Recordo que cresci testemunhando o equivocado entendimento de que escrever em diário era "coisa de menina". Na minha infância e adolescência, a bem pouco tempo havidas, esse era um hábito comum entre muitas de minhas colegas. Nunca vi um só amigo que cultivasse esse costume. Os meninos tinham outras coisas a que ligavam mais importância: jogar bola, andar de BMX ou de Caloi, jogar no "jurássico" e saudoso Atari 2600, entre outras atividades ditas "próprias" de meninos. Eu também gostava dessas coisas e as fazia. Entretanto, também sempre senti vontade de externar impressões sobre o meu mundo interior e o que via acontecer ao meu redor. Mas eu não tinha diário como as meninas. Penso que essa vontade pode ser explicada, dentre outras coisas, pelo fato de que eu era (e ainda sou) uma pessoa muito sensível. Sensível como as meninas, apesar de menino. Aliás, sensibilidade é um dos predicados que, em muitos casos, diferencia substancialmente o homem da mulher e que vem a ser digna de louvor, da nossa parte. Não que não existam homens sensíveis, isso não existe: todos os homens são sensíveis, uns em menor, outros em maior grau. Esse meu impulso para expressar o mundo muitas vezes me deixava introspectivo: outra característica que possuo. Naquela época, minhas colegas usavam o meio material: diários com páginas cor de rosa, ponteados por flores e recheados de segredos. Se elas ainda escrevem hoje, talvez tenham trocado o meio físico pelo virtual. Como as coisas mudaram, como muita coisa está transformada de uns tempos pra cá e isso, em muitos casos, chega a ser espantoso. A minha estréia no hábito de "escrever em diário", representa a satisfação de antigo desejo. Realizo-o hoje, através desse Blog. Isso não é, nem nunca foi, "coisa de menina".
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