domingo, 30 de março de 2008

Cantando a minha terra

Campo Maior

Bem cravejada no centro-norte
A mais bela jóia do Piauí
Resplandece com brilho forte
Iluminando gloriosa o porvir!

Singular, essa eterna gema preciosa
Repleta na forma de tanta beleza
Reluz na essência a história briosa
Do povo bravo por natureza!

Maior encanto não suscita
Nenhuma outra pepita
De nenhum outro lugar do mundo!

Esculpida por divina arte
Só se dimensiona seu quilate
Na grandeza do amor profundo!

Missiva de um irmão

Grande irmão

Poderiam parecer despiciendas considerações estas minhas, uma vez que é uma tarefa difícil descrevê-lo em poucos vocábulos. Esforçar-me-ei.Neste dia em que aniversarias, aproveito este ensejo para dedicar-lhe esta humílima homenagem. Que posso dizer além de que admiro-o muito? És uma pessoa correta, íntegra, justa, honesta e serena. Reúne em si uma áurea de energia positiva e otimismo, contagiando aqueles que o rodeiam. Isso faz de você uma daquelas pessoas que vieram ao mundo destinadas a serem únicas. A vida (bem o sabes) fez com que amadurecêssemos cedo, criando-nos algumas dificuldades na nossa infância. Uma fase que deveria ter sido inteiramente romântica, mas que não foi em sua integridade. Hoje, talvez maduro, vejo que tudo isso que aconteceu serviu como uma espécie de expiação. A evolução espiritual do homem passa por momentos assim, e é digno de perdão todos os maus atos praticados conosco, conscientemente ou não.Continue sendo essa pessoa preocupada com o bem-estar social. Continue com bons pensamentos em relação à humanidade. É a sua principal virtude.Existem três tipos de homens. Aqueles que não tem história pra contar (são os néscios) Aquele que contam a sua própria história (são os bons) e aqueles que contam a sua história por você. (esses são os extraordinários).Você se enquadra no terceiro tipo. Amo-te.
Diogo Frota.

Dorme nenêm...

Outra noite minha mulher ficou bestinha com uma coisa. Nosso nenêm estava mexendo muito dentro do ventre dela, a ponto dela dizer que ele estava inquieto com alguma coisa. Aí cheguei perto do barrigão e comecei a ter uma conversa com o garoto... quando dei por mim estava cantando pro moleque que, repentinamente, parou de se movimentar: eis o espanto da mãe e alegria do pai que conseguiu ninar, pela 1ª vez, o menino...

Clone sentimental

Cada ser humano tem a sua individualidade, cada um de nós é "um estranho ímpar". Todavia, não posso deixar de ressaltar a extrema semelhança entre mim e minha filha, notadamente no que respeita aos sentimentos. Essa identificação facilita muito a nossa convivência, que é uma convivência praticamente sem ruídos: sintonia alta de valores e princípios comuns.

Desafio

Meu maior desafio: conhecer-me, para me dominar.

Casamento

A maior parte dos casamentos que conheço foi mais difícil no começo. Ainda bem que já tenho quase sete anos de casado.

Amor aos animais

Jamais ouse fazer mal a um animal perto de mim.

Considerações de uma tarde de domingo

Eu sou o que sou hoje, não sou o de ontem, nem o de amanhã. O passado e o futuro estão em mim, mas eu sei que sou o que sou agora. O tempo me arrasta, onda invencível, e sou precisamente aquilo que faço de mim dia-a-dia. Sou aquilo que penso, não aquilo que podem vir a pensar de mim. Mas quando me vejo hoje, agora, não me reconheço há tempos atrás. A entidade que me animava o corpo (eu mesmo), era muito diferente do que sou hoje, a ponto de me enxergar no pretérito como quem vê um estranho fazendo coisas, para hoje, absurdas, inadmissíveis. Vou criando valores, no tumulto da vida e vou deixando cair as partes podres da minha personalidade nos rastros dos caminhos por onde tenho passado. Ainda há muito o que cair, exatamente na proporção das lágrimas que ainda tenho que chorar e das angústias, aprendizados e outras experiências que o tempo trará em suas asas para mim. Eu sou mudança constante e a quero para melhor, sempre. É esse o meu destino inevitável, como é o destino de todos nós: mudar, ser sempre mais alguma coisa. Não pelo "ter", mas pelo "ser"; não pela matéria - que é perecível - mas pela essência - que é imperecível, imortal.

Venho aprendendo que...

...o mundo exterior deve ser tratado com concentração interior: o Eu conduzindo o ego. É preciso ser místico por dentro e ser ativo por fora e buscar, incessantemente, todos os dias, possuir a sabedoria intuitiva, escutando o Eu, sem se derramar apenas e tão somente pela ciência analítica.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Interior

As vezes me vejo observando a realidade à minha volta: quanta gente, quanta vida, quantas histórias, quantos desvarios, quantas futilidades, quanto tempo mal-empregado, quanto desperdício, quantas palavras imprecisas, quantas opiniões infundadas, quanta mentira nas bocas, quanto enfeite desnecessário, quanta verborragia, quanto destempero, quantos conceitos que a gente nunca vai usar, quanta calorias nos pratos, quanta afobação, quanta precipitação, quanta superficialidade. Nessas horas, entendo que eu sou o meu templo sagrado, que o meu interior é o local onde me refugio das intempestividades de um mundo em muitos aspectos desvairado. Não que eu tenha aversão em interagir com mundo: se assim fosse, estaria agora a palmilhar as veredas de alguma floresta distante, num lugar desconhecido e a milhares de quilometros da "civilização", como um ermitão. É necessário interagir com o mundo, pois essa é uma forma de conhecê-lo e é preciso conhecê-lo, para evitá-lo em alguns aspectos. Em verdade, o momento em que mais me sinto só é quando me vejo em meio aos alaridos de multidões.

terça-feira, 25 de março de 2008

Como na Idade Média

O que muitas pessoas sentem hoje, diante do avanço irrefreado da dengue no Brasil, sobremaneira no Rio de Janeiro, deve ser parecido - resguardadas as devidas diferenças relativas ao poder de mortalidade - com o que sentiram os que viveram na Europa na Baixa Idade Média, na época em que a Peste Negra ceifou a vida de grande parte da população desse continente. Em comum: o medo real de morrer e a responsabilidade das pessoas em contribuir com a criação de meios que facilitam a propagação das doenças. Hoje, muita gente tem medo da morte, mas muito pouca gente faz a limpeza do seu próprio quintal para evitar a formação de focos para a reprodução do mosquitor vetor da doença.

Captei recentemente


Localidade Castelete - Pau D'Arco do Piauí - PI

segunda-feira, 24 de março de 2008

Indignação

Li com surpresa feliz a notícia de que neste feriado de Santa Santa não houve nenhum acidente com vítimas fatais nas estradas federais piauienses. Folguei em saber. Todavia, fora das rodovias federais mais um crime hediondo foi cometido na Chapada do Corisco. Um homem foi morto com um tiro na cabeça, mesmo não tendo reagido a uma tentativa de roubo. Detalhe: o homicida estava em liberdade condicional. Isso me inquieta profundamente. Não sou amigo, parente nem conhecido da vítima, mas não tenho como não estar de luto: pelo morto, em particular e pela nossa sociedade, em geral, que frequentemente se vê diante de notícias tristes como essa. Não é porque a criminalidade e a violência são expostas a todo o tempo na TV - tornando-se, com isso, banalizadas - que eu vá perder a minha capacidade de indignação com fatos como esse. Não devemos ter as vítimas fatais da criminalidade na conta de anônimos: são pessoas e, como tal, têm família, sonhos, projetos, esperanças... assim como nós. Já passou da hora de se criar mecanismos eficazes para o controle efetivo da taxa de criminalidade no país e isso envolve estudos profundos das causas e modos de contenção dessas taxas, com ações eficazes do poder público, investimentos e a coragem de se implementar mudanças nos dispositivos penal e processual penal. Há que se dotar o Judiciário de melhor estrutura, afim de que cumpra bem sua competência funcional. Há que se por cobro a essa tsunami de criminalidade que deixa víuvas e órfãos, lágrimas e solidão, dor e revolta, numa rastro execrável tingido de sangue.

Semana Santa

Viajei. Revi parentes. Senti a pureza da vida bucólica, em contato com a natureza: o ar puro encontrando meus pulmões, o cheirinho verde de mato presenteando meu olfato. Limpei meus olhos com a vista de belas paisagens. Banhei de rio, deslizando nas águas ao sabor frenético da correnteza. Pensei em Jesus, especialmente na Sexta-Feira da Paixão. Voltei pra casa. Recomeço a rotina, tentando não encará-la como tal.

domingo, 23 de março de 2008

Engrenado

Engrenei num ritmo intenso, que envolve as obrigações sagradas de pai de família, policial, educador e estudante. Várias atividades, um só sentido: o movimento da vida, que me faz ir em frente, sabendo que o importante é empregar o Amor em cada palavra, em cada gesto,em cada contato, em cada expressão facial, em cada olhar. Tenho estado mais sensível que o normal nos últimos dias, com um desejo de viver intensamente cada segundo de vida ao lado das pessoas que amo e que hoje enxergo e compreendo melhor, mas também junto de cada ser que me tangencia o destino. Tenho sonhos com o meu filho que vai chegar agora entre o final de maio e o limiar de junho: sonhos no sono, sonhos na vigília. Tenho sentido um amor ainda maior pela humanidade, vendo em cada pessoa um irmão, um templo vivo da divindade. Tenho falado pouco, ouvido muito. Tenho tido colóquios, com Deus de testemunha. Tenho sentido agudas saudades de muitos momentos da infância, dos meus avós que já foram "estudar a Geologia dos campos eternos", dos banhos de riachinho, dos primos que nunca mais vi. Saudades da criança que fui e de me sentir criança quando criança (sim, porque hoje quando me sinto criança, é como adulto que o sinto). E eu vou seguindo, engrenado no meu ritmo, percebendo um turbilhão de sentimentos amalgamados em mim, tentando organizá-los. Vou sempre em frente, contemplando o curso natural das coisas sem preocupações atrozes.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Cidadania

Acredita-se que as primeiras cidades (dentre elas Jericó e Çatal Huyhuk) parecem ter surgido há 10 mil anos antes de Cristo. De lá para cá, ou seja, dessas eras priscas até o século XXI é consabido que muitos representantes da espécie humana ainda não aprenderam a viver em sociedade. A vida social tem como um de seus imperativos mais significativos a obediência de regras comuns a todos. Aqueles que não obedecem essas regras, a nosso ver, é que não aprenderam a viver numa comunidade: não sabem o que é cidadania. Vivem extrapolando do direito que lhes é garantido e invadindo e ferindo, descarada e impunemente, o direito alheio. Isso acontece em todo o mundo: nos países do Norte como nos do Sul (se bem que acredito que nas nações desenvolvidas o número de pessoas não imbuídas de cidadania seja muito menor que nos dos Sul). O Brasil não é exceção. O transplante do estado português para estas paragens tropicais, bem no início do século XIX - quando da vinda da família real portuguesa para o Brasil em função das guerras napoleônicas - significou, também, o implante das relações de compadrio: essa herança lusitana menos feliz que, traduzida para termo mais atual, se refere ao velho "jeitinho brasileiro". Minha esposa está grávida de quase sete meses. Estávamos num supermercado da capital. Procuramos o caixa apara atendimento prioritário (que é garantido por lei federal). No dito estabelecimento só havia um caixa prioritário funcionando (e olha que é a maior unidade da rede). Havia pessoas utilizando o caixa naquele momento. Nenhuma delas idosa, com criança de colo, deficiente ou grávida, como a minha consorte. Ela olhou para a placa. Depois deitou a vista sobre as pessoas. Ninguém da fila esboçou reação alguma: se havia ali algum problema, não era com eles. Isso é que é não ter cidadania, que não casa, de jeito algum, com o expediente colonial e hodierno do "jeitinho brasileiro".

Mais prático

Viver no mundo requer, entre outras, habilidade prática. Sou menos prático. Sou mais reflexivo. Sei que não devo ser menos nem mais em coisa alguma. Aristóteles me ensinou que a sabedoria está no "meio", isto é, na perfeita conciliação dos nossos sentimentos, das nossas ações, que não devem ser envidados para mais, nem para menos. Enquanto eu aprendo, com a vida, a ser prático, e a conciliar reflexão e prática, aqui em casa as coisas vão bem, obrigado. O ente "lar" conta com dois diregentes que se complementam: eu, inteligência reflexiva...minha esposa, inteligência prática.

quarta-feira, 12 de março de 2008

O meu vaso

Vez por outra me vejo inquieto. Nunca me demoro plenamente tranquilo: há tanta coisa triste fora do conforto de nossos lares, que reclama a nossa ação, na parcela de contribuição que devemos ofertar na edficação de uma sociedade mais justa, menos desigual. Eu não posso repousar absolutamente sossegado sabendo que tem gente passando fome, que há mães que tem no silêncio angustiado a única resposta para dar aos filhos que pedem comida, não recebem e vão chorar de fome, até o sono bater, complacente. Poderia fazer mais. Há mares de lágrimas além dos nossos muros e nós, a maiorira, somos vasos vazios, aproveitando aqui as palavras da bela canção "El otro lado del rio", de Jorge Drexler, que embala os Diários de Motocicleta. Até meu desencarne penso que estarei assim, inquieto, com algo buliçoso a me atiçar e arder na alma quando diante das mazelas sociais do mundo. E eu não quero partir com meu vaso vazio.

terça-feira, 11 de março de 2008

Estranho-me

E eu sigo levado pelo tempo, às vezes estranhando esse mundo, como se ele não fosse o meu mundo. Às vezes estranho a minha morfologia, refletida na polida superfície do espelho: nariz, boca, orelhas (que estranha forma!). Ela não tem nada de mais, nem de menos: é como todas as outras morfologias. E não me digam que sou louco. Apenas observo mais acuradamente o comum. Gosto do planeta em que vivo. Gosto também porque é belo. Ontem a tarde, o ceú tingira-se de um azul intenso dourado pelos raios do sol, como poucas vezes já vi. E gosto também do meu corpo. É a vestimenta para a manifestação da minha inteligência. É o porto onde atracam os meus sentidos. O bar onde curto os prazeres das happy hours. A casa onde moram os meus desejos. Vejo os sofrimentos que se desdobram no teatro da Terra: dramas, tragédias e tudo o mais e me comovo com tudo, miséria, fome, desastres naturais, guerras, doenças, injustiças... E o meu corpo, como a Terra, também dói as vezes: a cabeça, as pernas, os braços, o estômago... é matéria perecível, sujeita ao desgaste. E na dor que o corpo sente, a alma se educa. E também se educa com as dores morais. Um dia eu deixo a Terra. Um dia eu deixo o corpo. Ambos ficarão para trás, como alvos onde atiro os dardos de minhas lembranças. Aí, continuarei levado nas asas do tempo, talvez não mais estranhando o meu mundo exterior.

domingo, 9 de março de 2008

Ponderações sobre a busca do conhecimento da Verdade II

Buscar a compreensão do Princípio de tudo, sentido-fim, questão primeira da Filosofia tradicional, isto é, buscar o conhecimento do Uno, tão bem conceituado por Plotino na elaboração dos princípios do Neoplatonismo, é tarefa que exige profundo poder de abstração. Todavia, jamais será possível saber perfeitamente o que seja o Uno, a Verdade iniciadora e mantenedora de tudo o que há. O Uno, aqui entendido como a Verdade, apenas pode ser sondado por meio de aproximações e negativas. Santo Agostinho é que recomendou o uso das negativas; escreveu ele o que segue: "Se não podeis compreender agora o que é Deus, compreendei ao menos o que Ele não é (...)".
Na busca do Uno ou da Verdade, a nosso ver, necessário se faz a aliança conceitual entre Filosofia, Religião e Ciência. Cada uma das quais deve habilitar a outra.

terça-feira, 4 de março de 2008

Ponderações sobre a busca do conhecimento da Verdade

Há uma Verdade maior, que está na gênese da organização, do sentido e da finalidade de tudo o que há. Há uma tendência, guardada nos recônditos da alma de cada ser humano, a qual nos movimenta em direção ao conhecimento dessa Verdade, que é absoluta por si só e que a tudo abarca e o tudo, a meu ver, é a composição infinita dos elementos das realidades perceptíveis e imperceptíveis, materiais e imateriais. Em alguns Homo sapiens moderno, essa tendência em buscar o conhecimento da Verdade jaz estacionada. Em outros, encontra-se em pleno movimento. Os derradeiros os defino como iniciados, havendo graus vários de iniciação.
É de se supor - e a nossa intimidade nos fornece os elementos que não são meras impressões ou representações de idéias pré-concebidas - que a organização do universo com tudo o que o faz universo, não é obra do acaso ou do caos. É o universo concebido e fundamentado por meio de uma hiperinteligência. Hiperinteligência porque não há nenhuma outra inteligência que a rivalize ou que ao menos seja comparável em algum dos seus aspectos delineadores com ela, a suprema inteligência, não acessível em sua essência constituinte aos mecanismos de compreensão da limitada racionalidade humana; inteligência indízivel.
Nos seres humanos onde jaz em estado de apatia a tendência para o conhecimento da Verdade por trás da organização do universo, é de se notar uma preocupação direcionada mais aos aspectos materiais e imediatos da vida do que aos aspectos metafísicos. O mediato é desprezado. O destino do ser e os propósitos de sua existência no universo são questionamentos ignorados do ponto de vista da investigação filosófica individual. Muitos promovem uma busca de respostas estimulada, todavia adstrita e fomentada por alguns sistemas religiosos de massa, cuja fundamentação dos princípios, considerando o seu processo constitutivo e as bases sobre as quais se assenta a sua manutenção, não sói como o resultado de uma elaboração fundamentada nas vigas do pensamento racional e filosófico. São religiões que não se sustentam - a não ser pela fé cega - quando encaram de frente um exame racional mais acurado.
Sim. Pode a religião, admitida aqui como veículo de busca do conhecimento da Verdade real, emburtir-se de elementos racionais na composição de sua estrutura conceitualísca. Um novo termo - que não religião - soaria melhor para designar esses sistemas, também religiosos, mas que contém, essencialmente, elementos de filosofia e de ciência. Há sistemas tais disponíveis para análise. A lógica aponta para as suas convergências.

sábado, 1 de março de 2008

Ensaiando

Inconsciência.

A seu turno as flores da noite
Exalam uma constelação de olores
No espaço que foge de mim
Como a água das mãos.
Alhures, bem alhures,
Minha Inconsciência flui
Na inconsistência dos nimbos
Que passeiam as chuvas
Sobre as cabeças desavisadas da Terra.
E de volta a crosta, ela se precipita
Amalgamada à tempestade
Que atravessa os vastos campos da noite.
Onde um cavalo insólito galopa
Com as patas em lama encharcadas
Vai também minha Inconsciência
Indomada, insana, desesperada
Romper os véus da noite
Refrigerar-se nas teias do vento frio
Que sopra rumores vindos de muito longe.
Percorre caminhos insondáveis
Curte as trilhas de fogo
Na noite interminável que se esparge
Fazendo o mundo em caverna.
A noite esconde o verde das colinas
Cobertas nas extensões em sombras.
Apenas os ruídos místicos dos animais da noite
Ecoam no vasto mundo à fora
Gelando espinhas de medo,
Excitando os nervos distendidos.
E minha Inconsciência chega à galope e se perde
Nos ângulos fechados da floresta
Onde tensos rituais refletem,
Na opalina claridade lunar,
O calor de desejos inauditos.
Há canibais devorando Inconsciências
E a minha foge, ainda mais louca,
Serperteando venenosamente a mata
Seguindo vacilante o caminho das águas.
Encontra tesouros perdidos
Amuletos, moedas, ossos
Ruínas, cocares, destroços
Entre as pedras lentamente sufocadas pelo tempo.
Eis que erguida, minha Inconsciência sobe
Os degraus de sangue de velha pirâmide
Que vela o Sol das alturas
Através do olhar de Chac Mol.
E lá repousa cansada
E fatigada e fustigada,
Dos deslocamentos movidos à loucura
Que passa ao largo dos anjos.


Teresina-PI, 29.02.2008.