Cantado em prosa e verso, do limiar dos tempos até agora; musicado, rimado com dor, humor, eis o amor, a substância da vida. Não confundir com paixão, o estopim de um poderoso coquetel químico que, uma vez circulante por nossos vasos - e isso é muito comum principalmente na adolescência - libera substâncias vaso-constrictoras, que dão aquela sensação de aperto no coração, como quando acontece quando se vê o desejado parceiro ou parceira. Amor e paixão distoam, são notas muito diferentes na composição sublime da existência humana. Ponho em relevo as sábias palavras do Apóstolo do Gentios, quando sentenciou que "o amor é santo, mas a paixão é venenosa". Parece que esse axioma distancia esses dois sentimentos, ao revelar a natureza de cada um deles. Não se mata por amor, mas se mata por paixão, paixão violenta. Nesses casos se vê de modo cristalino como a paixão degenera e facilmente cede campo para sentimentos inferiores, tais como o ciúme. A paixão arrebata a criatura humana a sensações incomuns que muitas vezes furtam ao apaixonado a consciência plena de sua realidade circundante, alçando-o a momentos oníricos, em que tal criatura não raro envida ações que fogem totalmente à sua conduta habitual, levando-o a lances de vida que outras pessoas jamais pensariam que o apaixonado fosse capaz de experimentar. As aventuras fora do casamento são um exemplo clássico das consequências de uma paixão indomável. Importa notar que as paixões não são perenes. Não existem reações químicas intermináveis. É por isso que se costuma dizer que os apaixonados acordam de seus sonhos e dão de cara com a realidade: é aí que param para pensar no que foram capazes de fazer e não raro estranham seus comportamentos se perguntando: como pude fazer isso ou aquilo? A maioria das pessoas que diz estar amando está, em verdade, apaixonada. Bastam dois ou três dias de namoro (ou seria "ficação) para que um diga ao outro: "Ah, como eu te amo..." sem realamente avaliar a verdadeira dimensão do significado do amor. São expressões do gênero: "Você é minha alma gêmea..." que uma convivência de mais alguns dias diluirá pela ação das evidentes diferenças entre um e outro. Ai será a vez de entrar outras expressões: "Foi bom enquanto durou...", "Não está rolando mais aquela química entre nós...", "Você não é mais o(a) mesmo(a)..." Observando a vida depois de 28 invernos, seis deles sob matrimônio, arriscaria asseverar que o amor - falo aqui do amor entre homem e mulher - comumente, na maioria dos casos, é o rebento dos dias de convivência...é algo que se atinge, que se conquista com o passar dos dias... é um estado de consciência reflexo do amadurecimento emocional de dois seres que caminham juntos na mesma estrada cotidiana. Galhos diferentes, mas com a mesma raiz, são os amores de pai, de mãe, de irmãos, de amigos. Sentimento perene o amor, tão sublimemente cantado por Camões nos Lusíadas, tão simplesmente definido por Miramez como a "reunião de todo o bem".
sábado, 28 de julho de 2007
quinta-feira, 12 de julho de 2007
O homem é o lobo do homem
A violência não é fenômeno atual. Sabemos que é tão velha quanto a própria espécie humana. Para os que crêem no que está escrito no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, o Éden teria testemunhado o primeiro crime, a primeira violência, logo um fatricídio. Mas, hodiernamente, atravessamos momentos muito difíceis com relação a esse aspecto que cada vez mais, como uma bola de neve, vem recrudescendo e assombrando a nossa nação. O homem é o lobo do homem. Todos os outros animais, quando atacam outros, tal predadores que são, é porque isso está programado em sua bagagem genética. É algo inato, que lhes faculta a própria natureza de seres dotados de inteligência irracional. Eles não são capazes de julgar, obedecem a instintos. Estão acima do bem e do mal, pois não sabem distingui-los. Tudo se encerra na problemática vital da sobrevivência no seu habitat. O homem não. Como criatura ímpar no reino animal, único a possuir inteligência racional, pode distinguir o bem do mal. É sozinho na "selva" quanto a capacidade de formação e aplicação de valores morais. É o único animal que pode decidir sobre a conveniência de se atacar outro, inclusive um da sua própria espécie. E é também o único a agir com requintes de crueldade. Pela inteligência o homem, em tese, deveria ser capaz de dominar os seus instintos, de agir com base na razão. Infelizmente, isso não acontece com todos aqueles que praticam a violência, seja ela qual for. Percebo, com um amálgama de tristeza, desolação e indignação, que o Brasil enfrenta a pior crise de violência de toda a sua história de pouco mais de cinco séculos. Vejo um aparelho estatal incapaz de apresentar respostas eficientes à insegurança reinante no país. O pior: é patente que segurança pública não é prioridade para o atual governo. Duvidas? Pesquise os investimentos aplicados em segurança pública no último quinqüênio. Vide as polícias da maioria das unidades federadas: desaparelhadas, destreinadas e com agentes de segurança muito mal pagos para lidar com tarefa tão perigosa. Aonde pensam que estamos vivendo? O que pensam que está acontecendo todos os dias nas ruas? Estão alheios... Falta iniciativa política. Dessa forma estamos todos reféns. Reféns do homem, esse animal perigoso que rouba, estupra, sequestra, mata. Deus nos guarde a todos.
domingo, 1 de julho de 2007
Pobre cão
Dentre as verborragias silabadas pelas pessoas, quando preferem recorrer à violência dos gritos ao invés de triunfar com a sabedoria das palavras, está uma que fere a dignidade do canis lupus:
- Seu cachorro!
Tal expressão deveria ser utilizada para se elogiar alguém. Dentre todos os cães que conheci em minha vida, todos eram dotados de predicados que, resguardadas as diferenças relativas à espécie nessa comparação, muitos seres humanos não têm. Talvez seja por isso que ele foi premiado com a mais justa das antonomásias aplicadas aos seres inteligentes irracionais: "melhor amigo do homem". Nunca soube de um cão que não fosse fiel e leal ao seu dono... Dessa forma, porque carregar o nome desse animal tão especial com essa carga pejorativa injusta?
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