segunda-feira, 6 de julho de 2009

Reminiscências - Parte I

Aquela pergunta distoou absolutamente dos propósitos do jantar. E não apenas porque trazia na sua vibração toda a intensidade de um questionamento inesperado. Foi feita com coragem, de chofre, olhos nos olhos e comunicava um sentimento de incompreensão com um estado de coisas que poderia ser totalmente diferente. Comunicava também ternura e inocência.
A fisionomia do interlocutor repercutiu todo o espanto provocado pela indagação. Buscava ele um local com os olhos, de soslaio, mas não o encontrava. Ele nunca olhava nos olhos de ninguém nos momentos decisivos. Buscava sempre evadir-se, para não confrontar-se com os problemas mais delicados e substanciais, de sua responsabilidade direta.
- Por que o senhor faz isso com a gente? Balbuciou a criança, movida pelo sentimento de sua causa, a qual compartilhava com sua mãe e seus dois irmãos. A mãe não se encontrava no recinto enquanto os dois irmãos sim e os mesmos pareciam indiferentes àquela pergunta, enquanto estavam à mesa. O jovem senhor não soube e nem pôde responder. Houvera sido impactado, nunca supunha que seu filho varão fosse lhe surpreender ali, naquela noite, acomodado diante daquela mesa como tantas outras vezes havia acontecido.
Sua resposta foi o silêncio, mas um silêncio conturbado, como se evidenciava na sua inquietude indisfarcável, manifesta em seus olhos intranquilos nas órbitas e em cada músculo palpitante do seu rosto, que empalidecera. O garoto não era capaz de imaginar que o silêncio que obtivera como resposta à sua pergunta iria simbolizar o primeiros de muitos, que marcaria o modo de agir de seu pai durante muitos anos.

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