Disseram-me que um conhecido havia morrido e que tinha sido "do coração". Quando recebi a notícia era sábado, estava em Teresina e o "defunto", em Campo Maior. Lamentei, entre resignado e surpreso pois havia estado com ele há bem pouco tempo, quando me entrevistara, como de vezo, todas as manhãs de segunda-feira, no programa policial do qual ele "era" repórter. A vontade que tive foi a de ir ao quarto e, em solidão silenciosa, dirigir uma prece ao Criador, para que cuidasse de sua alma récem repatriada ao mundo espiritual. Assim o fiz, ainda aproveitando o ensejo para dirigir vibrações de paz ao "finado". Recordei seu exemplo de vida, já que poderia ser ele o objeto das matérias policiais, caso não tivesse mudado os rumos de sua existência. Acorreu-me Machado de Assis: "Foi estudar a geologia dos campos eternos", pensei eu, reproduzindo os dizeres do grande fundador da Academia Brasileira de Letras. A notícia de sua "morte" ainda repercutia na minha intimidade, recordava a última entrevista concedida, já saudoso. Quando chegasse em Campo Maior, no domingo, interar-me-ia dos pormenores do acontecimento lúgubre, já que procurara notas sobre o caso nos portais da cidade na internet e não havia nenhuma. Domingo, demandei Campo Maior. Ao entrar em casa de meus pais, pedi as bençãos de mamãe e papai, que em seguida me convidaram para sentar à mesa, onde tomaríamos a refeição matinal. Quis então saber sobre a morte do meu conhecido ao que papai objetou, com firmeza, que realmente ele houvera sido acometido por um enfarto, mas que se encontrava agora em Teresina e com um detalhe substancial: estava vivo e em tratamento. "As pessoas aqui é porque 'matam' as outras antes do tempo", disparou ele, algo irritado. Cobri-me de alívio imediatamente, tenho apreço pelo conhecido. "Mas a prece não se perdeu, Deus soube como aproveitá-la para o 'morto' que está vivo", pensei eu. Não é a primeira vez que vejo casos assim em Campo Maior, de pessoas que são "enterradas vivas" pelo vulgo popular. Outro dia me disseram: "'fulano de tal' já morreu, passei na casa dele e já tinham posto uma vela em suas mãos". Dia seguinte 'fulano de tal' pedalava sua bicicleta passando em frente do meu trabalho. O juízo popular é açodado e comumente toma por verdade coisas que não caíram no campo da certeza ainda. Basta o informe e o afã de espalhar a notícia ao primeiro que se vê põe em dormência a cautela, que manda apurar a fidedignidade da fonte antes de dar crédito à notícia e sair propalando-a por aí, aos quatro ventos. As notícias ventiladas na rua voam de um ouvido ao outro com as asas da precipitação. Guarde um ouvido para a versão da rua e reserve o outro para o informe de alguém fidedigno. É do feitio do povo da rua "aumentar" a notícia e, quando isso se dá, por certo a verdade se desfaz na língua das gentes e a informação, fermentada pela índole popular, ganha outra natureza, as vezes totalmente diversa da versão real. Por óbvio, não devemos ir ao extremo de Tomé, mas não devemos crer na primeira informação que nos chega.
Um comentário:
Hércules, que bom que seu amigo está bem vivo!! É a língua do povo , em certos casos, sobretudo os mórbidos, aõ todos num aumentativo extratrosférico, pena, por que se ao contrário fosse, daria para divulgar bastante fatos realmente relevantes para às suas próprias vidas e para a humanidade.
Espero que seu feriado de Carnaval também seja de paz e descanso, a folia, nós deixamos para os "afoitos", que DEUS abençõe os foliões ;)
Abração.
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