segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Tipos de amigos
Existem os amigos que valorizam a sua pessoa e há aqueles que valorizam a sua posição.
sábado, 13 de dezembro de 2008
Na sorveteria
Outro dia estava numa sorveteria com minha família quando vi um homem encostar sua bicicleta pelada e incolor em frente ao estabelimento. Tratava-se de um jovem; todavia, a pele queimada de sol, as mãos grossas, a cabeleira dura como se estivesse petrificada de pó, os olhos fundos e o semblante profundamente abatido não casavam com a pujança da vitalidade que se espera e que é normal para uma pessoa naquela fase da vida. O rapaz se aproximou e, com um gesto humilde (quase reverente), pediu licença para me falar. Evidentemente consenti e passei a escutá-lo com atenção. Disse que estava ali pedindo um auxílio, pois se deslocara de um bairrro distante para o nosso bairro, a fim de vender esterco para o pessoal que trabalha na horta comunitária do Dirceu Arcoverde. Ele estava ali, na minha frente, rogando de mim uma ajuda em dinheiro, porque a venda não houvera sido boa: busquei a bicicleta e dela pendiam dois sacos da dita matéria orgânica aproveitada como fertilizante natural. Fabiano era como se chamacva aquele rapaz que não estava em mendicância: disse-se um homem casado, pai de três filhas, morador suburbano de Teresina e que estava enfrentando graves dificuldades de ordem material; era, enfim, um pobre trabalhador brasileiro, ou melhor, um trabalhador brasileiro pobre. Quem estava diante de mim era um homem que narrava, entre o desespero e o pesar, a fome de sua inocente descendência, a doença implacável que consumia lentamente a vida de um irmã agonizante a quem dera abrigo em sua choupana. Apenas uma alma cega, surda ou de pedra não se sensibilizaria com aquela visão e o apelo que emanava daquelas palavras, emitidas numa espécie de desespero silencioso, mas transbordante daquele cidadão do Brasil. Senti um aperto, uma vontade de chorar, uma dor daquelas "na alma". Todavia essa dor subjetiva não se aproximava da dor que ele estava sentindo naquela tarde escaldante na Chapada do Corisco: dor amalgamada à cansaço, desilusão e suor e com um forte tempero de desesperança; dor evidente, estampada em cada ângulo do seu semblante achacado pela vida e vilipendiado draconianamente pelo destino. Senti essa dor porque procurei entendê-lo em sua dor. Imagine a dor de quem está na pele dele. Ver um filho pedir um presente e não poder satisfazê-lo em seu desejo é difícil, quiçá testemunhar a fome dos filhos e ver que o grande esforço que se faz para saná-la resulta no pouco ou muito pouco que caracteriza a situação de miséria. A mente menos incauta poderá pensar: e o Bolsa Família? E os outros programas sociais do Governo Federal e das administrações locais (estadual e federal). Cada caso é um caso. Cada família tem as suas necessidades, os problemas que aparecem repentinamente e que demandam dinheiro que não sobra ou que já tinha sido aplicado na satisfação inadiável de uma necessidade crucial. Desejei sorte a Fabiano, enquanto minha alma vibrava um misto de compaixão e culpa. Não se assute: eu disse c-u-l-p-a, com todas as letras. Como podemos ajudar na construção de um mundo socialmente mais justo se cada um de nós se mostrar indiferente com a miséria de nossos irmãos de humanidade, como se o problema estivesse a milhas de nós e não fosse nosso? Se todos fazemos parte do mesmo "contrato social" então somos culpados e urge que o contrato seja revisto. Desejei boa sorte ao Fabiano, enquanto pedia mentalmente a intercessão divina por ele e sua família. Antes de ir, ele deixou o seu telefone e disse que se eu soubesse de uma oportunidade de emprego que eu desse essa chance a ele, indicando-o. Tomou então sua bicicleta e perdeu-se ao dobrar a esquina, levando a sua dor e deixando a reflexão que externo com esse texto.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
Falta algo
Falta alguma coisa na vida. Algo essencial. Algo que não se relaciona à materialidade de uma existência corpórea passageira, mas que está além, muito além dela. Sem esse algo, não se pode "ser" em plenitude, não se pode atingir o equílibrio interior. Têm-se que buscar, para se achar...
Finalmente
Parece que a estação chuvosa (oh! bendita estação chuvosa!) começou. A diminuição do calor e a elevação da umidade do ar causam um impacto sadio na gente: aumenta o ânimo, recrudesce a disposição...parece que o espírito se renova, rejuvenesce. Finalmente vou poder fazer cooper sem ficar com aquela sensação de falta de ar, com a garganta tão seca como um rio de sertão. Finalmente vou colher a brisa fria da noite na sacada do meu apartamento, vislumbrando as estrelas, como costumo fazer nas noites de inverno. E se vierem coriscos e trovões e rajadas de vento? Eu me escondo embaixo do lençol sobre a minha cama, exatamente como fazia na aurora da minha vida. Seja bem-vindo, período invernoso. Saúdo o coaxar dos sapos que me saúdam e que deixam o úmido das tocas para caçar os insetos noturnos! Saúdo o orvalho matinal que embebeda de encanto as folhas e flores e frutos das árvores. Saúdo a vida mais vida do inverno!
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
...
Nada importa ao desalentado
Que sai pela porta
Triste, calado
Com seu peito que encerra
Sua dor
A dor do mundo
Na tarde quente
Que banha o corpo
De suor profundo
Nada importa ao desalentado
Nem a chama morta
Nem a cruz do Corcovado
A espada sem bainha
É a rainha
Do seu desejo tresloucado!
Nada importa ao desalentado
Que segue no sereno
Tristemente machucado:
Nem a flor assando no asfalto
Nem a dor do cobalto!
Nada importa ao desalentado...
...
Nada importa ao desalentado
Que sai pela porta
Triste, calado
Com seu peito que encerra
Sua dor
A dor do mundo
Na tarde quente
Que banha o corpo
De suor profundo
Nada importa ao desalentado
Nem a chama morta
Nem a cruz do Corcovado
A espada sem bainha
É a rainha
Do seu desejo tresloucado!
Nada importa ao desalentado
Que segue no sereno
Tristemente machucado:
Nem a flor assando no asfalto
Nem a dor do cobalto!
Nada importa ao desalentado...
...
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