Inconsciência.
A seu turno as flores da noite
Exalam uma constelação de olores
No espaço que foge de mim
Como a água das mãos.
Alhures, bem alhures,
Minha Inconsciência flui
Na inconsistência dos nimbos
Que passeiam as chuvas
Sobre as cabeças desavisadas da Terra.
E de volta a crosta, ela se precipita
Amalgamada à tempestade
Que atravessa os vastos campos da noite.
Onde um cavalo insólito galopa
Com as patas em lama encharcadas
Vai também minha Inconsciência
Indomada, insana, desesperada
Romper os véus da noite
Refrigerar-se nas teias do vento frio
Que sopra rumores vindos de muito longe.
Percorre caminhos insondáveis
Curte as trilhas de fogo
Na noite interminável que se esparge
Fazendo o mundo em caverna.
A noite esconde o verde das colinas
Cobertas nas extensões em sombras.
Apenas os ruídos místicos dos animais da noite
Ecoam no vasto mundo à fora
Gelando espinhas de medo,
Excitando os nervos distendidos.
E minha Inconsciência chega à galope e se perde
Nos ângulos fechados da floresta
Onde tensos rituais refletem,
Na opalina claridade lunar,
O calor de desejos inauditos.
Há canibais devorando Inconsciências
E a minha foge, ainda mais louca,
Serperteando venenosamente a mata
Seguindo vacilante o caminho das águas.
Encontra tesouros perdidos
Amuletos, moedas, ossos
Ruínas, cocares, destroços
Entre as pedras lentamente sufocadas pelo tempo.
Eis que erguida, minha Inconsciência sobe
Os degraus de sangue de velha pirâmide
Que vela o Sol das alturas
Através do olhar de Chac Mol.
E lá repousa cansada
E fatigada e fustigada,
Dos deslocamentos movidos à loucura
Que passa ao largo dos anjos.
Teresina-PI, 29.02.2008.
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