Que os cães são mesmo animais especiais, isso é consabido. Temos uma relação muito próxima com essas adoráveis criaturas de Deus. Não à toa surgiu o adagio: "cão, o melhor amigo do homem". Outro dia transitava, de carro, por uma rua de um bairro próximo de minha casa. As primeiras estrelas faíscavam no céu. Com o automóvel em movimento e, a baixa velocidade, vi um cãozinho vira-lata deitado bem no meio da rua. O local tinha pavimentação poliédrica mas, inobstante a isso, o bichinho parecia descansar tão confortalvelmente naquele início de noite, como se estivesse numa suntuosa casinha de cachorro. Diminui ainda mais a velocidade, pra eliminar qualquer chance de atropelar aquele branco animalzinho, focinho cor preta, pelo ralo. Com o carro já quase parado, o pequeno amigo, como se soubesse que eu estava pedindo passagem, ergueu-se, sem alarido e, de forma humilde e tranquila, capengando de uma pata, deixou a via livre para a minha passagem. Tudo natural, como se fosse gente humana a desobstruir a via pública; mas não, não era, era um cãozinho, mas muito mais cortês do que muitos motoristas que já vi no trânsito e que, por muito pouco, mais por muito pouco mesmo, perdem a paciência com o próximo e aí, então, dando vazão a impulsos menos felizes, agressivos, buzinam e buzinam e xingam; ficam zangados, ofendem, esquecendo que temos de ser gentis no trânsito, como em todos os outros lances da vida e esquecendo, também, de que tudo o que começa com raiva, geralmente termina em vergonha.