quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Como deuses


Os romanos antigos adoravam vários deuses. Apenas com o advento do Cristianismo é que esse quadro começou a se modificar pois essa crença ganhava, não obstante a perseguição envidada sistematicamente por alguns césares, cada mais vez mais adeptos, tanto entre os escravos e a plebe, como entre os membros do patriciado.


Os cristãos que transitavam pelas agitadas ruas da Cidade Eterna, se reconheciam através de um sinal em cruz, que faziam discretamente com as mãos, para não serem identificados pelas autoridades e, assim, levados como conspiradores aos cárceres da cidade, como a famosa prisão Marmetina. Através desse sinal característico, cristão identificava cristão e, assim, podiam trocar, reservados, informes sobre horários e locais de culto, que geralmente se davam nos arrabaldes da cidade, madrugada adentro, no interior de catacumbas iluminadas por tochas.


Muitos cristãos eram aprisionados por centuriões nesses locais: tanto escravos e plebeus, como também patrícios. Estes, logo que identificados, eram em seguida liberados, recaindo então a justiça do Império apenas sobre as classes não favorecidas pelo nascimento. Essas pessoas eram submetidas a processo e, aquelas que não abjurassem de sua crença, jurando fidelidade aos deuses romanos, eram sentenciados ao suplício seguido de morte. E muitos resistiam com denodo às sevícias do carcére, não negando a sua condição de cristãos: foram os inúmeros mártires do cristianismo primitivo.


A consumação das sentenças se fazia, geralmente, aproveitando-se das datas de comemorações populares em honra ao imperador ou aos mais altos dignatários do Império, como os senadores. Em oportunidades assim, era usado como palco do sacrifício dos cristãos o Anfiteatro Flávio, mais conhecido como "Colosseo" (Coliseu). Divergem alguns historiadores sobre a capacidade dessa que talvez seja a mais emblemática das obras da Roma Antiga, a qual demorava entre as colinas do Celio e do Aventino. Todavia, acreditamos que a hipétese mais acertada seja aquela que defende que o anfiteatro comportava até 100 mil espectadores.


Em um de seus quatro andares se encontrava a tribuna em que o Augusto, cercado de seus áulicos, contemplava as "belezas" dos espetáculos ali apresentados. Segundo os registros históricos, espetáculos grandiosos como encenações de batalhas envolvendo até animais de grande porte e exóticos, trazidos do oriente, danças e confrontos de grupos de gladiadores entre si e de gladiadores contra feras selvagens . O martíro dos cristãos, geralmente, ficava para o final.


Alguns imperadores mais refratários à causa nazarena, como Nero, assistiam, do alto de suas tribunas de mármore, os condenados serem atirados às feras, geralmente tigres da Ásia e leões trazidos da África. Sem chance de defesa, morriam estraçalhados, sob os aplausos da turba ensadecida, sedenta de sangue. Outros imperadores mais moderados, como Élio Adriano, assistia ao sacrifício de cristãos amarrados em postes negros com grossas cordas, quase nus, que tinham várias partes do corpo atingidas por flechas envenenadas, atiradas por exímios atletas, geralmente negros vindos da Namíbia.


Nesses grandes espetáculos, aqueles que ocupavam a tribuna sentiam-se deuses. Ocupavam posição elevada, estavam acima dos acontecimentos representados na arena, como os deuses no céu, acima dos acontecimentos humanos que se desdobravam na Terra. E mais: era da tribuna que partia, por exemplo, a ordem de execução de um gladiador derrotado por outro, ou a concessão de clemência, tal como os deuses romanos que, das alturas celestiais, decidem o destino dos homens. A tribuna do Coliseu era, pois, a representação romana da divindidade na Terra.

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