São, para mim, muito especiais os dias de inverno. Eles têm uma conotação que me faz voejar sem escalas à infância já perdida nas curvas do tempo. Reavivam-se nos escaninhos de minha memória, os lances dessa era augusta, ligados principalmente às férias que costumava passar no sítio de meus avós maternos, chamado "Água Branca". As férias coincidiam justamente com o período invernoso. Quando lembro da Água Branca, a sensação que tenho é de que tudo aquilo foi onírico. Mas era real. Ali sentia-me como que incorporado à natureza, como parte dela, fruindo as alegrias indefiníveis que ela desperta nos corações inocentes. Jogar bola no campinho, ouvir a chuva bater no teto de palha da casa grande de vovô, colher frutos silvestres na mata, banhar de riacho, pescar na Lagoa do Capim, trilhar nas veredas que serpenteavam pela floresta fechada, brincar com os cabritinhos no curral, dar sal na língua do boi, brincar na areia até ficar preto, subir nos pés de caju, brincar de esconde-esconde no mataparte, correr até a estrada de ferro para ver a maria fumaça, comer gongo frito, acordar com o cheirinho do café da vovó, vislumbrar os pintos aprenderem a ciscar, comer côco babaçu torrado, ir à roça com vovô plantar milho e feijão, ouvir as estórias do Chiquinho (meu primo mais velho), descobrir os segredos da casa do Antônio Avó, pular no Pontilhão, brincar com os primos, enfim, sonhar... Era uma quimera. Hoje, a chuva lava as ruínas da casa do vovô. Onde havia tanta vida e alegria, tantos sonhos de criança, há mato: um verde exuberante, mas triste. Tudo se foi com o tempo... e tudo volta, não da mesma forma, nos dias ao mesmo tempo alegres e tristes do inverno de lembranças.
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