Que os cães são mesmo animais especiais, isso é consabido. Temos uma relação muito próxima com essas adoráveis criaturas de Deus. Não à toa surgiu o adagio: "cão, o melhor amigo do homem". Outro dia transitava, de carro, por uma rua de um bairro próximo de minha casa. As primeiras estrelas faíscavam no céu. Com o automóvel em movimento e, a baixa velocidade, vi um cãozinho vira-lata deitado bem no meio da rua. O local tinha pavimentação poliédrica mas, inobstante a isso, o bichinho parecia descansar tão confortalvelmente naquele início de noite, como se estivesse numa suntuosa casinha de cachorro. Diminui ainda mais a velocidade, pra eliminar qualquer chance de atropelar aquele branco animalzinho, focinho cor preta, pelo ralo. Com o carro já quase parado, o pequeno amigo, como se soubesse que eu estava pedindo passagem, ergueu-se, sem alarido e, de forma humilde e tranquila, capengando de uma pata, deixou a via livre para a minha passagem. Tudo natural, como se fosse gente humana a desobstruir a via pública; mas não, não era, era um cãozinho, mas muito mais cortês do que muitos motoristas que já vi no trânsito e que, por muito pouco, mais por muito pouco mesmo, perdem a paciência com o próximo e aí, então, dando vazão a impulsos menos felizes, agressivos, buzinam e buzinam e xingam; ficam zangados, ofendem, esquecendo que temos de ser gentis no trânsito, como em todos os outros lances da vida e esquecendo, também, de que tudo o que começa com raiva, geralmente termina em vergonha.
Emblemático
Abordagem multitemática da realidade
segunda-feira, 26 de julho de 2010
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Bons ventos
Não poderiam as tuas três dezenas de dias passarem ao largo de alguma menção de minha parte. Teus dias tangenciam o imo de minha alma. Estamos na metade do caminho e os sopros com que nossas faces afagas, são bálsamos nesses dias cansativos. Um refrigério às almas esse tempo por estes ventos semeado... Brandura é o que os ares percorre. Brandas também as noites sem suor, onde desliza o sono ininterruptamente até a alvorada, quando as pipas, em pleno vôo no ar, colorindo o céu e o sorriso das crianças na crosta, brincam ao teu alvedrio ao sabor das brisas marotas que sustentam asas.
sábado, 20 de março de 2010
Em vez de nimbos no céu, soçobra calor, muito calor. Até que já tinha testemunhado o rigor do sol outras vezes, mas o que espécie me causa é que, para essa época do ano, isso se afigura absolutamente incomum. É fato consabido: em toda esquina ou calçada se observa a fartura de comentários sobre o assunto. As reclamações escorrendo junto com o suor do corpo. Fadiga nas alturas! Mas não é o clima que está maluco, como costumeira e errôneamente se julga: a humanidade é que não cuida de casa e apesar de seu trato com a Natureza ser "coisa de louco", reputo apenas como coisa de relapsos e irresponsáveis.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Estes tempos
O pó dos sonhos
Na sina dos ventos
Que espraiam o tempo
Precipitou-se no abismo
Onde jazem perdidos
Desejos insanos.
Na imensidão
De tamanho incogitável
Viaja o derradeiro brilho
Das esferas sepultadas
No passado longínquo.
A turba
Disso não se apercebe.
Alguém conhece
As profundas razões do ser?
Alguém já mergulhou
Nos estreitos desse mar
E trouxe as respostas à tona?
Não estamos à toa
Mas enquanto tudo passa
E se mostra e se repassa
Ainda nem entendemos o nascer
Do sol a revelar as verdades
Das manhãs diárias:
Deixamos que se vá
Simplesmente que se vá
Na bruma dissipada
Na razão estrangulada
No amor encarcerado
Nas grades do adorado...
Metal.
Por todos os lugares:
Bússolas desconcertadas
(Des)norteiam...
Embarcações desfarolizadas
Ao léu do céu no mar.
Nos templos
Hinos humanos
Cantados em letras
De sentidos avessos
Exaltam verdades sectárias:
Navalhas na alma
Almas na lama
Sangrando
As dores destes tempos
Gestadas por elas mesmas.
Na sina dos ventos
Que espraiam o tempo
Precipitou-se no abismo
Onde jazem perdidos
Desejos insanos.
Na imensidão
De tamanho incogitável
Viaja o derradeiro brilho
Das esferas sepultadas
No passado longínquo.
A turba
Disso não se apercebe.
Alguém conhece
As profundas razões do ser?
Alguém já mergulhou
Nos estreitos desse mar
E trouxe as respostas à tona?
Não estamos à toa
Mas enquanto tudo passa
E se mostra e se repassa
Ainda nem entendemos o nascer
Do sol a revelar as verdades
Das manhãs diárias:
Deixamos que se vá
Simplesmente que se vá
Na bruma dissipada
Na razão estrangulada
No amor encarcerado
Nas grades do adorado...
Metal.
Por todos os lugares:
Bússolas desconcertadas
(Des)norteiam...
Embarcações desfarolizadas
Ao léu do céu no mar.
Nos templos
Hinos humanos
Cantados em letras
De sentidos avessos
Exaltam verdades sectárias:
Navalhas na alma
Almas na lama
Sangrando
As dores destes tempos
Gestadas por elas mesmas.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Frase de efeito
"Tudo o que começa com raiva, acaba em vergonha"
E como a verdade resplandece imperiosa nessa feliz frase de Benjamin Franklin.
Ensaio sobre a Realidade - I
O que vem a ser a realidade? Permanecemos tão concentrados vivendo conforme tudo o que nos rodeia se apresenta, que olvidamos a necessidade da importância de se fazer as necessárias reflexões que esse questionamento suscita. Em vez disso, mergulhamos profundamente num mundo regido pelos sentimentos que derivam dessa realidade, daí surgindo, por sua vez - e açambarcando a maioria das individualidades viventes - uma espécie de acomodação que obsta no espírito humano o imperativo de se pensar sobre se essa realidade, com suas instituições, valores e culturas, é verdadeiramente real. Dessa forma, a sociedade humana se integra dentro de uma zona de acomodação, isto é, vive segundo uma espécie de conformismo, ao aceitar tudo o que compõe a realidade material e a superestrutura dela consequente, tal como se apresentam, sendo que tal noção se constrói permanentemente perpassando as diferentes épocas históricas, fazendo parte do imaginário coletivo. Por óbvio, existiram e existem aqueles que passaram a buscar uma conceituação mais apurada da realidade e, nesse exercício de pensamento, deixaram essa zona de acomodação e teceram teorias respeitáveis acerca da realidade. Retroceda-se à Antiguidade Clássica e se encontrará em Platão, talvez, o mais emblemático e pujante desses pensadores da realidade.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Os meninos
Em verdade, uma menina e um menino. Os dois, os meninos da casa, a criançada, do barulho, da bagunça, do choro, do corre pra lá e do corre pra cá. Se bem que hoje em dia, tudo isso se aplica mais a ele que a ela, que é até quieta: menina mesmo, sensível, feminina, doce, terna, carinhosa, educada, gentil, justa... e é melhor parar por aqui e não dizer mais os predicados dela, pois alto é o risco de ser considerado suspeito para atribuí-los, já que sou o papai. O menino, bem, até os dois meses ele dormia e deixava dormir: de lá pra cá, é ele quem manda nas noites, o imperador noturno, dono da cama, donde me expulsou definitivamente, setenciando-me ao fundo de uma rede armada num canto frio do quarto. Mas eis que ele também reina de dia: alegre, um nada tímido menino, sorridente, brincalhão, dançarino, forte, carinhoso, comunicativo, ativo até demais da conta. São duas jóias do tesouro que tenho, duas jóias cujo brilho é luz que dá um sentido especial à vida.
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