vezes que terei de nascer de novo...
Abuso de expressão
Nos sistemas democráticos vigora como princípio basilar a liberdade de expressão. Nossa nação é uma imensa Ágora, onde podemos nos manifestar livremente. Tirar do homem e da mulher o direito à livre manifestação do pensamento é, pois, tolher um direito natural do ser humano.
Todavia, infelizmente, há os que excedem no direito de expressão: temos, aqui, a figura do abuso de expressão. Ele surge quando da crítica infundada, irresponsável, alicerçada na mentira e geralmente associada a interesses escusos e mesquinhos. Muitos meios de comunicação, numa busca desequilibrada pelo aumento dos índices de audiência, incorrem no erro de permitir a ocorrência do abuso de expressão.
Liberdade é bom. Entretanto, nada em excesso é saudável. Logo, liberdade em excesso é capaz de provocar agudos prejuízos sociais. Não há exagero nesse juízo. Compete aos mecanismos de controle social exercerem uma vigilância mais acentuada relativamente a essa questão. Uma vigilância equilibradq, que não degenere em patrulhamento ideológico eque não tolha, de modo algum, o sagrado direito à liberdade de expressão.
Pena que nesse mundo, nem todo mundo sabe utilizar as liberdades de que desfruta.
sábado, 26 de abril de 2008
Três atitudes
Há três atitudes que me são sagradas e que procuro realizar no tumulto da vida e em meio as lutas acerbas que travo contra as minhas más inclinações:
Bondade.
Suficiência.
Modéstia.
A bondade me dá forças.
A suficiência me torna largo o que é estreito.
A modéstia é um estado de espírito através do qual Deus atua em mim.
Consicência da realidade e princípios
Como você conscientiza a sua realidade? Quais são os seus princípios? Você pensa e age baseado neles?
Reflita sempre sobre essas questões e também sobre as respostas que elas suscitam em sua mente.
Lembre-se sempre de que é necessaria uma atitude profunda do ser para produzir pensamentos e atos corretos.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Sentido da vida
Você já parou pra pensar no sentido da vida? Ou você acredita que você e a realidade que lhe circunda são obras do acaso, sem propósito construtivo algum? Aproveite o tempo, reflita sobre o sentido da vida. Para tanto, mire o seu interior, porque você não vai encontrar verdades fora de você. E quando você se sintonizar com o espírito de busca de respostas sobre a temática em tela, procure ir realizando, a seu modo, a cada dia, o sentido da vida em sua existência, agindo com amor em todas as situações e afirmando o seu equilíbrio nos transes difíceis da vida, fazendo vencer o seu poder pessoal sobre o poder da situação que você atravessa; não a julgue como componente de angústia em sua vida e, sim, como elemento de aprendizado para o seu ser que, natureza, como todos os outros, está submetido a lei natural do progresso, sob a égide da qual vai se operando, no tempo, a nossa evolução moral para o bem.
Coração grande
O poema abaixo, com tradução para o português de Huberto Rohden, foi escrito por Lao-Tsé. O sábio, um dos mais profundos pensadores da China milenar, já houvera alcançado a iluminação há 600 a.C.
"O sábio não tem coração estreito;
Inclui no seu coração os corações dos outros.
Ele é bom com os bons
E bom também com os não-bons,
Porque sua íntima atitude
Só lhe permite ser bom.
Ele é honesto com os honestos
E honesto também com os desonestos,
Porque seu íntimo ser só lhe permite
Ser honesto com todos.
Ele vive retirado,
Mas a sua vida está aberta de par em par
A todos os homens.
Os olhos e os ouvidos dos homens
Se voltam para ele, estupefatos -
Ele vê seus filhos em todos".
sábado, 19 de abril de 2008
Força e resignação
Abaixo, o poema publicado no perfil de Ana Carolina de Oliveira no Orkut. Forte e resignada, a mãe da menina Isabella se constitui hoje um referencial para o povo brasileiro.
“A morte não é tudo. Não é o final. Eu apenas passei para a sala seguinte. Nada aconteceu. Tudo permanece exatamente como foi. Eu sou eu, você é você, e a antiga vida que vivemos tão maravilhosamente juntos permanece intocada, imutável. O que quer que tenhamos sido um para o outro, ainda somos. Chame-me pelo antigo apelido familiar. Fale de mim da maneira que sempre fez. Não mude o tom. Não use nenhum ar solene ou de dor. Ria como sempre fizemos das piadas que desfrutamos juntos. Brinque, sorria, pense em mim, reze por mim. Deixe que o meu nome seja uma palavra comum em casa, como foi. Faça com que seja falado sem esforço, sem fantasma ou sombra. A vida continua a ter o significado que sempre teve. Existe uma continuidade absoluta e inquebrável. O que é esta morte senão um acidente desprezível? Porque ficarei esquecido se estiver fora do alcance da visão? Estou simplesmente à sua espera, como num intervalo, bem próximo, na outra esquina. Está tudo bem!”
terça-feira, 15 de abril de 2008
Sem ansiedade
Como é maravilhoso viver sem ansiedade, deixar as coisas acontecerem, ao sabor da afirmação do quem tem que ser a seu tempo. Não estou diminuindo o livre-arbítrio, que é, para mim, um atributo sagrado do espírito humano; apenas digo que não vale a pena se preocupar demais com as coisas: faça a sua parte, deixe acontecer naturalmente, contemple a vida...
O tempo e as mudanças.
O tempo passa e a gente muda mesmo. Feliz de quem muda...pra melhor. De quem vai olhando no espelho da consciência e se (re)conhecendo, se descobrindo nas suas qualidades, nos seus defeitos. Feliz que tem tem coração bom e simples, quem se esforça por vencer as más inclinações que possui, quem está sempre preocupado com o que vem sendo e fazendo de bom para os outros. Feliz de quem consegue se emocionar puramente e verter lágrimas sinceras: esse é o ser verdadeiro, que se derrama pelos olhos, comovido pelos outros. Feliz de quem ampara e perdoa: esse é o amor de Deus, vibrando em cada pessoa. Que bom seria se a maioria das pessoas entendesse que a melhor maneira verdadeira de ser feliz é fazendo os outros felizes. Não é dando que se recebe? Assim, se pode ser feliz pela caridade que se faz a alguém, pela amizade que se dedica a alguém, pelos esforços que se faz em ver, num casamento, o seu par feliz. Mude, seja feliz, fazendo os outros felizes. Seja melhor, a cada dia. Aceite-se como é, pois ninguém é perfeito, mas tenha sempre por conta de que é preciso ser mais como pessoa humana e que a melhor marca que deixamos em nosso tempo é aquela que foi impressa pelo Amor.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Excessos
A vida pede equilíbrio. Nada em demasia aproveita para o bem do ser. Os excessos produzem desequilíbrios de natureza física ou espiritual ou ambos ao mesmo tempo: é a desarmonia, fruto de um sofrimento auto-produzido. Sê feliz, sendo equilibrado, contemplando a vida e seu curso natural.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Meditação
Meditar com habitualidade faz um bem maior do que aquele que comumente se imagina: ajuda - e muito - no domínio de si, no auto-controle, imperativo essencial do ser que lida, todo dia, dentro do tumulto da vida.
Briga de casal
Briga de casal que se ama, motivada por coisa pequena, é igual a tempo perdido. Memento moris: ninguém sabe quando o dia da partirda... Portanto, numa relação de amor a dois, jamais se pode desperdiçar tempo, que não volta mais.
Receba tudo com calma. Suporte tudo com paciência.
O melhor para qualquer situação é não perder a paciência: é o primeiro passo para não se perder a razão e não se agir por impulso. O silêncio ajuda nesse caso. O simples silêncio auxilia a manter o controle. A primeira coisa de que devemos nos lembrar quando formos tentados a participar de alguma confusão é de não perder a calma e conservá-la. Depois da tempestade, a bonança vem. Experiência própria.
domingo, 6 de abril de 2008
Einstein e o movimento da vida
"A vida é como andar de bicicleta: para se manter em equilíbrio é preciso estar sempre em movimento"
Albert Eisntein
Painel hodierno
No Brasil, o povo se consterna e se revolta com mais um crime chocante. No nordeste do Brasil o povo sofre, com as chuvas que castigam a região. Dor de um lado, dor de outro. Não obstante o caráter hediondo do crime, esse foi, infelizmente, apenas mais um: a violência fará mais, outros crimes bárbaros virão, é questão de tempo. Quanto ao inverno, outros virão também depois e mais pessoas sofrerão, como sofrem agora. Assim é nosso mundo. Assim são nossos tempos. Dor e sofrimento se repetindo, dia após dia, lágrimas após lágrimas.
O aspecto espiritual do ser
A contemplação de si e da realidade circundante suscita, de imediato, questionamentos sobre o problema do ser, do destino e da dor. É quando se pára e se pergunta pra si mesmo: quem eu sou? De onde eu vim? O que estou fazendo aqui? Para onde vou?
Grande parte das pessoas vive mergulhada no cotidiano e nas obrigações, problemas e desafios que ele reclama diariamente. Por viverem concentradas nas preocupações de ordem material, essas pessoas abandonam as importantes questões de natureza espiritual, negligenciando quanto a possibilidade de avanços nessa decisiva dimensão da existência humana.
O homem, como tal, não é só matéria, não é só corpo. À sua feição biológica, somática, soma-se a sua feição espiritual, abstrata; esta é intangível e imperecível ao passo que aquela é tangível e perecível.
A preocupação com os aspectos espirituais do ser deve ser encarada com mais importância por todos, pela humanidade.
A compreensão da razão do ser
A compreensão do sentido da vida é um processo íntimo para cada um daqueles que atenta para essa temática fundamental da existência humana. A formação de valores ao longo da vida tem importância determinante nesse processo. Valores calcados em fundamentações racionais - como as da Ciência - mas também em convicções de fé - como as dos sistemas religiosos - e esforços especulativos - como os empreendidos pela Filosofia. Ciência, Religião e Filosofia, juntas, são, portanto, roteiro seguro, para quem quer empreender essa fascinante viagem em busca da compreensão íntima da razão do ser.
quarta-feira, 2 de abril de 2008
Existência de Deus
Sempre percebi, de modo natural, a realidade como a evidência mais imediata da existência de Deus. Pra mim, ela basta para prová-la. Não preciso de provas obtidas por métodos empírico-analíticos.
domingo, 30 de março de 2008
Cantando a minha terra
Campo Maior
Bem cravejada no centro-norte
A mais bela jóia do Piauí
Resplandece com brilho forte
Iluminando gloriosa o porvir!
Singular, essa eterna gema preciosa
Repleta na forma de tanta beleza
Reluz na essência a história briosa
Do povo bravo por natureza!
Maior encanto não suscita
Nenhuma outra pepita
De nenhum outro lugar do mundo!
Esculpida por divina arte
Só se dimensiona seu quilate
Na grandeza do amor profundo!
Bem cravejada no centro-norte
A mais bela jóia do Piauí
Resplandece com brilho forte
Iluminando gloriosa o porvir!
Singular, essa eterna gema preciosa
Repleta na forma de tanta beleza
Reluz na essência a história briosa
Do povo bravo por natureza!
Maior encanto não suscita
Nenhuma outra pepita
De nenhum outro lugar do mundo!
Esculpida por divina arte
Só se dimensiona seu quilate
Na grandeza do amor profundo!
Missiva de um irmão
Grande irmão
Poderiam parecer despiciendas considerações estas minhas, uma vez que é uma tarefa difícil descrevê-lo em poucos vocábulos. Esforçar-me-ei.Neste dia em que aniversarias, aproveito este ensejo para dedicar-lhe esta humílima homenagem. Que posso dizer além de que admiro-o muito? És uma pessoa correta, íntegra, justa, honesta e serena. Reúne em si uma áurea de energia positiva e otimismo, contagiando aqueles que o rodeiam. Isso faz de você uma daquelas pessoas que vieram ao mundo destinadas a serem únicas. A vida (bem o sabes) fez com que amadurecêssemos cedo, criando-nos algumas dificuldades na nossa infância. Uma fase que deveria ter sido inteiramente romântica, mas que não foi em sua integridade. Hoje, talvez maduro, vejo que tudo isso que aconteceu serviu como uma espécie de expiação. A evolução espiritual do homem passa por momentos assim, e é digno de perdão todos os maus atos praticados conosco, conscientemente ou não.Continue sendo essa pessoa preocupada com o bem-estar social. Continue com bons pensamentos em relação à humanidade. É a sua principal virtude.Existem três tipos de homens. Aqueles que não tem história pra contar (são os néscios) Aquele que contam a sua própria história (são os bons) e aqueles que contam a sua história por você. (esses são os extraordinários).Você se enquadra no terceiro tipo. Amo-te.
Diogo Frota.
Dorme nenêm...
Outra noite minha mulher ficou bestinha com uma coisa. Nosso nenêm estava mexendo muito dentro do ventre dela, a ponto dela dizer que ele estava inquieto com alguma coisa. Aí cheguei perto do barrigão e comecei a ter uma conversa com o garoto... quando dei por mim estava cantando pro moleque que, repentinamente, parou de se movimentar: eis o espanto da mãe e alegria do pai que conseguiu ninar, pela 1ª vez, o menino...
Clone sentimental
Cada ser humano tem a sua individualidade, cada um de nós é "um estranho ímpar". Todavia, não posso deixar de ressaltar a extrema semelhança entre mim e minha filha, notadamente no que respeita aos sentimentos. Essa identificação facilita muito a nossa convivência, que é uma convivência praticamente sem ruídos: sintonia alta de valores e princípios comuns.
Casamento
A maior parte dos casamentos que conheço foi mais difícil no começo. Ainda bem que já tenho quase sete anos de casado.
Considerações de uma tarde de domingo
Eu sou o que sou hoje, não sou o de ontem, nem o de amanhã. O passado e o futuro estão em mim, mas eu sei que sou o que sou agora. O tempo me arrasta, onda invencível, e sou precisamente aquilo que faço de mim dia-a-dia. Sou aquilo que penso, não aquilo que podem vir a pensar de mim. Mas quando me vejo hoje, agora, não me reconheço há tempos atrás. A entidade que me animava o corpo (eu mesmo), era muito diferente do que sou hoje, a ponto de me enxergar no pretérito como quem vê um estranho fazendo coisas, para hoje, absurdas, inadmissíveis. Vou criando valores, no tumulto da vida e vou deixando cair as partes podres da minha personalidade nos rastros dos caminhos por onde tenho passado. Ainda há muito o que cair, exatamente na proporção das lágrimas que ainda tenho que chorar e das angústias, aprendizados e outras experiências que o tempo trará em suas asas para mim. Eu sou mudança constante e a quero para melhor, sempre. É esse o meu destino inevitável, como é o destino de todos nós: mudar, ser sempre mais alguma coisa. Não pelo "ter", mas pelo "ser"; não pela matéria - que é perecível - mas pela essência - que é imperecível, imortal.
Venho aprendendo que...
...o mundo exterior deve ser tratado com concentração interior: o Eu conduzindo o ego. É preciso ser místico por dentro e ser ativo por fora e buscar, incessantemente, todos os dias, possuir a sabedoria intuitiva, escutando o Eu, sem se derramar apenas e tão somente pela ciência analítica.
sexta-feira, 28 de março de 2008
Interior
As vezes me vejo observando a realidade à minha volta: quanta gente, quanta vida, quantas histórias, quantos desvarios, quantas futilidades, quanto tempo mal-empregado, quanto desperdício, quantas palavras imprecisas, quantas opiniões infundadas, quanta mentira nas bocas, quanto enfeite desnecessário, quanta verborragia, quanto destempero, quantos conceitos que a gente nunca vai usar, quanta calorias nos pratos, quanta afobação, quanta precipitação, quanta superficialidade. Nessas horas, entendo que eu sou o meu templo sagrado, que o meu interior é o local onde me refugio das intempestividades de um mundo em muitos aspectos desvairado. Não que eu tenha aversão em interagir com mundo: se assim fosse, estaria agora a palmilhar as veredas de alguma floresta distante, num lugar desconhecido e a milhares de quilometros da "civilização", como um ermitão. É necessário interagir com o mundo, pois essa é uma forma de conhecê-lo e é preciso conhecê-lo, para evitá-lo em alguns aspectos. Em verdade, o momento em que mais me sinto só é quando me vejo em meio aos alaridos de multidões.
terça-feira, 25 de março de 2008
Como na Idade Média
O que muitas pessoas sentem hoje, diante do avanço irrefreado da dengue no Brasil, sobremaneira no Rio de Janeiro, deve ser parecido - resguardadas as devidas diferenças relativas ao poder de mortalidade - com o que sentiram os que viveram na Europa na Baixa Idade Média, na época em que a Peste Negra ceifou a vida de grande parte da população desse continente. Em comum: o medo real de morrer e a responsabilidade das pessoas em contribuir com a criação de meios que facilitam a propagação das doenças. Hoje, muita gente tem medo da morte, mas muito pouca gente faz a limpeza do seu próprio quintal para evitar a formação de focos para a reprodução do mosquitor vetor da doença.
segunda-feira, 24 de março de 2008
Indignação
Li com surpresa feliz a notícia de que neste feriado de Santa Santa não houve nenhum acidente com vítimas fatais nas estradas federais piauienses. Folguei em saber. Todavia, fora das rodovias federais mais um crime hediondo foi cometido na Chapada do Corisco. Um homem foi morto com um tiro na cabeça, mesmo não tendo reagido a uma tentativa de roubo. Detalhe: o homicida estava em liberdade condicional. Isso me inquieta profundamente. Não sou amigo, parente nem conhecido da vítima, mas não tenho como não estar de luto: pelo morto, em particular e pela nossa sociedade, em geral, que frequentemente se vê diante de notícias tristes como essa. Não é porque a criminalidade e a violência são expostas a todo o tempo na TV - tornando-se, com isso, banalizadas - que eu vá perder a minha capacidade de indignação com fatos como esse. Não devemos ter as vítimas fatais da criminalidade na conta de anônimos: são pessoas e, como tal, têm família, sonhos, projetos, esperanças... assim como nós. Já passou da hora de se criar mecanismos eficazes para o controle efetivo da taxa de criminalidade no país e isso envolve estudos profundos das causas e modos de contenção dessas taxas, com ações eficazes do poder público, investimentos e a coragem de se implementar mudanças nos dispositivos penal e processual penal. Há que se dotar o Judiciário de melhor estrutura, afim de que cumpra bem sua competência funcional. Há que se por cobro a essa tsunami de criminalidade que deixa víuvas e órfãos, lágrimas e solidão, dor e revolta, numa rastro execrável tingido de sangue.
Semana Santa
Viajei. Revi parentes. Senti a pureza da vida bucólica, em contato com a natureza: o ar puro encontrando meus pulmões, o cheirinho verde de mato presenteando meu olfato. Limpei meus olhos com a vista de belas paisagens. Banhei de rio, deslizando nas águas ao sabor frenético da correnteza. Pensei em Jesus, especialmente na Sexta-Feira da Paixão. Voltei pra casa. Recomeço a rotina, tentando não encará-la como tal.
domingo, 23 de março de 2008
Engrenado
Engrenei num ritmo intenso, que envolve as obrigações sagradas de pai de família, policial, educador e estudante. Várias atividades, um só sentido: o movimento da vida, que me faz ir em frente, sabendo que o importante é empregar o Amor em cada palavra, em cada gesto,em cada contato, em cada expressão facial, em cada olhar. Tenho estado mais sensível que o normal nos últimos dias, com um desejo de viver intensamente cada segundo de vida ao lado das pessoas que amo e que hoje enxergo e compreendo melhor, mas também junto de cada ser que me tangencia o destino. Tenho sonhos com o meu filho que vai chegar agora entre o final de maio e o limiar de junho: sonhos no sono, sonhos na vigília. Tenho sentido um amor ainda maior pela humanidade, vendo em cada pessoa um irmão, um templo vivo da divindade. Tenho falado pouco, ouvido muito. Tenho tido colóquios, com Deus de testemunha. Tenho sentido agudas saudades de muitos momentos da infância, dos meus avós que já foram "estudar a Geologia dos campos eternos", dos banhos de riachinho, dos primos que nunca mais vi. Saudades da criança que fui e de me sentir criança quando criança (sim, porque hoje quando me sinto criança, é como adulto que o sinto). E eu vou seguindo, engrenado no meu ritmo, percebendo um turbilhão de sentimentos amalgamados em mim, tentando organizá-los. Vou sempre em frente, contemplando o curso natural das coisas sem preocupações atrozes.
quinta-feira, 13 de março de 2008
Cidadania
Acredita-se que as primeiras cidades (dentre elas Jericó e Çatal Huyhuk) parecem ter surgido há 10 mil anos antes de Cristo. De lá para cá, ou seja, dessas eras priscas até o século XXI é consabido que muitos representantes da espécie humana ainda não aprenderam a viver em sociedade. A vida social tem como um de seus imperativos mais significativos a obediência de regras comuns a todos. Aqueles que não obedecem essas regras, a nosso ver, é que não aprenderam a viver numa comunidade: não sabem o que é cidadania. Vivem extrapolando do direito que lhes é garantido e invadindo e ferindo, descarada e impunemente, o direito alheio. Isso acontece em todo o mundo: nos países do Norte como nos do Sul (se bem que acredito que nas nações desenvolvidas o número de pessoas não imbuídas de cidadania seja muito menor que nos dos Sul). O Brasil não é exceção. O transplante do estado português para estas paragens tropicais, bem no início do século XIX - quando da vinda da família real portuguesa para o Brasil em função das guerras napoleônicas - significou, também, o implante das relações de compadrio: essa herança lusitana menos feliz que, traduzida para termo mais atual, se refere ao velho "jeitinho brasileiro". Minha esposa está grávida de quase sete meses. Estávamos num supermercado da capital. Procuramos o caixa apara atendimento prioritário (que é garantido por lei federal). No dito estabelecimento só havia um caixa prioritário funcionando (e olha que é a maior unidade da rede). Havia pessoas utilizando o caixa naquele momento. Nenhuma delas idosa, com criança de colo, deficiente ou grávida, como a minha consorte. Ela olhou para a placa. Depois deitou a vista sobre as pessoas. Ninguém da fila esboçou reação alguma: se havia ali algum problema, não era com eles. Isso é que é não ter cidadania, que não casa, de jeito algum, com o expediente colonial e hodierno do "jeitinho brasileiro".
Mais prático
Viver no mundo requer, entre outras, habilidade prática. Sou menos prático. Sou mais reflexivo. Sei que não devo ser menos nem mais em coisa alguma. Aristóteles me ensinou que a sabedoria está no "meio", isto é, na perfeita conciliação dos nossos sentimentos, das nossas ações, que não devem ser envidados para mais, nem para menos. Enquanto eu aprendo, com a vida, a ser prático, e a conciliar reflexão e prática, aqui em casa as coisas vão bem, obrigado. O ente "lar" conta com dois diregentes que se complementam: eu, inteligência reflexiva...minha esposa, inteligência prática.
quarta-feira, 12 de março de 2008
O meu vaso
Vez por outra me vejo inquieto. Nunca me demoro plenamente tranquilo: há tanta coisa triste fora do conforto de nossos lares, que reclama a nossa ação, na parcela de contribuição que devemos ofertar na edficação de uma sociedade mais justa, menos desigual. Eu não posso repousar absolutamente sossegado sabendo que tem gente passando fome, que há mães que tem no silêncio angustiado a única resposta para dar aos filhos que pedem comida, não recebem e vão chorar de fome, até o sono bater, complacente. Poderia fazer mais. Há mares de lágrimas além dos nossos muros e nós, a maiorira, somos vasos vazios, aproveitando aqui as palavras da bela canção "El otro lado del rio", de Jorge Drexler, que embala os Diários de Motocicleta. Até meu desencarne penso que estarei assim, inquieto, com algo buliçoso a me atiçar e arder na alma quando diante das mazelas sociais do mundo. E eu não quero partir com meu vaso vazio.
terça-feira, 11 de março de 2008
Estranho-me
E eu sigo levado pelo tempo, às vezes estranhando esse mundo, como se ele não fosse o meu mundo. Às vezes estranho a minha morfologia, refletida na polida superfície do espelho: nariz, boca, orelhas (que estranha forma!). Ela não tem nada de mais, nem de menos: é como todas as outras morfologias. E não me digam que sou louco. Apenas observo mais acuradamente o comum. Gosto do planeta em que vivo. Gosto também porque é belo. Ontem a tarde, o ceú tingira-se de um azul intenso dourado pelos raios do sol, como poucas vezes já vi. E gosto também do meu corpo. É a vestimenta para a manifestação da minha inteligência. É o porto onde atracam os meus sentidos. O bar onde curto os prazeres das happy hours. A casa onde moram os meus desejos. Vejo os sofrimentos que se desdobram no teatro da Terra: dramas, tragédias e tudo o mais e me comovo com tudo, miséria, fome, desastres naturais, guerras, doenças, injustiças... E o meu corpo, como a Terra, também dói as vezes: a cabeça, as pernas, os braços, o estômago... é matéria perecível, sujeita ao desgaste. E na dor que o corpo sente, a alma se educa. E também se educa com as dores morais. Um dia eu deixo a Terra. Um dia eu deixo o corpo. Ambos ficarão para trás, como alvos onde atiro os dardos de minhas lembranças. Aí, continuarei levado nas asas do tempo, talvez não mais estranhando o meu mundo exterior.
domingo, 9 de março de 2008
Ponderações sobre a busca do conhecimento da Verdade II
Buscar a compreensão do Princípio de tudo, sentido-fim, questão primeira da Filosofia tradicional, isto é, buscar o conhecimento do Uno, tão bem conceituado por Plotino na elaboração dos princípios do Neoplatonismo, é tarefa que exige profundo poder de abstração. Todavia, jamais será possível saber perfeitamente o que seja o Uno, a Verdade iniciadora e mantenedora de tudo o que há. O Uno, aqui entendido como a Verdade, apenas pode ser sondado por meio de aproximações e negativas. Santo Agostinho é que recomendou o uso das negativas; escreveu ele o que segue: "Se não podeis compreender agora o que é Deus, compreendei ao menos o que Ele não é (...)".
Na busca do Uno ou da Verdade, a nosso ver, necessário se faz a aliança conceitual entre Filosofia, Religião e Ciência. Cada uma das quais deve habilitar a outra.
terça-feira, 4 de março de 2008
Ponderações sobre a busca do conhecimento da Verdade
Há uma Verdade maior, que está na gênese da organização, do sentido e da finalidade de tudo o que há. Há uma tendência, guardada nos recônditos da alma de cada ser humano, a qual nos movimenta em direção ao conhecimento dessa Verdade, que é absoluta por si só e que a tudo abarca e o tudo, a meu ver, é a composição infinita dos elementos das realidades perceptíveis e imperceptíveis, materiais e imateriais. Em alguns Homo sapiens moderno, essa tendência em buscar o conhecimento da Verdade jaz estacionada. Em outros, encontra-se em pleno movimento. Os derradeiros os defino como iniciados, havendo graus vários de iniciação.
É de se supor - e a nossa intimidade nos fornece os elementos que não são meras impressões ou representações de idéias pré-concebidas - que a organização do universo com tudo o que o faz universo, não é obra do acaso ou do caos. É o universo concebido e fundamentado por meio de uma hiperinteligência. Hiperinteligência porque não há nenhuma outra inteligência que a rivalize ou que ao menos seja comparável em algum dos seus aspectos delineadores com ela, a suprema inteligência, não acessível em sua essência constituinte aos mecanismos de compreensão da limitada racionalidade humana; inteligência indízivel.
Nos seres humanos onde jaz em estado de apatia a tendência para o conhecimento da Verdade por trás da organização do universo, é de se notar uma preocupação direcionada mais aos aspectos materiais e imediatos da vida do que aos aspectos metafísicos. O mediato é desprezado. O destino do ser e os propósitos de sua existência no universo são questionamentos ignorados do ponto de vista da investigação filosófica individual. Muitos promovem uma busca de respostas estimulada, todavia adstrita e fomentada por alguns sistemas religiosos de massa, cuja fundamentação dos princípios, considerando o seu processo constitutivo e as bases sobre as quais se assenta a sua manutenção, não sói como o resultado de uma elaboração fundamentada nas vigas do pensamento racional e filosófico. São religiões que não se sustentam - a não ser pela fé cega - quando encaram de frente um exame racional mais acurado.
Sim. Pode a religião, admitida aqui como veículo de busca do conhecimento da Verdade real, emburtir-se de elementos racionais na composição de sua estrutura conceitualísca. Um novo termo - que não religião - soaria melhor para designar esses sistemas, também religiosos, mas que contém, essencialmente, elementos de filosofia e de ciência. Há sistemas tais disponíveis para análise. A lógica aponta para as suas convergências.
sábado, 1 de março de 2008
Ensaiando
Inconsciência.
A seu turno as flores da noite
Exalam uma constelação de olores
No espaço que foge de mim
Como a água das mãos.
Alhures, bem alhures,
Minha Inconsciência flui
Na inconsistência dos nimbos
Que passeiam as chuvas
Sobre as cabeças desavisadas da Terra.
E de volta a crosta, ela se precipita
Amalgamada à tempestade
Que atravessa os vastos campos da noite.
Onde um cavalo insólito galopa
Com as patas em lama encharcadas
Vai também minha Inconsciência
Indomada, insana, desesperada
Romper os véus da noite
Refrigerar-se nas teias do vento frio
Que sopra rumores vindos de muito longe.
Percorre caminhos insondáveis
Curte as trilhas de fogo
Na noite interminável que se esparge
Fazendo o mundo em caverna.
A noite esconde o verde das colinas
Cobertas nas extensões em sombras.
Apenas os ruídos místicos dos animais da noite
Ecoam no vasto mundo à fora
Gelando espinhas de medo,
Excitando os nervos distendidos.
E minha Inconsciência chega à galope e se perde
Nos ângulos fechados da floresta
Onde tensos rituais refletem,
Na opalina claridade lunar,
O calor de desejos inauditos.
Há canibais devorando Inconsciências
E a minha foge, ainda mais louca,
Serperteando venenosamente a mata
Seguindo vacilante o caminho das águas.
Encontra tesouros perdidos
Amuletos, moedas, ossos
Ruínas, cocares, destroços
Entre as pedras lentamente sufocadas pelo tempo.
Eis que erguida, minha Inconsciência sobe
Os degraus de sangue de velha pirâmide
Que vela o Sol das alturas
Através do olhar de Chac Mol.
E lá repousa cansada
E fatigada e fustigada,
Dos deslocamentos movidos à loucura
Que passa ao largo dos anjos.
Teresina-PI, 29.02.2008.
A seu turno as flores da noite
Exalam uma constelação de olores
No espaço que foge de mim
Como a água das mãos.
Alhures, bem alhures,
Minha Inconsciência flui
Na inconsistência dos nimbos
Que passeiam as chuvas
Sobre as cabeças desavisadas da Terra.
E de volta a crosta, ela se precipita
Amalgamada à tempestade
Que atravessa os vastos campos da noite.
Onde um cavalo insólito galopa
Com as patas em lama encharcadas
Vai também minha Inconsciência
Indomada, insana, desesperada
Romper os véus da noite
Refrigerar-se nas teias do vento frio
Que sopra rumores vindos de muito longe.
Percorre caminhos insondáveis
Curte as trilhas de fogo
Na noite interminável que se esparge
Fazendo o mundo em caverna.
A noite esconde o verde das colinas
Cobertas nas extensões em sombras.
Apenas os ruídos místicos dos animais da noite
Ecoam no vasto mundo à fora
Gelando espinhas de medo,
Excitando os nervos distendidos.
E minha Inconsciência chega à galope e se perde
Nos ângulos fechados da floresta
Onde tensos rituais refletem,
Na opalina claridade lunar,
O calor de desejos inauditos.
Há canibais devorando Inconsciências
E a minha foge, ainda mais louca,
Serperteando venenosamente a mata
Seguindo vacilante o caminho das águas.
Encontra tesouros perdidos
Amuletos, moedas, ossos
Ruínas, cocares, destroços
Entre as pedras lentamente sufocadas pelo tempo.
Eis que erguida, minha Inconsciência sobe
Os degraus de sangue de velha pirâmide
Que vela o Sol das alturas
Através do olhar de Chac Mol.
E lá repousa cansada
E fatigada e fustigada,
Dos deslocamentos movidos à loucura
Que passa ao largo dos anjos.
Teresina-PI, 29.02.2008.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Falou e disse - I
“Destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha; não é uma coisa que se espera, mas que se busca.”
François Rabelais
Mensagem
Aproveite o tempo agora. Não deixe seus projetos sempre pra amanhã, pois o dia vindouro pode não oferecer as mesmas possibilidades de êxito do dia de hoje. Afirme-se diante das situações que precisa superar: o seu poder pessoal deve prevalecer sobre o poder da situação, por mais forte que ele possa ser. Não diga que não pode ou não consegue de pronto. Há geralmente múltiplas maneiras de se resolver um "problema". Aliás, é melhor que você veja seus "problemas" como elementos de estímulo ao progresso da sua inteligência e da sua maturidade. Se não der certo logo de cara, não desista, pois geralmente a vitória é de quem acredita nela por mais tempo. E se você acha que dizer tudo isso é fácil e que o difícil é sair do torvelinho de dificuldades que estão desafiando você, faça o difícil, aproveitando os ensinamentos fáceis e lembrando que difícil nunca foi sinônimo de impossível. Faça sua parte. Se o que você quer for para o seu bem, tenha por certo que a Providência Divina fará o resto, nem que esse resto tenha que ser um milagre. Sim: milagres acontecem...
sábado, 23 de fevereiro de 2008
Ainda mais menino
Frequentemente me vejo fazendo coisas de menino. Brincando como um menino. Correndo pelo apartamento como menino. Jogando vídeo-game como menino. Revendo antigos desenhos animados e seriados como menino. Trago em mim ainda o encantamento de um menino. Cai chuva e quero me molhar. Vejo o campo verdinho e quero correr. Uma piscina e quero pular. Um pé de caju de galhos carregados e quero subí-lo. Um riacho corrente e quero adentrá-lo. Eu menino. Sempre menino. Adulto menino. O menino corre no sangue que percorre as veias e artérias minhas. Sou menino na carne. Sou menino na alma. E ainda agora, pai de mais uma criança. Um menino pro menino. Um menino no regaço de outro. Dois meninos. Um menino e um pai-menino ainda mais menino.
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Exploração comercial da violência
Há dois aspectos importantes relativos a superexposição da violência na TV. Em nosso estado, há pelo menos dois programas locais, de duas redes de TV distintas, especializados em promover a exploração desse tema. Geralmente, pessoas de baixo poder aquisitivo, gente pobre ou miserável, é que tem sua imagem exposta nesses veículos de comunicação, a maior parte por cometer crimes tidos pela lei como de menor potencial ofensivo ou simplesmente por estar envolvida em disenssões com vizinhos, parentes ou amantes. Esses periódicos televisivos expõem essas pessoas como se estivessem a exibir uma comédia sob uma trilha sonora temperada de impropérios e músicas que se prestam a ironizar a situação delas. Pronto: o espetáculo está montado. E quando vemos quadros assim, costumamos assistir aos que vem em seguida e, assim, estamos dando audiência a programas que efetuam a exploração comercial da violência na TV. Esse é o primeiro dos aspectos que o texto se propõe a abordar, sumariamente. Não que esses programas sejam nocivos na sua integralidade, não: eles também dão informes relevantes, prestando, pois, serviço social importante. Todavia, não se pode ignorar que a superexposição de lances de violência cotidianamente tem um efeito ruim, que constitui o segundo aspecto analisado aqui: a de que perdemos o senso de indignação com a banalização da violência na TV. Após refletir sobre esses dois aspectos, deixei de ver - eu que já não gostava - programas assim.
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Execução Relativa
Quem só vê defeitos ou só vê virtudes num governo, está fazendo um juízo equivocado da realidade. Trata-se de uma postura apaixonada diante de um tema dos mais relevates dentro do ordenamento social, que é a política. Quando a tendência majoritária for a da racionalidade na administração pública - e não a da paixão, como ora ocorre - ou, como queria Platão, quando os filósofos estiverem no poder, certamente haverá o predomínio das virtudes no governo. Todo governo acerta e erra. E isso não é diferente no Estado do Piauí. Notórias são algumas virtudes do atual governo, como evidentes também são algumas incongruências. Uma delas é a relativa ao modo como o governo encara o cumprimento de decisões emanadas do Poder Judiciário. Há pelo menos duas formas de ação do Executivo quando se trata de dar efetividade aos mandos da Justiça, as quais ostentam como critério basilar o favorecimento dos servidores públicos estaduais. Mas atenção: o que aqui será mencionado doravante não nasce do desejo de criticar apaixonadamente o governo, que tem vícios, mas cujas virtudes reconheço; nasce, antes, da observação imparcial e percuciente da realidade política local, com os fatos que a movimentam. Recententemente, servidores da Secretaria da Saúde, que ingressaram no serviço público sem concurso, os chamados "serviços prestados", acamparam na Secretaria de Administração, como forma de chamar a atenção do Executivo estadual para o seu drama: são pessoas, com bastante tempo de serviço - gente com até 20 anos de trabalho - que, agora, se vêem fora da folha de pagamento do Estado: isso é um eufemismo, para dizer que elas foram demitidas. O que é que essa gente humilde, com minoradas chances de ainda ingressar num mercado de trabalho altamente especializado, vai fazer agora? Vão sobreviver de quê mesmo? A maioria é de arrimos de família e há até pessoas doentes, que precisam do seu parco, mas indispensável salário, para comprar medicação de uso controlado. Dói no imo d'alma quando a gente se depara com casos assim. Mas, em meio ao torvelinho de situações provocadas por esse drama comovente, qual o discurso do governo? "Estamos apenas cumprindo uma ordem judicial". Montesquieu exulta. É o triunfo absoluto da Teoria do Poder Tripartite no estado do Piauí. Dura lex, sede lex. A lei é também fria, um instituto insensível: o bem maior é o triunfo do sagrado estado democrático de direito. Ora, não se pode olvidar que o que é socialmente justo deve preponderar sobre a lei que, algumas vezes, tem de ser obedecida sobre o imperativo de ordens injustas, imorais e desumanas, como é o caso da ordem legal expedida em desfavor dos servidores sem concurso da Secretaria de Saúde do Piauí. No outro lado da moeda estão os mandados judiciais favoráveis aos servidores do Estado, como é o caso daquele expedido pelo Desembargador Luiz Gonzaga Brandão de Carvalho, que manda o governo do Piauí, mais particularmente a Secretária de Administração, Dona Regina Sousa, corrigir o valor das gratificações de adicional noturno e vantagem extra pagas aos policiais civis e agentes penitenciários. É de domínio público a confusão que aconteceu por conta dessa ordem judicial que, por não ser cumprida, obrigou a titular da pasta da Administração no governo do Sr. Wellington Dias, a ocultar a sua localização por algumas horas para poder escapar dos efeitos de um mandado de prisão, enquanto um dos procuradores do estado, às pressas, embarcava num avião rumo à capital federal, em busca de um habeas corpus no STJ. O discurso do governo dessa vez foi: não vamos cumprir a decisão, pois isso coloca em cheque as finanças do nosso estado, inclusive com o comprometimento do pagamento da folha do serviço público estadual. O próprio chefe do Executivo, em algumas entrevistas, chegou a se posicionar assim. Montesquieu se remexe fremitamente no túmulo pois o Sr. Dias, não apenas como cidadão, mas também como primeiro magistrado do estado, deveria dar exemplo e cumprir as ordens emanadas do Judiciário. Dever seu era dar cumprimento as decisões da Justiça, depois que recorrese à instância superior para tentar derrubar a decisão. Mas a sua atitude pode ser interpretada não apenas como desrespeito aos policiais civis e penitenciários, mas também como um flagrante desrespeito a classe dos servidores públicos estaduais e, o que é pior, o mal exemplo do governador mostrou que o Piauí é um estado em que não existe plena segurança jurídica. A tese é esta: quando a decisão da Justiça é contra o servidor, seu cumprimento formal é imediato, já quando é a favor... Até hoje o governador não cumpriu a ordem judicial a favor dos policiais civis e penitenciários, Regina Sousa foi contemplada com um habeas corpus e tudo continua por isso mesmo, sem mudança do status quo. E quem houver que pense que a tese não se sustenta pela insuficiência de demonstrações, que recorde o caso dos professores da rede pública estadual, cujo sindicato perdeu um embate com seus ex-advogados, os quais conseguiram ordem para o pagamento de um montante milionário que seria descontado por longos 12 meses nos combalidos contracheques de todos os funcionários da Secretária da Educação. A postura do governo? Preparou-se para efetuar o desconto que, para o alívio temporário da classe, foi suspenso por decisão do Tribunal de Justiça do Piauí. Bela é a teoria do Barão de Montesquieu: poderes em harmonia. Pena que o governo do Piauí, na contra-mão do pensamento iluminista, em pleno século XXI, arvore sua conduta na tese incongruente da "execução relativa".
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Como deuses
Os romanos antigos adoravam vários deuses. Apenas com o advento do Cristianismo é que esse quadro começou a se modificar pois essa crença ganhava, não obstante a perseguição envidada sistematicamente por alguns césares, cada mais vez mais adeptos, tanto entre os escravos e a plebe, como entre os membros do patriciado.
Os cristãos que transitavam pelas agitadas ruas da Cidade Eterna, se reconheciam através de um sinal em cruz, que faziam discretamente com as mãos, para não serem identificados pelas autoridades e, assim, levados como conspiradores aos cárceres da cidade, como a famosa prisão Marmetina. Através desse sinal característico, cristão identificava cristão e, assim, podiam trocar, reservados, informes sobre horários e locais de culto, que geralmente se davam nos arrabaldes da cidade, madrugada adentro, no interior de catacumbas iluminadas por tochas.
Muitos cristãos eram aprisionados por centuriões nesses locais: tanto escravos e plebeus, como também patrícios. Estes, logo que identificados, eram em seguida liberados, recaindo então a justiça do Império apenas sobre as classes não favorecidas pelo nascimento. Essas pessoas eram submetidas a processo e, aquelas que não abjurassem de sua crença, jurando fidelidade aos deuses romanos, eram sentenciados ao suplício seguido de morte. E muitos resistiam com denodo às sevícias do carcére, não negando a sua condição de cristãos: foram os inúmeros mártires do cristianismo primitivo.
A consumação das sentenças se fazia, geralmente, aproveitando-se das datas de comemorações populares em honra ao imperador ou aos mais altos dignatários do Império, como os senadores. Em oportunidades assim, era usado como palco do sacrifício dos cristãos o Anfiteatro Flávio, mais conhecido como "Colosseo" (Coliseu). Divergem alguns historiadores sobre a capacidade dessa que talvez seja a mais emblemática das obras da Roma Antiga, a qual demorava entre as colinas do Celio e do Aventino. Todavia, acreditamos que a hipétese mais acertada seja aquela que defende que o anfiteatro comportava até 100 mil espectadores.
Em um de seus quatro andares se encontrava a tribuna em que o Augusto, cercado de seus áulicos, contemplava as "belezas" dos espetáculos ali apresentados. Segundo os registros históricos, espetáculos grandiosos como encenações de batalhas envolvendo até animais de grande porte e exóticos, trazidos do oriente, danças e confrontos de grupos de gladiadores entre si e de gladiadores contra feras selvagens . O martíro dos cristãos, geralmente, ficava para o final.
Alguns imperadores mais refratários à causa nazarena, como Nero, assistiam, do alto de suas tribunas de mármore, os condenados serem atirados às feras, geralmente tigres da Ásia e leões trazidos da África. Sem chance de defesa, morriam estraçalhados, sob os aplausos da turba ensadecida, sedenta de sangue. Outros imperadores mais moderados, como Élio Adriano, assistia ao sacrifício de cristãos amarrados em postes negros com grossas cordas, quase nus, que tinham várias partes do corpo atingidas por flechas envenenadas, atiradas por exímios atletas, geralmente negros vindos da Namíbia.
Nesses grandes espetáculos, aqueles que ocupavam a tribuna sentiam-se deuses. Ocupavam posição elevada, estavam acima dos acontecimentos representados na arena, como os deuses no céu, acima dos acontecimentos humanos que se desdobravam na Terra. E mais: era da tribuna que partia, por exemplo, a ordem de execução de um gladiador derrotado por outro, ou a concessão de clemência, tal como os deuses romanos que, das alturas celestiais, decidem o destino dos homens. A tribuna do Coliseu era, pois, a representação romana da divindidade na Terra.
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